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Homenagens - Academia Brasileira de Letras

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20 o Aniversário <strong>de</strong> falecimento <strong>de</strong> Alceu Amoroso Lima<br />

– seria o núcleo da condição humana, num sentido evi<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> um homem<br />

oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Estando em Paris, na famosa convivência <strong>de</strong>le com Jacques Maritain e Bergson,<br />

ele presenciou o momento em que Jacques Maritain renunciou a Bergson,<br />

<strong>de</strong> quem era discípulo, e enveredou pelo neotomismo. Acredito que foi nesse<br />

momento que Alceu Amoroso Lima começou a perceber, <strong>de</strong> uma forma talvez<br />

um pouco ainda intuitiva, que o tomismo foi o núcleo da Ida<strong>de</strong> Média, ou seja,<br />

uma transposição da filosofia <strong>de</strong> Aristóteles que teria sido o núcleo do pensamento<br />

filosófico da Antiguida<strong>de</strong>.<br />

A tendência <strong>de</strong> Alceu foi muito linear, muito clara, muito transparente. Ele<br />

adotou então o catolicismo no sentido <strong>de</strong> kathos, <strong>de</strong> universal. Ele procurou a<br />

forma <strong>de</strong> captar o homem na sua essência, no seu núcleo, a aí ele teve que aceitar,<br />

digamos assim, o lado confessional da religião, e tornou-se evi<strong>de</strong>ntemente<br />

um católico fervoroso, como muitos daqui o são. Mas Alceu foi um homem<br />

que sempre buscou alguma coisa além do catolicismo, ou seja, ele tentou perceber,<br />

<strong>de</strong>ntro do catolicismo, as verda<strong>de</strong>iras raízes que davam ao homem a sua<br />

dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser no mundo, embora ainda não tivesse completamente pronto<br />

o seu laboratório pensamental.<br />

Eu disse há pouco que ele foi um torturado. Diria que a gran<strong>de</strong> tortura <strong>de</strong><br />

Alceu foi que ele não era nem poeta nem romancista. Daí então ele pô<strong>de</strong> pesquisar<br />

a literatura brasileira com uma ótica muito própria, a ótica <strong>de</strong> um homem<br />

que não tinha condições – ele achava que não tinha condições – <strong>de</strong> ser<br />

nem poeta nem romancista. Mas quem lê a sua obra percebe, em dois livros<br />

<strong>de</strong>le, que ele foi exatamente um gran<strong>de</strong> romancista e até certo ponto um gran<strong>de</strong><br />

poeta. Em A voz <strong>de</strong> Minas ele conseguiu captar o núcleo da mineirida<strong>de</strong>, do<br />

homem mineiro: Guimarães Rosa, Cornélio Pena, Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, o<br />

Afonso Arinos <strong>de</strong> Pelo sertão, que foi uma admiração <strong>de</strong>le muito gran<strong>de</strong>. Ou<br />

seja, ele não escreveu um romance, mas enten<strong>de</strong>u o romance. É impossível enten<strong>de</strong>r<br />

hoje um Guimarães Rosa, um Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, um Lúcio Cardoso,<br />

um Cornélio Pena, sem ler A voz <strong>de</strong> Minas.<br />

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