O interesse maior estaria na terceira onda, na qual ingressamos com atraso <strong>de</strong><strong>de</strong>z anos. Quanto aos problemas <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>riam a sua consolidação (em termospermanentes, é claro, o que estamos longe <strong>de</strong> havermos alcançado, consi<strong>de</strong>rada a questãodo ângulo institucional), temos conseguido tangenciar os dois problemas iniciais (tortura equestão pretoriana), embora o PT <strong>de</strong>senvolva ingentes esforços para nos meter nesseatoleiro, do qual não se sabe em que condições sairíamos. A reforma que Castelo Brancointroduziu nas Forças Armadas, limitando o tempo <strong>de</strong> permanência no generalato eimpondo o afastamento dos que escolham a política partidária, reduziu gran<strong>de</strong>mente aingerência militar na vida da República. Presentemente, passadas pouco mais <strong>de</strong> duasdécadas <strong>de</strong> abertura, a opinião pública não revela maior interesse em saber quem é oComandante do Exército, situação impensável no ciclo que a prece<strong>de</strong>u e mesmo nos anosoitenta. Entretanto, se nos dispusermos a nos voltarmos inteiramente para o passado,ninguém sabe qual seria o <strong>de</strong>sfecho.As duas outras questões (“intensida<strong>de</strong> dos problemas conjunturais” e“possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> florescer uma cultura favorável à <strong>de</strong>mocracia”) constituem o nossocalcanhar <strong>de</strong> Aquiles. Senão, vejamos.Em gran<strong>de</strong> parte do ciclo posterior à abertura política --notadamente entre 1985e 1994--, os problemas conjunturais atuaram <strong>de</strong> modo intenso --sobretudo inflaçãogalopante que chegou a assumir caráter <strong>de</strong> hiperinflação--, fenômeno que se fezacompanhar do crescente <strong>de</strong>sprestígio da elite política tradicional. De certa forma, oproblema viu-se agravado pela péssima qualida<strong>de</strong> dos emergentes, alheios a quaisqueroutros valores além do clássico patrimonialismo, isto é, uso da coisa pública em benefíciopróprio.O governo da abertura política herdou um processo inflacionário que durava hápelo menos <strong>de</strong>z anos. Nesse período, ao invés <strong>de</strong> implementar as providências requeridaspara eliminar o déficit público e, sobretudo, a prática <strong>de</strong> financiá-lo pela emissão <strong>de</strong>moeda, buscou-se aperfeiçoar os mecanismos <strong>de</strong> convivência com esse estado <strong>de</strong> coisas.Progressivamente a correção monetária --isto é, reposição automática da <strong>de</strong>svalorização –passou a ser utilizada nas diversas transações. A correção automática dos <strong>de</strong>pósitosbancários talvez tivesse se constituído no principal anestésico. Em certas camadas dasocieda<strong>de</strong>, chegou a criar a ilusão <strong>de</strong> que estavam obtendo ganhos monetários.Tendo sido eleito para vice-presi<strong>de</strong>nte, oriundo do partido que tradicionalmentesustentara os governos militares, ao assumir o governo à vista da morte do Presi<strong>de</strong>nte eleito(Tancredo Neves, prócer oposicionista), José Sarney carecia <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong>. Assim, não sesentiu em condições <strong>de</strong> praticar o mínimo <strong>de</strong> austerida<strong>de</strong>, dada a impopularida<strong>de</strong> dasmedidas que teria <strong>de</strong> adotar. Fechou os olhos ao aumento da <strong>de</strong>spesa pública. No seuprimeiro ano <strong>de</strong> governo (1985), tendo assumido em março, em fins <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a inflaçãochegou 225,7%.No início <strong>de</strong> 1986, supondo que seu governo estivesse consolidado, José Sarneyconstituiu Ministério próprio (o anterior havia sido <strong>de</strong>signado por Tancredo Neves) eadotou uma providência <strong>de</strong>sastrada: introduziu congelamento <strong>de</strong> preços, através dochamado Plano Cruzado. O nome provinha do fato <strong>de</strong> que o país passava a dispor <strong>de</strong> umanova moeda (cruzado). Além do congelamento <strong>de</strong> preços, os salários foram reajustados.Criou-se um clima <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> euforia. Como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, durou poucos meses.Mas o tempo suficiente para permitir que o PMDB praticasse o que então se chamou <strong>de</strong>“estelionato eleitoral”. Nas eleições <strong>de</strong> 1986, elegeu governadores em 21 estados, enquantoo PFL apenas um (Sergipe). Tornou-se o partido majoritário na Constituinte, então eleita,1 0
obtendo. 53,4% das ca<strong>de</strong>iras na Câmara dos Deputados. Logo instalou hegemoniaincontrastável sobre a elaboração constitucional.Depois das eleições, tornara-se flagrante a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m instaurada na economiabrasileira pelo Plano Cruzado. Diante do fracasso, Sarney lançou-se numa outra aventura, amoratória da dívida externa que trouxe problemas adicionais com investidores estrangeirose, em geral, no fechamento das contas externas.Parece legítimo atribuir-se à incapacida<strong>de</strong> governamental <strong>de</strong>monstrada por essegoverno ao primeiro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste experimentado pela classe política tradicional.Realizaram-se eleições presi<strong>de</strong>nciais em 1988. O último pleito direto para eleger-se oPresi<strong>de</strong>nte da República tinha sido realizado em outubro <strong>de</strong> 1960, tendo a campanha das“diretas já”, pouco antes da abertura <strong>de</strong> 1985, <strong>de</strong>monstrado sua imensa popularida<strong>de</strong>.Inscreveram-se como candidatos as figuras mais representativas da elite política --sobrevivente do interregno <strong>de</strong>mocrático 1945/1964 ou formada sob os militares. Entre esteso lí<strong>de</strong>r do PMDB, que tivera o <strong>de</strong>sempenho antes apontado nas eleições parlamentares <strong>de</strong>dois anos antes, <strong>de</strong>putado Ulisses Guimarães. Concorrendo às eleições como representanteda legenda, obteve menos <strong>de</strong> 5% dos votos (4,74%). Todas as li<strong>de</strong>ranças tradicionaisficaram abaixo <strong>de</strong> duas figuras sem qualquer tradição partidária, Collor <strong>de</strong> Melo e opresi<strong>de</strong>nte do PT (Luís Inácio da Silva).Eleito no segundo turno, Collor <strong>de</strong> Melo revelou-se um <strong>de</strong>sastre em matéria <strong>de</strong>gestão financeira e corrupção. Acabou apeado do po<strong>de</strong>r por impeachment.Nos períodos governamentais subseqüentes (1994/2010), emergiram, doisgovernantes não pertencentes à classe política tradicional (Fernando Henrique Cardoso eLuís Inácio da Silva). Tiveram em comum a manutenção da conquista representada pelaestabilida<strong>de</strong> monetária, resultado do Plano Real aplicado em 1994. Reduziu-se o déficitpúblico e organizou-se a dívida pública, permitindo a eliminação das emissões<strong>de</strong>scontroladas.Tudo leva a crer que as eleições presi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong> 2010 serão um teste paraverificar-se a permanência ou a superação do impacto da “intensida<strong>de</strong> dos problemasconjunturais” na consolidação da <strong>de</strong>mocracia. O teste em apreço <strong>de</strong>verá consistir no<strong>de</strong>sempenho que venham a ter, nesse pleito, candidatos testados em cargos importantes doExecutivo (em especial governadores). Se continuar a rejeição por esse contingente da elite,teriam que ser buscadas outras causas para o assustador <strong>de</strong>sapreço, instaurado no país, tantopelos políticos como pelo Parlamento.O outro obstáculo à consolidação <strong>de</strong>mocrática (permanência na terceira onda ouregresso ao mo<strong>de</strong>lo tradicional, a<strong>de</strong>rindo ao refluxo que <strong>de</strong>sponta claramente na maioriados países situados na América do Sul), apresentado por Huntington, conforme foiindicado, cifra-se na “possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> florescer uma cultura favorável à <strong>de</strong>mocracia”.1 1
- Page 2 and 3: 2A N T O N I O P A I MA QUESTÃO DE
- Page 4 and 5: 4A P R E S E N T A Ç Ã OA q u e s
- Page 6: 6v e r i f i c a r q u e n ã o h
- Page 9: comprova que a ingerência militar
- Page 13 and 14: 1 3PAPEL DA CULTURA DEMOCRÁTICA E
- Page 15 and 16: em sucedido a ponto da nova forma d
- Page 17 and 18: 1 7A relevância da noção de inte
- Page 19 and 20: 1 9sociedade que se disporá a defe
- Page 21: 2 1a primeira tentativa de implanta
- Page 24 and 25: Portanto, a solidariedade que as at
- Page 26 and 27: uma elite. Há também o chamado po
- Page 28 and 29: 2 8ELENCO DAS RAZÕES PELAS QUAIS A
- Page 30 and 31: 3 0detrimento dos acionistas. A gra
- Page 32 and 33: 3 2sejam obrigados a enfrentar ques
- Page 34 and 35: 3 4As nuanças nas correntes social
- Page 36 and 37: 3 6ocorrido na Europa, oportunidade
- Page 38 and 39: Mostra, em primeiro lugar, que a he
- Page 40 and 41: 4 0Muitos analistas atribuem ao sis
- Page 42 and 43: 4 2fascinação magnética, que lhe
- Page 44 and 45: 4 4(7) Não tendo chegado a ser edi
- Page 46 and 47: 4 6Os Tigres Asiáticos e a moral c
- Page 48 and 49: 4 8Outra pesquisa que aponta para a
- Page 50 and 51: 5 0consultei, objetam a essa restri
- Page 52 and 53: 5 2FANTASIAS SOBRE A DEMOCRACIA ATE
- Page 54 and 55: esolvidos por arbitragem, a interve
- Page 56 and 57: 5 6I N C O N S I S T Ê N C I A D A
- Page 58 and 59: 5 8j u s t i f i c a ç ã o d o p
- Page 60 and 61:
6 0I g n o r a n d o s o l e n e m
- Page 62 and 63:
6 2g e n e r a l i z a ç ã o d e
- Page 64 and 65:
l a c r è m e d e l a b u r e a u
- Page 66 and 67:
6 6C h e g a - s e a s s i m à g r
- Page 68 and 69:
6 8i n t e g r a n t e s . É e v i
- Page 70 and 71:
7 0c u l t u r a d o s p a í s e s
- Page 72 and 73:
7 2R e p ú b l i c a d e We i m a
- Page 74 and 75:
7 4C o m u n i d a d e A t l â n t
- Page 76 and 77:
t e x t o i n t r o d u t ó r i o
- Page 78 and 79:
f i n s d a d é c a d a d e o i t
- Page 80 and 81:
8 0A meu ver, uma componente que, d
- Page 82 and 83:
8 2à o c u p a ç ã o n a z i s t
- Page 84 and 85:
8 4P a r t i d o %C a d e i r a sd
- Page 86 and 87:
G r a ç a s a s u c e s s i v a s
- Page 88 and 89:
8 8m u d a n ç a s e x p e r i m e
- Page 90 and 91:
9 0C o m o d e r e s t o n o s d e
- Page 92 and 93:
9 2A s a g r e m i a ç õ e s r e
- Page 94 and 95:
9 4C o m e f e i t o , e n t r e 1
- Page 96 and 97:
9 6j u s t a m e n t e o q u e l e
- Page 98 and 99:
9 8A n oT a x a d e d e s e mp r e
- Page 100 and 101:
1 0 0que sete governos. Todas as re
- Page 102 and 103:
1 0 2A E s q u e r d a U n i d a c
- Page 104 and 105:
1 0 4O s e g u n d o p a r t i d o
- Page 106 and 107:
1 0 6A p a r d i s t o , d i s t i
- Page 108 and 109:
1 0 8consubstanciada no slogan “m
- Page 110 and 111:
1 1 0p r o g r e s s i v o a b a n
- Page 112 and 113:
1 1 2m e s m o a n o , p r o c e d
- Page 114 and 115:
1 1 4Pó; aproximadamente 10 milhõ
- Page 116 and 117:
1 1 6a s s i m a t u a r c o n t i
- Page 118 and 119:
1 1 8s u p e r a d o o i n t e r r
- Page 120 and 121:
1 2 0C D S 4 9 8 9 7T O T A I S 9 3
- Page 122 and 123:
1 2 2d i v i d i d o e n t r e o s
- Page 124 and 125:
1 2 4E m q u e p e s e p o s s a o
- Page 126 and 127:
1 2 6T c h e c a , E s l o v á q u
- Page 128 and 129:
1 2 8a ) O e s f a c e l a me n t o
- Page 130 and 131:
1 3 0N o c a s o d a B ó s n i a -
- Page 132 and 133:
1 3 2d a R e p ú b l i c a , e m s
- Page 134 and 135:
1 3 4O n ã o r e c o n h e c i m e
- Page 136 and 137:
1 3 6D e s o r t e q u e , n o p r
- Page 138 and 139:
1 3 8( 1 9 5 3 ) , H o d j a r e c
- Page 140 and 141:
1 4 03 . A c o mp l e x a e x p e r
- Page 142 and 143:
1 4 2( c a s o d a T c h e c o s l
- Page 144 and 145:
1 4 4s o b a l i d e r a n ç a d e
- Page 146 and 147:
1 4 6c o m p r o p o s t a s v o l
- Page 148 and 149:
1 4 8d e n ú n c i a d e q u e S t
- Page 150 and 151:
1 5 0c o m u n i s t a s e o u t r
- Page 152 and 153:
1 5 2f o r m a l m e n t e d e d i
- Page 154 and 155:
1 5 4N a s e l e i ç õ e s p a r
- Page 156 and 157:
1 5 6o u t r a s i n i c i a t i v
- Page 158 and 159:
1 5 8Q u a n d o o c o r r e u o f
- Page 160 and 161:
1 6 0P a r l a m e n t o E u r o p
- Page 162 and 163:
1 6 2T e m i a - s e q u e a q u e
- Page 164 and 165:
1 6 4M o v i m e n t o L i b e r a
- Page 166 and 167:
1 6 6s e r i a p r e v i s í v e l