Homenagens - Academia Brasileira de Letras
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20 o Aniversário <strong>de</strong> falecimento <strong>de</strong> Alceu Amoroso Lima<br />
Marcos Almir Ma<strong>de</strong>ira<br />
Alceu Amoroso Lima: alma, cérebro e lição<br />
Há vinte anos parou um coração operoso e pródigo: falecia Alceu Amoroso<br />
Lima.<br />
Tudo nele era a espontaneida<strong>de</strong> do sentimento, do que lhe ia por <strong>de</strong>ntro. Se<br />
se pu<strong>de</strong>sse falar <strong>de</strong> alma risonha e aberta, seria a <strong>de</strong>le. O homem <strong>de</strong> doutrina,<br />
<strong>de</strong> pensamento em livro, na cátedra e nas folhas da imprensa, era sempre uma<br />
projeção nítida, um reflexo cristalino da criatura exemplarmente humana, do<br />
homem maritaneamente integral. Nele as idéias – filosóficas, políticas, sociais,<br />
literárias – brotavam <strong>de</strong> uma certa ânsia, não diria <strong>de</strong> perfectibilida<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>za, dignida<strong>de</strong> e generosida<strong>de</strong> bem claras na formulação das suas teorias<br />
e da sua crítica – muito principalmente das suas propostas <strong>de</strong> rendimento moral<br />
e social; vinham sempre embebidas no óleo cristão das suas cogitações, não<br />
<strong>de</strong> moral abstrata ou formal, mas nitidamente <strong>de</strong> ética social, força viva, fator<br />
<strong>de</strong> agregação, <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e compreensão entre as criaturas.<br />
Em qualquer hipótese, a sua especulação teórica –eomais expressivo – a<br />
sua <strong>de</strong>finição ou tomada <strong>de</strong> posição política, vinham superiormente humanizadas<br />
por uma consciente obediência àquela “ordre du coeur”, <strong>de</strong> que falou o<br />
velho e sempre novo Pascal – e ele mesmo, Alceu, nos falava freqüentemente<br />
da “sabedoria do coração”. Daí o que tinham <strong>de</strong> superiormente humano ou <strong>de</strong><br />
pureza estrutural as suas homilias leigas. Daí o sentido <strong>de</strong> apelo, que afinal lhe<br />
caracteriza a pregação – não o apelo comprometido pelo tom con<strong>de</strong>natório<br />
das censuras ácidas, mas enobrecido por uma espécie <strong>de</strong> doçura conceituosa,<br />
doçura intelectual, doçura civilizada. Tudo o que ele queria era a espiritualização<br />
da vida, pela espiritualização do processo educativo, que conduzisse à liberda<strong>de</strong><br />
e à fraternida<strong>de</strong>. Em essência aspirava a uma educação em linha huma-<br />
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