Untitled - Biotecnologia
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mente em função dos volumes de<br />
descartes observados em algumas<br />
das regiões produtoras do Sul do<br />
Brasil. Contudo, análises mais<br />
detalhadas neste contexto constituem<br />
uma tarefa difícil, devido à<br />
carência de registros estatísticos<br />
oficiais relativos aos valores de<br />
biomassa residual da indústria vitivinícola<br />
do Sul do Brasil.<br />
Embora esse tipo de biomassa<br />
seja biodegradável, é necessário<br />
um tempo mínimo para ser mineralizada.<br />
A maioria dos subprodutos<br />
vegetais, rejeitos das indústrias<br />
de alimentos, são pobres em<br />
nutrientes como proteínas e vitaminas,<br />
o que não acontece com os<br />
resíduos provenientes do bagaço<br />
de uva (película, semente e engaço).<br />
Assim, surge a perspectiva de<br />
utilização destes materiais para<br />
fins econômicos, com o adicional<br />
de redução dos impactos ambientais<br />
gerados pela liberação de<br />
grandes volumes de resíduos nos<br />
sistemas agrícolas (produção limpa).<br />
De fato, produtos a base de<br />
sementes de uvas, por exemplo,<br />
são utilizados há vários anos em<br />
países da Europa e nos Estados<br />
Unidos como complemento nutricional,<br />
vitamínico, na cosmética<br />
(óleo essencial) e como agentes<br />
profiláticos (antioxidantes). No<br />
Brasil, as sementes de uva já são<br />
utilizadas para a produção de adubos<br />
através da adoção de procedimentos<br />
adequados de preparo daquela<br />
biomassa. Todavia, é factível<br />
assumir a possibilidade de utilização<br />
mais nobre dos resíduos da<br />
fermentação do mosto da uva, notadamente<br />
no que se refere ao seu<br />
uso como fonte de compostos de<br />
interesse às indústrias de fitoterápicos<br />
e de complementos alimentares.<br />
Neste contexto, mais recentemente<br />
o grupo de Análise Orgânica<br />
Instrumental da Universidade Federal<br />
de Santa Catarina, em parceria<br />
com a iniciativa privada (AD<br />
Figura 2. Detalhes da estrutura química de antocianidinas e antocianinas<br />
comumente encontradas em tecidos de películas de uvas tintas 28<br />
Oceanum® Indústria e Comércio<br />
Ltda), vêm realizando estudos de<br />
caracterização química da biomassa<br />
residual proveniente da indústria<br />
viti-vinícola dos Estados do<br />
RS e SC, com vistas ao desenvolvimento<br />
de produtos fitoterápicos<br />
e complementos alimentares.<br />
Resultados preliminares obtidos<br />
pelo grupo de trabalho evidenciam<br />
a presença de concentrações<br />
apreciáveis de compostos<br />
do metabolismo primário e secundário<br />
de interesse nestes resíduos,<br />
i.e., carboidratos, sais minerais,<br />
ácidos fenólicos e antocianinas.<br />
Os dados de análises centesimais<br />
de películas pós-fermentadas<br />
demonstram o potencial de<br />
uso, ainda pouco explorado, destas<br />
biomassas para a produção de<br />
complementos nutricionais, por<br />
exemplo, devido ao seu conteúdo<br />
em sais minerais (Ca +2 eNa + )e<br />
fibras solúveis e insolúveis, sendo<br />
que as características físicoquímicas<br />
daqueles materiais variam<br />
de acordo com a cultivar de<br />
uva utilizada, conforme demonstrado<br />
na figura 1.<br />
No que se refere aos compostos<br />
do metabolismo secundário, a<br />
película da uva é uma fonte de<br />
antocianidinas e antocianinas<br />
(Fig. 2), sendo estas últimas as<br />
moléculas responsáveis pela coloração<br />
deste tecido. Estes compostos<br />
têm despertado interesse<br />
na comunidade científica devido<br />
às suas propriedades antioxidantes<br />
2,3,4,5 , inibidores de lipoperoxidação<br />
6 e antimutagênicas 6,7<br />
Análises quantitativas de antocianinas<br />
utilizando amostras de<br />
películas oriundas de frutos frescos<br />
e películas e sementes coletadas<br />
após a fermentação do mosto<br />
demonstraram concentrações significativamente<br />
superiores em<br />
amostras de películas pós-fermentadas<br />
9, 10 (Fig. 3). Tal fato sugere<br />
que o processo fermentativo do<br />
mosto corrobora, em alguma extensão,<br />
para a extração de antocianinas,<br />
haja vista o maior teor<br />
daqueles pigmentos no extrato<br />
organosolvente de películas pós-<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento - nº 29 143