Homenagens - Academia Brasileira de Letras
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20 o Aniversário <strong>de</strong> falecimento <strong>de</strong> Alceu Amoroso Lima<br />
aos católicos encontrar-se <strong>de</strong> fato com um partido realmente unificado. Nós<br />
vemos que vinte anos <strong>de</strong>pois cresce o que eu chamo <strong>de</strong> partido oculto do Dr.<br />
Alceu – aqui estão muitos dos seus membros. Mas fora esse partido, que está<br />
todo aqui reunido em gran<strong>de</strong> conselho, nós temos a <strong>de</strong>fesa absoluta do pluralismo,<br />
da diferença, do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> não encontrar nenhuma forma <strong>de</strong> maioria<br />
que pu<strong>de</strong>sse criar uma matriz <strong>de</strong> dominação <strong>de</strong> pensamento.<br />
Alceu <strong>de</strong> 50 na OEA, que vive <strong>de</strong>pois da guerra o começo das <strong>de</strong>mocracias<br />
cristãs. Em maio <strong>de</strong> 1947, quando os quatro <strong>de</strong> Montevidéu se reúnem –<br />
Alceu pelo Brasil, Manoel Ordoñez pela Argentina, Eduardo Frei pelo Chile e<br />
Dardo Regules pelo Uruguai – elaboram o documento do Movimento <strong>de</strong><br />
Montevidéu que serve <strong>de</strong> base para a criação dos partidos <strong>de</strong>mocratas-cristãos<br />
na América Latina. Alceu aceita a idéia da <strong>de</strong>mocracia cristã, mas diz: não entro<br />
em partido. Aí é que começa a carreira <strong>de</strong> Franco Montoro, como uma espécie<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>legado do próprio Alceu.<br />
É o período em que a gran<strong>de</strong> mudança continuava nesse pluralismo. É o<br />
Alceu que vai naquela metanóia cada vez mais para uma visão <strong>de</strong> esquerda,<br />
pressentindo o drama dos partidos <strong>de</strong>mocratas-cristãos, sobretudo a partir da<br />
catástrofe final da sua componente italiana, e que <strong>de</strong>ntro disso vai nos mostrar<br />
o que foi a sua presença no momento em que passa a ser “a voz das injustiças<br />
sem voz”, que naquele momento, <strong>de</strong>ntro das aulas conciliares, se transformava<br />
na frase-epíteto do Sínodo: há injustiça no mundo <strong>de</strong> hoje.<br />
É o Alceu que um mês <strong>de</strong>pois do movimento militar <strong>de</strong> 1964 fala em “terrorismo<br />
cultural”, que <strong>de</strong>nuncia as torturas e que, na seqüência <strong>de</strong>sses quadros,<br />
vai subir o Palácio das Laranjeiras, com carta em mão do Papa pedindo ao Marechal<br />
Presi<strong>de</strong>nte que pelo menos <strong>de</strong>ixe Miguel Arraes em Fernando <strong>de</strong> Noronha,<br />
não na masmorra indigna em que se encontrava em Recife. Alceu cada vez<br />
mais ampliando a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representar alguma coisa que era em si<br />
mesma sacramental. E ele me dizia uma frase que agora quero completar: eram<br />
tantos homens <strong>de</strong> esquerda <strong>de</strong>sse pensamento, que efetivamente estavam naquele<br />
momento enfrentando as piores violências, o silêncio das torturas, e que<br />
diante daquele Alceu que vinha às prisões; eu o acompanhei algumas vezes e<br />
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