5 2FANTASIAS SOBRE A DEMOCRACIA ATENIENSEO estudo clássico é da autoria <strong>de</strong> sir Ernst Baker (1874/1960), que foiprofessor em Oxford e dirigiu o famoso King's College, <strong>de</strong> Londres. Ainda quehaja sempre insistido em que lidava com o pensamento político e não diretamentecom a prática, correspon<strong>de</strong> a referência obrigatória.O texto mais notável <strong>de</strong> si Ernst Baker intitula-se Teoria PolíticaGrega, <strong>de</strong>dicada à obra <strong>de</strong> Platão. Segue-se a edição comentada <strong>de</strong> A Política, <strong>de</strong>Aristóteles. Tratou especificamente do tema da <strong>de</strong>mocracia antiga em diversosensaios, com a modéstia que o caracterizava <strong>de</strong>sculpando-se por não haver tratadocom a mesma profundida<strong>de</strong> os autores romanos. Em suma, trata-se <strong>de</strong> umacontribuição essencial e <strong>de</strong>finitiva à a<strong>de</strong>quada compreensão do assunto.O eminente estudioso comprovou o acerto da opinião vigente no séculoXVIII - como se po<strong>de</strong> ver, por exemplo, da obra <strong>de</strong> Mostesquieu - segundo a qualo método <strong>de</strong>mocrático, para os atenienses, era o sorteio. A eleição eraconsi<strong>de</strong>rada como aristocrática. Recorda que, em conformida<strong>de</strong> com oscomentários <strong>de</strong> Aristóteles à Constituição <strong>de</strong> Atenas, "a maior parte dosfuncionários governamentais eram <strong>de</strong>signados por sorteio". Refere também oconjunto <strong>de</strong> mecanismos utilizados para avaliar o seu <strong>de</strong>sempenho a fim <strong>de</strong> quefossem os escolhidos, por aquela modalida<strong>de</strong>, mantidos na função que exerciam.A ágora (Assembléia) elegia tão somente os generais, entre estes o que <strong>de</strong>veriali<strong>de</strong>rá-los, e os encarregados dos assuntos financeiros. Dado o significado <strong>de</strong> quese revestia a <strong>de</strong>fesa, para a sobrevivência da Cida<strong>de</strong>-Estado, do mesmo modo quea boa saú<strong>de</strong> financeira, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que dispunha a Assembléia era certamentesignificativo. Entretanto, isto, por si só, não permite que se invoque o exemplo<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia direta, a ser seguido, que Atenas representaria.Outro aspecto que impe<strong>de</strong> qualquer i<strong>de</strong>alização da <strong>de</strong>mocraciaateniense diz respeito ao direito <strong>de</strong> voto. Ernst Baker assinala que Aristótelesaprova-o na medida em que prevaleça a vonta<strong>de</strong> da maioria, "mas que seja umamaioria <strong>de</strong> indivíduos que também sejam proprietários da maioria dos bensmateriais". Estando as mulheres excluídas do mesmo modo que os escravos, osque participavam da Assembléia eram <strong>de</strong> fato uma elite, ainda que numerosa, semdúvida. (1) Além disto, os assuntos submetidos à sua <strong>de</strong>liberação eram filtrados,aspecto que, assinalado pelo mestre inglês, viria a ser aprofundado na obraadiante referida.No que se refere ao funcionamento das instituições atenienses, isto é,da experiência concreta que não foi objeto <strong>de</strong> estudo da parte <strong>de</strong> Ernst Baker,
dispõe-se <strong>de</strong> análises fartamente documentadas. Acham-se mencionadas na obraPríncipe du governement représentatif (Paris, Flamarion, 1996), <strong>de</strong> BernardManin. Vamos nos limitar a resumir as indicações contidas na monumental obrado estudioso dinamarquês M. H. Hansen, em seis volumes, <strong>de</strong>dicada à vidapolítica ateniense no século IV, por consi<strong>de</strong>rar mais abundante a documentaçãodisponível, mas <strong>de</strong>stacando os traços surgidos na centúria anterior. (2)A administração propriamente dita, equivalente ao que em nosso tempocorrespon<strong>de</strong>ria ao Executivo, ficava a cargo <strong>de</strong> 700 magistrados, 600 dos quaisprovidos por sorteio. Os vencedores <strong>de</strong>veriam entretanto aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>terminadasqualificações, geralmente simples formalida<strong>de</strong>. Em contrapartida, havia todo origor no exame da prestação <strong>de</strong> contas. Estavam sujeitos aos tribunais em caso <strong>de</strong>queixas dos cidadãos. Como os preten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>viam apresentar-se para o sorteio,as exigências enumeradas reduziam substancialmente o número <strong>de</strong> candidaturas.Esse primeiro grupo cujos membros eram <strong>de</strong>nominados magistrados,não exercia po<strong>de</strong>r político maior. Antes <strong>de</strong> tudo, eram administradores eexecutivos. Instruíam os dossiers, com base nos quais as instâncias que <strong>de</strong>cidiamtraçavam as tarefas que lhes incumbia realizar. O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisõesachava-se distribuído em outras instâncias.No plano administrativo, o po<strong>de</strong>r supremo era constituído por um órgão<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Conselho (Boulé) adiante caracterizado. No que respeita às leis <strong>de</strong>caráter geral, a <strong>de</strong>cisão ficava a cargo da Assembléia. Porém, gran<strong>de</strong> parte damatéria submetida à sua consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>stinava-se apenas a ser ratificada, comose referirá adiante. Em suma, os magistrados tinham po<strong>de</strong>r limitado.Acima das magistraturas incumbidas da administração encontrava-se oConselho, que contava com 500 membros igualmente selecionados por sorteio. Oscandidatos <strong>de</strong>veriam ter mais <strong>de</strong> trinta anos e, no curso da vida, somentepo<strong>de</strong>riam integrá-lo por duas vezes. Dispunha <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> privilégios, entreos quais a exclusivida<strong>de</strong> no julgamento <strong>de</strong> seus próprios membros. Cada uma das139 circunscrições com que contava Atenas (chamadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>mes (3) sorteavacandidatos a ocupar os cargos a que tinham direito na instituição.O Conselho era a mais alta magistratura, cabendo-lhe selecionar einstruir as questões a serem submetidas à Assembléia, no que dizia respeito àadministração. Alguns <strong>de</strong>sses projetos eram encaminhados em forma conclusiva.Estima-se que meta<strong>de</strong> das <strong>de</strong>cisões da Assembléia constituíam simples referendos<strong>de</strong> disposições do Conselho. Este tinha a incumbência <strong>de</strong> representar a cida<strong>de</strong>,recebendo as embaixadas estrangeiras. Exercia igualmente importantes funçõesmilitares, inclusive a administração da frota marítima que constituía a expressãomáxima do po<strong>de</strong>rio militar <strong>de</strong> Atenas. Também controlava os administradores,razão pela qual ocupava uma posição central no governo ateniense.Contudo, dispunha <strong>de</strong> maior relevância na vida da cida<strong>de</strong> um gruposocial, também escolhido por sorteio, <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> heliastes. Os candidatos aosorteio tinham não apenas que ser maiores <strong>de</strong> trinta anos como dispor <strong>de</strong> algumconhecimento em matéria <strong>de</strong> conhecimento das tradições constitucionais dacida<strong>de</strong> porquanto incumbia-lhes atuar tanto como juízes como instância política.Consi<strong>de</strong>rados mais sábios e dotados <strong>de</strong> maior experiência, tinham aprerrogativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir questões submetidas à Assembléia sempre que estivessemreferidas à aplicação da justiça em matérias das quais inexistia jurisprudência.Neste grupo social consi<strong>de</strong>rado superior é que se recrutava, também por sorteio,os membros dos tribunais populares.Os tribunais populares enfeixavam gran<strong>de</strong> soma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Emrealida<strong>de</strong>, exerciam funções políticas <strong>de</strong>cisivas. Sendo os litígios privados5 3
- Page 2 and 3: 2A N T O N I O P A I MA QUESTÃO DE
- Page 4 and 5: 4A P R E S E N T A Ç Ã OA q u e s
- Page 6: 6v e r i f i c a r q u e n ã o h
- Page 9 and 10: comprova que a ingerência militar
- Page 11 and 12: obtendo. 53,4% das cadeiras na Câm
- Page 13 and 14: 1 3PAPEL DA CULTURA DEMOCRÁTICA E
- Page 15 and 16: em sucedido a ponto da nova forma d
- Page 17 and 18: 1 7A relevância da noção de inte
- Page 19 and 20: 1 9sociedade que se disporá a defe
- Page 21: 2 1a primeira tentativa de implanta
- Page 24 and 25: Portanto, a solidariedade que as at
- Page 26 and 27: uma elite. Há também o chamado po
- Page 28 and 29: 2 8ELENCO DAS RAZÕES PELAS QUAIS A
- Page 30 and 31: 3 0detrimento dos acionistas. A gra
- Page 32 and 33: 3 2sejam obrigados a enfrentar ques
- Page 34 and 35: 3 4As nuanças nas correntes social
- Page 36 and 37: 3 6ocorrido na Europa, oportunidade
- Page 38 and 39: Mostra, em primeiro lugar, que a he
- Page 40 and 41: 4 0Muitos analistas atribuem ao sis
- Page 42 and 43: 4 2fascinação magnética, que lhe
- Page 44 and 45: 4 4(7) Não tendo chegado a ser edi
- Page 46 and 47: 4 6Os Tigres Asiáticos e a moral c
- Page 48 and 49: 4 8Outra pesquisa que aponta para a
- Page 50 and 51: 5 0consultei, objetam a essa restri
- Page 54 and 55: esolvidos por arbitragem, a interve
- Page 56 and 57: 5 6I N C O N S I S T Ê N C I A D A
- Page 58 and 59: 5 8j u s t i f i c a ç ã o d o p
- Page 60 and 61: 6 0I g n o r a n d o s o l e n e m
- Page 62 and 63: 6 2g e n e r a l i z a ç ã o d e
- Page 64 and 65: l a c r è m e d e l a b u r e a u
- Page 66 and 67: 6 6C h e g a - s e a s s i m à g r
- Page 68 and 69: 6 8i n t e g r a n t e s . É e v i
- Page 70 and 71: 7 0c u l t u r a d o s p a í s e s
- Page 72 and 73: 7 2R e p ú b l i c a d e We i m a
- Page 74 and 75: 7 4C o m u n i d a d e A t l â n t
- Page 76 and 77: t e x t o i n t r o d u t ó r i o
- Page 78 and 79: f i n s d a d é c a d a d e o i t
- Page 80 and 81: 8 0A meu ver, uma componente que, d
- Page 82 and 83: 8 2à o c u p a ç ã o n a z i s t
- Page 84 and 85: 8 4P a r t i d o %C a d e i r a sd
- Page 86 and 87: G r a ç a s a s u c e s s i v a s
- Page 88 and 89: 8 8m u d a n ç a s e x p e r i m e
- Page 90 and 91: 9 0C o m o d e r e s t o n o s d e
- Page 92 and 93: 9 2A s a g r e m i a ç õ e s r e
- Page 94 and 95: 9 4C o m e f e i t o , e n t r e 1
- Page 96 and 97: 9 6j u s t a m e n t e o q u e l e
- Page 98 and 99: 9 8A n oT a x a d e d e s e mp r e
- Page 100 and 101: 1 0 0que sete governos. Todas as re
- Page 102 and 103:
1 0 2A E s q u e r d a U n i d a c
- Page 104 and 105:
1 0 4O s e g u n d o p a r t i d o
- Page 106 and 107:
1 0 6A p a r d i s t o , d i s t i
- Page 108 and 109:
1 0 8consubstanciada no slogan “m
- Page 110 and 111:
1 1 0p r o g r e s s i v o a b a n
- Page 112 and 113:
1 1 2m e s m o a n o , p r o c e d
- Page 114 and 115:
1 1 4Pó; aproximadamente 10 milhõ
- Page 116 and 117:
1 1 6a s s i m a t u a r c o n t i
- Page 118 and 119:
1 1 8s u p e r a d o o i n t e r r
- Page 120 and 121:
1 2 0C D S 4 9 8 9 7T O T A I S 9 3
- Page 122 and 123:
1 2 2d i v i d i d o e n t r e o s
- Page 124 and 125:
1 2 4E m q u e p e s e p o s s a o
- Page 126 and 127:
1 2 6T c h e c a , E s l o v á q u
- Page 128 and 129:
1 2 8a ) O e s f a c e l a me n t o
- Page 130 and 131:
1 3 0N o c a s o d a B ó s n i a -
- Page 132 and 133:
1 3 2d a R e p ú b l i c a , e m s
- Page 134 and 135:
1 3 4O n ã o r e c o n h e c i m e
- Page 136 and 137:
1 3 6D e s o r t e q u e , n o p r
- Page 138 and 139:
1 3 8( 1 9 5 3 ) , H o d j a r e c
- Page 140 and 141:
1 4 03 . A c o mp l e x a e x p e r
- Page 142 and 143:
1 4 2( c a s o d a T c h e c o s l
- Page 144 and 145:
1 4 4s o b a l i d e r a n ç a d e
- Page 146 and 147:
1 4 6c o m p r o p o s t a s v o l
- Page 148 and 149:
1 4 8d e n ú n c i a d e q u e S t
- Page 150 and 151:
1 5 0c o m u n i s t a s e o u t r
- Page 152 and 153:
1 5 2f o r m a l m e n t e d e d i
- Page 154 and 155:
1 5 4N a s e l e i ç õ e s p a r
- Page 156 and 157:
1 5 6o u t r a s i n i c i a t i v
- Page 158 and 159:
1 5 8Q u a n d o o c o r r e u o f
- Page 160 and 161:
1 6 0P a r l a m e n t o E u r o p
- Page 162 and 163:
1 6 2T e m i a - s e q u e a q u e
- Page 164 and 165:
1 6 4M o v i m e n t o L i b e r a
- Page 166 and 167:
1 6 6s e r i a p r e v i s í v e l