Homenagens - Academia Brasileira de Letras
Homenagens - Academia Brasileira de Letras
Homenagens - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Augusto Paulino Netto<br />
Já médico, nos trabalhos pessoais era muito regular, com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interrompê-los<br />
quando necessário e reencetá-los <strong>de</strong>pois, às vezes dias após, no<br />
mesmo ponto em que haviam sido interrompidos, sem quebra <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>.<br />
Conversador fino e inteligente, amável e <strong>de</strong>licado, capaz <strong>de</strong> manter uma<br />
conversação com qualquer tipo <strong>de</strong> interlocutor em harmonia com os interesses<br />
<strong>de</strong> cada um. Seu espírito alerta mantinha o raciocínio sempre ativo.<br />
Dele dizia seu irmão Álvaro: “Miguel, a sua prosa é muito brilhante e interessante,<br />
mas fatiga. Quando você me <strong>de</strong>ixa, estou cansado <strong>de</strong> pensar...”<br />
Decidiu estudar medicina aos quinze anos incompletos, quando freqüentava<br />
o curso preparatório para a Escola Politécnica. Compreen<strong>de</strong>u<br />
nessa época que seus preparativos para estudar engenharia eram somente<br />
para satisfazer seus pais. Sua mãe, à mesa do jantar lhe disse: “Você po<strong>de</strong><br />
escolher a profissão que bem enten<strong>de</strong>r.” Respon<strong>de</strong>u ele: “O engenheiro em<br />
sua vida profissional <strong>de</strong>ve mandar ou ser mandado. Não tenho talento para<br />
uma coisa ou outra.”<br />
Em seu curso médico, verificou que a curiosida<strong>de</strong> impediu seus estudos<br />
como médico prático. Conta ele em seu discurso <strong>de</strong> posse na <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> Nacional<br />
<strong>de</strong> Medicina: “A primeira vez que penetrei em uma enfermaria <strong>de</strong> clínica<br />
médica e cursava eu meu quarto ano, um assistente <strong>de</strong> então fazia a <strong>de</strong>monstração<br />
<strong>de</strong> um fenômeno patológico: era o reflexo <strong>de</strong> Babinski. Um ano e pouco<br />
<strong>de</strong>pois, publicava eu o meu primeiro trabalho científico sobre esse fenômeno.<br />
Passara todo o tempo estudando esse reflexo, pesquisando as questões correlatas,<br />
lendo tudo que se havia escrito sobre o assunto.” Seus <strong>de</strong>veres escolares<br />
sofreram. Quando se formou em 1911, conhecia a fundo alguns problemas<br />
extremamente especializados mas ignorava completamente as questões mais<br />
corriqueiras da prática médica. “Como ser médico nessas condições?”, dizia a<br />
ele, “On<strong>de</strong> achar tempo para completar minha instrução profissional, se os<br />
problemas sem solução se acumulavam diante <strong>de</strong> mim e me pareciam mais exigentes<br />
que nunca?”<br />
Sua curiosida<strong>de</strong> fez com que ele se <strong>de</strong>dicasse à pesquisa, <strong>de</strong>ixando a medicina<br />
prática e disso nunca se arrepen<strong>de</strong>u. Em 1916 fez brilhante concurso para a<br />
238<br />
Augusto Paulino Netto