2 0não consi<strong>de</strong>rá-lo simples expediente para solucionar crises. Essa "suspeita"não é sem razão. Afinal foi justamente o que ocorreu, em seguida à renúnciado Presi<strong>de</strong>nte Jânio Quadros, com a recusa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da opinião emdar posse ao Vice, consi<strong>de</strong>rando que representava a corrente política<strong>de</strong>rrotada nas eleições presi<strong>de</strong>nciais. Na legislação eleitoral do chamado"interregno <strong>de</strong>mocrático", que vigorou entre 1945 e 1964, podia-se votarseparadamente em candidatos aos dois cargos (Presidência e Vice-Presidência).Nessa circunstância, fica difícil dar tratamento acadêmico aotema. Ao dispor-me a fazê-lo, queria esclarecer preliminarmente que nãoconsi<strong>de</strong>ro possível, no presente, a adoção <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo. Por uma razãomuito simples: pressupõe sistema partidário solidamente constituído, comopções muito nítidas. Como o sistema proporcional, durante largo períodonão assegurava tal possibilida<strong>de</strong>, França e Alemanha, no pós-guerra,adotaram o sistema distrital (com nuanças que não vêm ao caso). A meuver, cogitar <strong>de</strong>ssa hipótese seria mais uma medida protelatória quando onecessário (e factível) é introduzir a lista pré-or<strong>de</strong>nada e restaurar acláusula <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, como passos iniciais com vistas ao fim colimado.O registro que compete fazer é que, no século XIX, houve <strong>de</strong>parte da elite do tempo uma nítida compreensão <strong>de</strong> que o sistemarepresentativo repousava na existência <strong>de</strong> agremiações que cumprissem talfunção. Essa tese naturalmente não passa <strong>de</strong> uma tautologia mas plenamenteadmissível dada a insistência da República numa experiência que não <strong>de</strong>ucerto (e não dará): <strong>de</strong>mocracia sem partido político.O erro <strong>de</strong> raiz <strong>de</strong>corre da ausência <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração da experiênciafrancesa <strong>de</strong> República Parlamentar - a III República, como dissemos,implantada em 1870 -, que progressivamente se disseminaria na Europa. NoBrasil continuou-se associando o órgão da representação à monarquiaconstitucional, motivo suficiente para subestimá-lo. Os castilhistas do RioGran<strong>de</strong> do Sul insistiam em que o nome verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>sse sistema era paralamentar. E trataram <strong>de</strong> substituir a instituição parlamentar por umaAssembléia <strong>de</strong>dicada exclusivamente ao Orçamento. O Executivo fazia a lei.Nunca é <strong>de</strong>mais lembrar que a prática castilhista, ao longo da RepúblicaVelha adstrita ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, seria transplantada por Vargas aoplano nacional.O certo é que, em fins do século XIX, não mais se contrapunhamonarquia constitucional exclusivamente à República Presi<strong>de</strong>ncial (EstadosUnidos). É portanto bem antigo o vício brasileiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar experiênciasconsagradas. Não começou com o impropriamente <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> "sistemaeleitoral proporcional".Primórdios <strong>de</strong> nossa representação políticaSe tivermos presente que a construção do sistema <strong>de</strong>mocráticorepresentativo correspon<strong>de</strong> a tarefa complexa e difícil, precisaríamosvalorizar os primeiros passos que empreen<strong>de</strong>mos nesse sentido. Com efeito,
2 1a primeira tentativa <strong>de</strong> implantação das correspon<strong>de</strong>ntes instituições seriaplenamente coroada <strong>de</strong> êxito, na medida em que facultou ao país, no séculoXIX, cerca <strong>de</strong> cinqüenta anos <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> política, isto é, sem golpes <strong>de</strong>Estado, insurreições, presos políticos, empastelamento <strong>de</strong> jornais, etc.Naquele período, contamos com partidos políticos, alternância nopo<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>bate teórico do mais alto nível. A praxe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a República, é<strong>de</strong>negrir aquela experiência. Vejamos os argumentos então empregados.Alega-se que o eleitorado era reduzido. Para proce<strong>de</strong>r a umaavaliação a<strong>de</strong>quada, cabe levar em conta as experiências inglesa e francesa,no mesmo período. Na França, Napoleão III ampliou o eleitorado, semqualquer base para fazê-lo, a partir do que passou a valer-se <strong>de</strong> plebiscitospara ir concentrando po<strong>de</strong>res em suas mãos até alcançar a restauração damonarquia absoluta. Na Inglaterra, on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>mocratização do sufrágio nãocausaria quaisquer comoções, foi preparada por diversas medidas. Aprimeira consistiu em absorver as escolas confessionais (das Igrejas) parainstituir ensino público universal. E, <strong>de</strong>pois, promover a disseminação dodireito <strong>de</strong> voto com a máxima cautela. A adoção do sufrágio universal(admitido apenas o voto masculino) ocupou praticamente todo o séculoXIX. Os eleitores correspondiam a 7% da população maior <strong>de</strong> 21 anos, em1832; 9% em 1864: 16% em 1883 e 28,5% em 1886. Para completar oprocesso faltava apenas incorporar as mulheres, o que foi feito nas reformas<strong>de</strong> 1920 e 1930.Os partidos políticos constituem o outro alvo do menosprezo, soba alegação <strong>de</strong> que seriam simples blocos parlamentares. Acontece que estaera precisamente a característica comum a todos os países que vinhamadotando o novo regime. Na Inglaterra, somente começam a trilhar ocaminho, que os levaria às complexas estruturas do presente, quando sedissemina o sufrágio. Max Weber indica que o embrião do partido mo<strong>de</strong>rnocomeça pela fusão entre o bloco parlamentar e o comitê em que o <strong>de</strong>putado<strong>de</strong>veria apoiar-se, nessa ou naquela circunscrição.Por fim, o sistema <strong>de</strong>mocrático representativo em construção nopaís é <strong>de</strong>svalorizado pela presença do Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>rador. Veremos se aalegação tem alguma consistência.A questão teórica do Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>radorEm toda socieda<strong>de</strong> há questões que transcen<strong>de</strong>m as divisões sejami<strong>de</strong>ológicas sejam reflexo <strong>de</strong> interesses materiais. São aquelas <strong>de</strong> índolemoral. No plano político-institucional, a aplicação da prerrogativa <strong>de</strong>dissolver a Câmara - e convocar novas eleições - não po<strong>de</strong> ser conduzida emtermos partidários, sob pena <strong>de</strong> lançar na guerra civil o país que se <strong>de</strong>frontecom circunstâncias <strong>de</strong> tal natureza. Dando-se conta <strong>de</strong>sse imperativo, opensador francês do início do século XIX, Benjamin Constant, concebeuuma instituição a que <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>r Neutro (Silvestre PinheiroFerreira o chamou <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>r Conservador que talvez sema mais apropriado),que viria a ser experimentado entre nós.
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