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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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1 6Natureza e papel do conflito socialO a<strong>de</strong>quado entendimento da natureza e da inevitabilida<strong>de</strong> doconflito social na mo<strong>de</strong>rna socieda<strong>de</strong> industrial correspon<strong>de</strong> a um dosgran<strong>de</strong>s avanços registrados pela doutrina liberal. Essa aquisição seria<strong>de</strong>vida a Ralf Dahrendorf (1929/2009). Alemão <strong>de</strong> nascimento, radicou-sena Inglaterra on<strong>de</strong> foi Reitor da London School of Economics e distinguidopara integrar a Câmara dos Lor<strong>de</strong>s. Autor <strong>de</strong> extensa bibliografia, diversos<strong>de</strong> seus livros foram traduzidos no Brasil, entre estes Socieda<strong>de</strong> eLiberda<strong>de</strong>. A nova Liberda<strong>de</strong>; O Liberalismo na Europa e A Revolução naEuropa, este último a propósito da <strong>de</strong>rrocada do mundo comunista.Importante contribuição encontra-se na obra As classes sociais e seusconflitos na socieda<strong>de</strong> industrial.Nos países <strong>de</strong> língua inglesa, teve gran<strong>de</strong> influência a sociologia<strong>de</strong> Talcott Parsons (1902/1979), <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> funcionalismo. A par dasinegáveis contribuições que proporcionou, ao preconizar que a socieda<strong>de</strong>tendo ao equilíbrio, compensando-se as funções dos diversos sistemas,estimulou comportamentos conservadores, notadamente a atribuição <strong>de</strong>caráter patológico ao conflito e à divergência. Este tipo <strong>de</strong> postuladoentrava naturalmente em contradição com a vida <strong>de</strong>mocrática americana,estimuladora da diversida<strong>de</strong>, do pluralismo e portanto da divergência.Assim, sobretudo neste pós-guerra, a sociologia <strong>de</strong> língua inglesa começa ainteressar-se por temas que, <strong>de</strong> certa forma, haviam sido abandonados pelofuncionalismo, agregados todos sob a rubrica da mudança social.Buscando inserir-se no âmago da discussão suscitada pelofuncionalismo, Dahrendorf pô<strong>de</strong> estabelecer que o conflito é parteinsuperável da vida em socieda<strong>de</strong>, como <strong>de</strong>svendou o seu papel, isto é, suafunção, para usar um termo empregado pela sociologia da época. Na visão<strong>de</strong> Dahrendorf, a função do conflito é permitir a criativida<strong>de</strong> e a mudança.A socieda<strong>de</strong> não compreen<strong>de</strong> apenas a continuida<strong>de</strong>. Deve dispor <strong>de</strong>mecanismos que propiciem igualmente a renovação. Assim, na sua própriaformulação, "o conflito significa a gran<strong>de</strong> esperança <strong>de</strong> uma superaçãodigna e racional da vida em socieda<strong>de</strong>".Do ponto <strong>de</strong> vista da presente caracterização, sobressai estaconclusão <strong>de</strong> Dahrendorf: "Graças às categorias da teoria do conflitopo<strong>de</strong>m-se <strong>de</strong>terminar também as diferenças clássicas existentes entre asformas estatais <strong>de</strong>mocráticas e totalitárias. Num sentido <strong>de</strong>terminado, a<strong>de</strong>mocracia e o totalitarismo não são mais que duas maneiras <strong>de</strong> tratar osconflitos sociais: o totalitarismo baseia-se na repressão (freqüentementeproclamada como solução) <strong>de</strong> conflitos; a <strong>de</strong>mocracia, na suaregulamentação. Noutro sentido, as formas <strong>de</strong>mocráticas prosperam emsocieda<strong>de</strong>s com estruturas pluralistas, com um grau <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> elevado emúltiplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> organização; os estados totalitários exigem, aocontrário, socieda<strong>de</strong>s monolíticas, nas quais um mesmo e único grupo dirigetoda a or<strong>de</strong>m institucional, socieda<strong>de</strong>s carentes <strong>de</strong> certo processo <strong>de</strong>mobilida<strong>de</strong> social e <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> coalizão". (Socieda<strong>de</strong> e Liberda<strong>de</strong>, trad.bras., Ed. UnB, 1981, p. 153).

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