Homenagens - Academia Brasileira de Letras
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Afonso Arinos, filho<br />
os problemas centrais da Igreja. A Assembléia Constituinte redigia a Constituição<br />
<strong>de</strong> 1934, e Alceu, em nome da Liga Eleitoral Católica, visava traduzir em<br />
dispositivos constitucionais as suas reivindicações. Aí se revelou claramente, nas<br />
Indicações políticas por ele apresentadas, a preocupação com que se fizesse justiça<br />
aos menos favorecidos: “A economia é a organização metódica dos bens materiais<br />
<strong>de</strong> um povo, para a satisfação das necessida<strong>de</strong>s humanas. A economia individualista<br />
também faliu, porque se baseou na livre concorrência e no lucro ilimitado,<br />
em vez <strong>de</strong> se basear na organização racional e na satisfação das necessida<strong>de</strong>s.<br />
A economia, portanto, existe para o serviço do ser humano.”<br />
Em 1935, Alceu Amoroso Lima seria eleito para a <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Letras</strong>. Evaristo <strong>de</strong> Moraes Filho, seu sucessor, disse que ele foi “o maior <strong>de</strong><br />
todos nós. [...] Ninguém mais representativo <strong>de</strong>sse humanismo – quer na crítica<br />
literária, quer no pensamento social, quer na pregação política ou na prática<br />
religiosa.”<br />
Ao apoiar Franco na Guerra Civil Espanhola, em 1938, Alceu estava convencido<br />
<strong>de</strong> que, lá, a vitória fascista representaria a vitória da Igreja. Mas tomou<br />
conhecimento, então, das posições <strong>de</strong> Jacques Maritain, com o seu Humanisme<br />
intégral, e <strong>de</strong> Georges Bernanos, cujo passado <strong>de</strong> a<strong>de</strong>pto da direita francesa<br />
se dissolvera com os horrores da luta armada na Espanha e as atrocida<strong>de</strong>s da<br />
repressão, por ele refletidas em Les grands cimetières sous la lune. O mesmo Bernanos<br />
que, solicitado a autografar o álbum <strong>de</strong> uma filha sua, escreveu estas palavras<br />
admiráveis, que traduzo: “Quando releres estas linhas, senhorita, daqui a<br />
muitos anos, ofereça um pensamento e uma oração ao velho escritor que crê<br />
cada vez mais na impotência dos po<strong>de</strong>rosos, na ignorância dos doutores, na tolice<br />
dos Maquiavéis, na incurável frivolida<strong>de</strong> das pessoas sérias. Tudo o que há<br />
<strong>de</strong> belo na história do mundo se fez à revelia <strong>de</strong> todos pelo acordo misterioso<br />
da paciência humil<strong>de</strong> e ar<strong>de</strong>nte do homem com a doce pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.”<br />
Essa reavaliação o traria <strong>de</strong> volta às convicções da mocida<strong>de</strong>: “O fato <strong>de</strong><br />
acreditar na liberda<strong>de</strong> acima da autorida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acreditar na <strong>de</strong>mocracia acima<br />
das oligarquias ou das autocracias, <strong>de</strong> acreditar na liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento<br />
acima do dirigismo intelectual, não implicava nenhum conflito com minhas<br />
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