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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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2 5A resposta <strong>de</strong> Bobbio aos críticos da <strong>de</strong>mocraciaAs críticas à <strong>de</strong>mocracia po<strong>de</strong>m ser agrupadas em dois gran<strong>de</strong>snúcleos. O primeiro consi<strong>de</strong>ra-o ineficaz e lento quando confrontado aosregimes autoritários. E, o segundo, na base da superestimação do fenômenoda abstenção eleitoral e atribuindo-lhe significado distorcido, acalenta asuposição da <strong>de</strong>mocracia direta. Em outras oportunida<strong>de</strong>s, tenho<strong>de</strong>monstrado a inconsistência <strong>de</strong>ssa última hipótese e espero ter aindaocasião <strong>de</strong> voltar ao tema, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> fazê-lo aqui a fim <strong>de</strong> não alongar-meem <strong>de</strong>masia.O primeiro grupo <strong>de</strong> críticas foi consi<strong>de</strong>rado por Norberto Bobbiono livro O futuro da <strong>de</strong>mocracia.Norberto Bobbio nasceu em Turim, em 1909 e faleceu no começo<strong>de</strong> 2004. Fez sua carreira universitária nas Universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Siena, Pádua eTurim, aposentando-se em 1984, ao completar 50 anos <strong>de</strong> magistério. Ogoverno homenageou-o escolhendo-o como senador vitalício, o que lhepermitiu continuar presente na vida cultural e acadêmica <strong>de</strong> seu país. Suaobra está <strong>de</strong>dicada principalmente ao direito e à ciência política. Estaúltima é que lhe proporcionou gran<strong>de</strong> audiência na Europa, nos EstadosUnidos, e, em geral no mundo latino, achando-se traduzida ao português asua parcela fundamental. Os estudiosos consi<strong>de</strong>ram que, nessa matéria, suaprincipal contribuição cifra-se no entendimento que tem proporcionado da<strong>de</strong>mocracia. O Dicionário <strong>de</strong> Política, por ele coor<strong>de</strong>nado, tornou-se obraobrigatória <strong>de</strong> referência.De certa forma, O futuro da <strong>de</strong>mocracia (1984) coroa e resume opensamento <strong>de</strong> Bobbio acerca do palpitante tema. Reúne aquele conjunto <strong>de</strong>textos nos quais amplia o exame do tema proposto, reportando-se à análise<strong>de</strong> suas características fundamentais bem como à abordagem dos temas quemais preocupam aos estudiosos, a exemplo do incremento da participaçãopolítica. O essencial <strong>de</strong> sua mensagem cifra-se, contudo, na crença nasobrevivência e nas vantagens da <strong>de</strong>mocracia. Entretanto, não se trata <strong>de</strong>nenhuma forma <strong>de</strong> profetismo.Bobbio parte da tese <strong>de</strong> que a característica básica da <strong>de</strong>mocraciaé o direito da maioria <strong>de</strong> influir na adoção daquelas regras que serãoobrigatórias para todos. Cumpre ter presente, pon<strong>de</strong>ra, que os i<strong>de</strong>aishumanos, concebidos como nobres e elevados, no processo <strong>de</strong> suarealização adquirem <strong>de</strong>terminados contornos que precisam serconstantemente avaliados, a fim <strong>de</strong> estabelecer em que medida ainda têmalgo a ver com o i<strong>de</strong>al originário. no que se refere à <strong>de</strong>mocracia, acha que<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a muitas expectativas, que <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> "promessas nãocumpridas", aparecendo também obstáculos à sua efetivação. Descreve-os,antes <strong>de</strong> avançar a avaliação conclusiva.Não sobreviveu a concepção individualista da socieda<strong>de</strong>. Escreve:"os grupos e não os indivíduos são os protagonistas da vida política numasocieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática". Ainda que a circunstância não elimine a diferençaentre regimes autocráticos e regimes <strong>de</strong>mocráticos, a <strong>de</strong>mocracia real estálonge <strong>de</strong> ser "o governo <strong>de</strong> todo o povo" na medida em que é exercido por

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