Homenagens - Academia Brasileira de Letras
Homenagens - Academia Brasileira de Letras
Homenagens - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
20 o Aniversário <strong>de</strong> falecimento <strong>de</strong> Alceu Amoroso Lima<br />
<strong>de</strong>scia no Havre e lia lá aquele anúncio da quinquina, que era um pouco na época o<br />
refresco que iria avançar as formas <strong>de</strong> absinto da belle époque. E ele dizia: “Olha a<br />
Quinquina”, que era a ama-<strong>de</strong>-leite <strong>de</strong> Alceu. E ele começa aí, nesse sentido, a<br />
<strong>de</strong>monstrar a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser contemporâneo. Nas suas Memórias improvisadas<br />
– e <strong>de</strong>vemos a Cícero a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter levantado também esse trabalho –<br />
Alceu, que assistiu às conferências <strong>de</strong> Bergson, que esteve ao lado <strong>de</strong> Maritain e<br />
<strong>de</strong> Léon Blois, naquele momento da aula magna da Sorbonne, dizia que Bergson<br />
o incomodava com o tamanho sucesso, com o excesso <strong>de</strong> flores, tarlatanas, envios,<br />
frutas frescas, até do Brasil, dos trópicos, dadas a Bergson, e ele um dia disse:<br />
“Afinal <strong>de</strong> contas, o que são essas pompas? Não sou uma bailarina.” Isto faz enten<strong>de</strong>r<br />
que essa vocação do discurso, da presença mais funda foi a que Alceu levanta<br />
em toda aquela sucessão <strong>de</strong> épocas, em que a metanóia prossegue. Há quase<br />
o dandismo naquele momento dos anos 20, quando um elegante, no sentido<br />
maior da palavra, se apresenta como um dançarino, naquele momento mais rigoroso<br />
da etiqueta do século passado, naqueles anos 20 dos pelintras.<br />
Evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong>ntro daquela perspectiva havia toda uma força da belle époque,<br />
<strong>de</strong> que ele era também um coreógrafo e guardava uma certa incredulida<strong>de</strong><br />
com os valores do absoluto ou das crenças mesmas. O Alceu daquele tempo<br />
vai nos <strong>de</strong>ixar uma <strong>de</strong> suas mensagens: quando digo alguma coisa, logo me pergunto<br />
o que será o seu contrário. Não afirmo sem respeitar o que, em contradita,<br />
se afigura <strong>de</strong> imediato.<br />
Eduardo Portella falou muito bem do primeiro artigo <strong>de</strong> Alceu, convidado<br />
pelo Jornal do Brasil, artigo muito claro <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa idéia <strong>de</strong> que “os compromissos<br />
se fazem pelo prazer <strong>de</strong> os <strong>de</strong>scumprir”. Era a idéia <strong>de</strong> saída do que teria<br />
que ser a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança, on<strong>de</strong> Alceu nos protagoniza, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sse<br />
momento em que <strong>de</strong>scobre os nossos mo<strong>de</strong>rnistas, graças a um terceiro<br />
Afonso Arinos – que não posso chamar <strong>de</strong> Afonso Arinos sóter, mas <strong>de</strong> Afonso<br />
Arinos tio. Alceu ia fazer uma tese sobre a torre Mournier, a última torre<br />
merovíngea <strong>de</strong>ntro do percurso do Tejo. E Afonso Arinos tio, que era um homem<br />
formidando, <strong>de</strong> bons bíceps, joga Alceu quase ao chão e lhe diz: Menino,<br />
você vai falar sobre torres merovíngeas? Vá para o seu país <strong>de</strong>scobrir a sua rea-<br />
175