Capa Crianças 2003.cdr - Observatório Brasileiro de Informações ...
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...............................72...............................Capítulo 3..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................Os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e a situação <strong>de</strong> rua:uma distância a ser transpostaFoi evi<strong>de</strong>nciada, em todas as capitais pesquisadas, a fragilida<strong>de</strong> dos serviços<strong>de</strong> atenção às crianças e aos adolescentes em situação <strong>de</strong> rua, bem como adificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> encaminhamento para tratamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência e outros problemas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Essa dificulda<strong>de</strong> é tão presente que, embora não tenha sidoalvo central da pesquisa, foi observada em todas as abordagens do estudo, ouseja, no próprio levantamento, no mapeamento das instituições e na conversacom os profissionais.Ao serem questionados sobre as tentativas <strong>de</strong> parar ou reduzir o consumo<strong>de</strong> alguma droga, dos 2.247 entrevistados que respon<strong>de</strong>ram, 1.244 afirmaramjá ter tentado (Tabela 21), dos quais 696 relataram ter tentado sozinhos. Maspara aqueles que consi<strong>de</strong>raram ter tido alguma ajuda, as instituições <strong>de</strong> assistênciaa essa população foram as principais referências. Os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>foram mencionados por apenas 19 (0,7%) entrevistados, <strong>de</strong>monstrando a enormedistância entre a situação <strong>de</strong> rua e os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nas capitais brasileiras.Essa distância, no entanto, não é peculiarida<strong>de</strong> brasileira, uma vez quetem sido observada em outros países. Parecem entrar em questão várias barreiras,como a <strong>de</strong>scrença dos jovens em relação aos profissionais da saú<strong>de</strong>, apouca familiarida<strong>de</strong> com os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e, no sentido inverso, os preconceitosdos profissionais em relação à situação <strong>de</strong> rua, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permissão<strong>de</strong> familiares para algumas intervenções, entre outros (Geber, 1997).Além disso, muitos profissionais entrevistados relataram não se sentir aptospara encaminhar e/ou lidar com o uso <strong>de</strong> drogas, indicando a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> capacitação para tais procedimentos. É importante que os educadores conheçamas complicações e os comportamentos <strong>de</strong> riscos mais comuns, bemcomo saibam i<strong>de</strong>ntificar as diferenças entre uso, abuso e <strong>de</strong>pendência. Os casos<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, por exemplo, <strong>de</strong>mandam encaminhamentos mais específicose, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da situação, um período <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintoxicação supervisionado.Os casos <strong>de</strong> uso esporádico, quando necessário, <strong>de</strong>mandam outros tipos <strong>de</strong>abordagens. A orientação segura e o encaminhamento a<strong>de</strong>quado são aspectosbásicos para a efetivida<strong>de</strong> das intervenções.A a<strong>de</strong>são do <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ao tratamento é uma das gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s.No que se refere especificamente aos jovens em situação <strong>de</strong> rua, um estudoconduzido por Smart e Ogborne (1994) sugere índices ainda mais elevados <strong>de</strong>abandono ao tratamento, <strong>de</strong>correntes, especialmente, da carência <strong>de</strong> estruturasocial/familiar característica <strong>de</strong>ssa população. No entanto, outros estudos mostramque, em situações específicas, a chance <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rência aumenta, como, porexemplo, quando a intervenção é oferecida em momentos <strong>de</strong> crise, como amorte <strong>de</strong> um amigo, uma doença grave ou uma situação violenta. Essas situações<strong>de</strong>sestruturam o equilíbrio da situação <strong>de</strong> rua e favorecem o oferecimento<strong>de</strong> alternativas. Essas intervenções <strong>de</strong>vem ocorrer muito rapidamente, antesque o equilíbrio se reinstale (Auerswald & Eyre, 2002). Daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>uma ampla re<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência extremamente eficiente e ágil, adaptada às características<strong>de</strong>ssa população.O Projeto Quixote (São Paulo) e o Consultório <strong>de</strong> Rua (Salvador), anteriormentemencionados, são dois projetos brasileiros que se <strong>de</strong>stacam pela partici-