3 0<strong>de</strong>trimento dos acionistas. A gran<strong>de</strong> celeuma provocada por aquela atitu<strong>de</strong>expressa bem que o capitalismo não agiu por inspiração moral.Adicionalmente, as pessoas têm aptidões que não se apren<strong>de</strong>m naescola. As habilida<strong>de</strong>s constituem um dom natural. Uns têm boa audição, quedapara a música ou aprendizado <strong>de</strong> línguas. Outros, habilida<strong>de</strong>s manuais; nessamatéria, muitos são simplesmente <strong>de</strong>sastrados. E assim por diante.Algumas <strong>de</strong>ssas aptidões distinguem os empreen<strong>de</strong>dores, notadamentea criativida<strong>de</strong> e a disposição <strong>de</strong> correr riscos. Estudiosos chamam a atenção parao papel que teria <strong>de</strong>sempenhado, na emergência da Revolução Industrial, odispositivo legal consagrador da proprieda<strong>de</strong> dos inventos. Por tudo isto, oprogresso material não po<strong>de</strong> prescindir da existência <strong>de</strong> condições estimuladorasda inventivida<strong>de</strong>.Do que prece<strong>de</strong>, toda tentativa <strong>de</strong> impor igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> resultados achasefadada ao fracasso. Pela razão muito simples <strong>de</strong> que a socieda<strong>de</strong> que a adoteprivar-se-á da presença <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dores, con<strong>de</strong>nando a respectiva população apadrões <strong>de</strong> renda mesquinhos, como se verificou na Rússia Soviética.Na atualida<strong>de</strong>, no Oci<strong>de</strong>nte, nenhuma organização política respeitáveladvoga abertamente a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> resultados. O máximo que se permitem seussimpatizantes é insistir em que o capitalismo norte-americano é odioso, cabendoà Europa <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a todo custo o Estado Protetor. Mas, ao fazê-lo, recomenda-seque ajam com cautela a fim <strong>de</strong> não matar a galinha dos ovos <strong>de</strong> ouro, isto é, aprodutivida<strong>de</strong> da empresa privada. A mesma prudência é requerida na manutenção<strong>de</strong> empresas estatais, limitada a alguns setores, por essa ou aquela razão. Afinal<strong>de</strong> contas, as ferrovias francesas funcionam maravilhosamente. Trata-senaturalmente <strong>de</strong> uma caricatura, mas não é difícil nela enxergar um retratopróximo do que seria o PS Francês.Se insistirem em tais subterfúgios para ven<strong>de</strong>r alguma forma <strong>de</strong>igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> resultados, não seria absurdo prognosticar que os socialistasfranceses vão acabar falando sozinhos.No <strong>de</strong>sdobramento da aproximação do socialismo ao liberalismo - <strong>de</strong>que resultou a proclamação da social <strong>de</strong>mocracia, como proposta distinta dosocialismo originário, no Congresso <strong>de</strong> Bad Godsberg (1959) do PSD Alemão - ospartidários da terceira via proclamam sua a<strong>de</strong>são à igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s,como se po<strong>de</strong> ver na última obra <strong>de</strong> Gid<strong>de</strong>ns <strong>de</strong>dicada ao tema (A terceira via eseus críticos; ed. Inglesa: London, Polity Press, 2000).De modo que, na discussão política recente em torno da igualda<strong>de</strong>, nãose tem notícia <strong>de</strong> que esteja sendo confrontada à liberda<strong>de</strong>.3. Os próprios partidários da dicotomia tratam <strong>de</strong> relativizá-laO pensador brasileiro Hélio Jaguaribe, <strong>de</strong>stacado representante dasocial-<strong>de</strong>mocracia em seu país natal teria oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> afirmar o seguinte:"Em diversas condições históricas, como por exemplo na crise da República <strong>de</strong>Weimar, durante o conflito final entre comunismo e nazismo, as posições <strong>de</strong>esquerda e direita eram diametralmente incompatíveis. No curso mais recente dahistória, como exemplifica o caso da Alemanha pós-guerra, essas duas posiçõesse aproximam muito e, <strong>de</strong> reciprocamente exclu<strong>de</strong>ntes, tornaram-secomplementares, embora em diferentes níveis <strong>de</strong> priorização. A esquerda mo<strong>de</strong>rnavisa ao máximo <strong>de</strong> bem-estar social, com o <strong>de</strong>corrente intento <strong>de</strong> minimização dasdiferenças sociais, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> condições compatíveis com a satisfatóriapreservação da competitivida<strong>de</strong> internacional da respectiva socieda<strong>de</strong>. A direita
3 1mo<strong>de</strong>rna visa ao máximo <strong>de</strong> eficácia e <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>, para a respectivasocieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> condições compatíveis com satisfatórios níveis <strong>de</strong> bem-estarsocial e <strong>de</strong> redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s."(6)Parodiando a popular consigna po<strong>de</strong>ríamos dizer: creo en brujas, perono mucho.4. A admissão da dicotomia pela Universida<strong>de</strong> impe<strong>de</strong> oaprofundamento dosaspectos enumeradosa) Diferenciação entre socialismo e comunismoParece essencial avançarmos na dissociação entre o socialismooci<strong>de</strong>ntal - inteiramente afeiçoado ao sistema <strong>de</strong>mocrático representativo – e ocomunismo oriental. A dissociação acha-se estabelecida. O inventário que se fezdos horrores praticados pelo último foi <strong>de</strong>nominado diretamente <strong>de</strong> Crimes docomunismo. Cabe à Universida<strong>de</strong> aprofundar esse passo inicial. Ocorrem-me aspistas adiante.Marx <strong>de</strong>nominou sua exortação primeira <strong>de</strong> Manifesto comunista,documento no qual proce<strong>de</strong>-se a uma crítica implacável à literatura socialista,valorizando apenas o elemento crítico contido na obra daqueles autores aos quaisse <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong>preciativamente <strong>de</strong> socialistas utópicos. A <strong>de</strong>scrição da socieda<strong>de</strong>futura contida nesse documento, além da centralização <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>seconômicas nas mãos do Estado, cogita <strong>de</strong> "trabalho obrigatório para todos:estabelecimento <strong>de</strong> exércitos industriais, especialmente para a agricultura". Atese <strong>de</strong> que esse projeto admitiria uma etapa <strong>de</strong> transição é muito posterior. Nãoserá que tal se <strong>de</strong>u em <strong>de</strong>corrência da popularida<strong>de</strong> crescente alcançada peloi<strong>de</strong>ário socialista, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados do século XIX, isto é, da época do Manifesto?Não parece que a idéia comunista haja granjeado idêntica acolhida.Outra forma <strong>de</strong> diferenciação seria uma investigação voltada para a<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> qual teria sido a porta <strong>de</strong> entrada pela qual Lenine - que nãopo<strong>de</strong>ria ser qualificado como oci<strong>de</strong>ntalista, grupo menosprezado pela maioria,que se auto-<strong>de</strong>nominava eslavófila - consi<strong>de</strong>rou que uma doutrina oci<strong>de</strong>ntalpo<strong>de</strong>ria ser aplicada na velha Rússia imperial. Terá sido a questão do Estado?Bobbio <strong>de</strong>ixou-nos a advertência <strong>de</strong> que o marxismo não dispõe <strong>de</strong> uma teoria doEstado. Entendo essa advertência como se se tratasse <strong>de</strong> teoria digna do nome.Mas talvez o amontoado <strong>de</strong> simplificações (instrumento <strong>de</strong> dominação <strong>de</strong> umaclasse; total incompreensão da natureza do sistema representativo; etc.) hajaservido a Lenine como uma luva <strong>de</strong> pelica para conceber o sistema soviético eimpedir que o processo iniciado em fevereiro <strong>de</strong> 1917 <strong>de</strong>sembocasse naoci<strong>de</strong>ntalização do sistema político.A revisita ao livro <strong>de</strong> Karl Wittfogel (1896/1988) certamente serámuito proveitosa (O <strong>de</strong>spotismo oriental. Estudo comparativo do po<strong>de</strong>r total;original em inglês editado por Yale University Press. Tradução francesa com basena edição <strong>de</strong> 1959: Paris, Éditions Minuit, 1977).A admissão <strong>de</strong> que os comunistas po<strong>de</strong>riam ser classificados comosendo <strong>de</strong> esquerda (ainda que qualificados <strong>de</strong> extrema-esquerda), além <strong>de</strong> impedirque se <strong>de</strong>sven<strong>de</strong> sua natureza efetiva, facilita a sua sobrevivência, ao evitar que
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