Homenagens - Academia Brasileira de Letras
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Carlos Heitor Cony<br />
Carlos Heitor Cony*<br />
“A criança renasce a cada manhã.” Depois <strong>de</strong> tantos pronunciamentos brilhantes,<br />
neste plenário, sinto e <strong>de</strong>ixo no ara uma frase que catei <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong><br />
Alceu Amoroso Lima, que aliás é um pouco esquecido, Ida<strong>de</strong>, sexo e tempo. Mais<br />
tar<strong>de</strong> voltarei a essa frase.<br />
Todos os <strong>de</strong>poimentos aqui, como eu disse, foram brilhantes. Eu queria<br />
também dar o meu, mais um <strong>de</strong>poimento pessoal do que propriamente literário<br />
ou cultural. Antes <strong>de</strong> mais nada, não consi<strong>de</strong>ro Alceu Amoroso Lima um<br />
católico no sentido tradicional da palavra. Ele não buscou o catolicismo como<br />
uma confissão religiosa. Ele passou a vida toda atormentado pela nuclearida<strong>de</strong><br />
do homem, pela essência do homem. Daí ele não pô<strong>de</strong> ser nem <strong>de</strong> esquerda,<br />
nem <strong>de</strong> direita e nem muito menos <strong>de</strong> centro, porque o centro é uma forma, até<br />
certo ponto oportunista <strong>de</strong> quem não tem idéia nenhuma.<br />
Alceu procurou sempre o núcleo. Ele entendia esse núcleo <strong>de</strong> maneira pessoal,<br />
nos <strong>de</strong>svarios <strong>de</strong>le <strong>de</strong> mocida<strong>de</strong>, um <strong>de</strong>les a famosa cena que Murilo<br />
Melo Filho há pouco relembrou, em que neste mesmo plenário ele carregou nos<br />
braços Graça Aranha, cujo oponente na ocasião era Coelho Neto. Mas quem<br />
ler os Estudos <strong>de</strong> Tristão <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong> sente que ele não tinha nenhuma admiração<br />
pessoal por Graça Aranha, mas tinha por Coelho Neto, e <strong>de</strong>ixou páginas<br />
memoráveis <strong>de</strong> estudo não só dos seus romances, mas sobretudo da gran<strong>de</strong><br />
arte <strong>de</strong> oratória que foi Coelho Neto.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, ainda num arroubo <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>, ele apoiou inicialmente a ditadura<br />
<strong>de</strong> Franco, como foi também lembrado aqui por Afonso Arinos. Ele estava<br />
procurando ainda, nessa época, o núcleo do ser humano. E isso é o que o levou<br />
à religião, porque ele achou que o cristianismo – não exatamente o catolicismo<br />
* Depoimento transcrito <strong>de</strong> gravação, sem a revisão do autor.<br />
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Carlos Heitor Cony