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Homenagens - Academia Brasileira de Letras

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Dez anos sem Austregésilo <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong><br />

roda. Da biotecnologia à Internet, da clonagem <strong>de</strong> Dolly à instalação <strong>de</strong> uma<br />

estação espacial, o futuro já é uma parcela do presente. Sem perceber, ingressamos<br />

num mundo novo, que só será admirável na medida em que a tecnologia<br />

respeitar integralmente os valores humanos.<br />

Não é isto o que tem acontecido. A história dos últimos 55 anos <strong>de</strong>monstra<br />

exatamente o contrário: enquanto os i<strong>de</strong>alistas <strong>de</strong> 1948 pediam respeito aos<br />

postulados da Declaração, o documento foi se transformando aos poucos numa<br />

peça <strong>de</strong> literatura utópica, ignorado por quase todos os países signatários e os<br />

que <strong>de</strong>pois ingressariam na ONU. Seus 30 artigos não passam <strong>de</strong> letra-morta,<br />

enquanto guerras, prisões, maus-tratos, torturas e assassinatos por motivos políticos<br />

constituem rotina em quase todos os quadrantes do globo terrestre.<br />

No campo social, o <strong>de</strong>semprego e a falta <strong>de</strong> assistência à saú<strong>de</strong>, a pobreza e a<br />

miséria, atentados flagrantes aos direitos estabelecidos na Declaração – o primeiro<br />

<strong>de</strong>les <strong>de</strong>clara “o direito à vida” – afligem <strong>de</strong> forma endêmica mais <strong>de</strong> dois terços<br />

da Humanida<strong>de</strong>. Políticas impostas por nações po<strong>de</strong>rosas levaram os países<br />

periféricos à regressão produtiva, acompanhada pelo <strong>de</strong>saparecimento da moeda,<br />

como aconteceu recentemente em vários países da América Latina, pelo<br />

avanço da cosmopolitização dos padrões <strong>de</strong> consumo, pelo aprofundamento<br />

das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e o apartheid social. Ainda hoje, no Brasil, quando se celebra a<br />

Declaração Universal dos Direitos Humanos com belas palavras e boas intenções,<br />

todos os dias os jornais noticiam violações aos direitos humanos.<br />

Creio que não é preciso me esten<strong>de</strong>r muito sobre este assunto, porque estão<br />

registrados nas páginas dos jornais brasileiros, a cada dia, essas violações e o reconhecimento,<br />

por parte <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> que nada po<strong>de</strong>m fazer. A situação<br />

chegou a tal ponto que se transformou em profecia o texto cético do cronista<br />

Rubem Braga publicado no Diário <strong>de</strong> Notícias do Rio <strong>de</strong> Janeiro logo que chegou<br />

a notícia da assinatura da Declaração, em 1948, e do discurso proferido por<br />

Austregésilo <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong> encaminhando a votação. Escreveu então o cronista,<br />

com seu estilo inconfundível:<br />

“Eu acharia mais pru<strong>de</strong>nte escrever assim o artigo 1. o da Declaração: Criados<br />

à imagem e semelhança <strong>de</strong> Deus e do Diabo, os seres humanos nascem li-<br />

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