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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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tivessem assegurado esse direito, tornando-se sucessivamente <strong>de</strong>snecessário orecurso às armas. Começava o ciclo em que ganhavam forma os instrumentoscapazes <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r à negociação e sancionar a barganha, em primeiro lugar, ospartidos políticos, então simples blocos parlamentares, como nos <strong>de</strong>mais paísesem que se ensaiava a prática do sistema representativo. Eram, porém, capazes <strong>de</strong>fazer valer os interesses dos grupos sociais, que tinham acesso à representação. Oaprimoramento <strong>de</strong>sta seria um tema que não mais se excluiria da or<strong>de</strong>m do dia.O aprimoramento em causa, que se esten<strong>de</strong>u por mais <strong>de</strong> quarenta anos- interrompeu-se, afinal, pelo advento da República - compreendia a <strong>de</strong>limitaçãorigorosa da base territorial abrangida pelo mandato do representante, o problemada representação da minoria e, finalmente, a ampliação da base social possuidorado direito <strong>de</strong> fazer-se representar.O Segundo Reinado permanece em nossa história como um momentosingular, insuficientemente admirado em <strong>de</strong>corrência da feição autoritária eantiliberal assumida pela República. Foi entretanto exaltado por observadoresin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>scompromissados. Assim, escrevendo na década <strong>de</strong> 50, orepublicano francês Charles Ribeyrolles registra que no País "há anos não hámais nem processos políticos, nem prisioneiros <strong>de</strong> Estado, nem processos <strong>de</strong>imprensa, nem conspiração, nem banimento." (Le Brésil Pittoresque. Rio <strong>de</strong>Janeiro, 1859). E assim vivemos por quase meio século, situação que contrasta <strong>de</strong>modo flagrante com a República. Boanerges Ribeiro, no livro Protestantismo ecultura brasileira (1981), ressalta a exemplar tolerância religiosa garantida porautorida<strong>de</strong>s policiais e judiciárias, no Império, apesar <strong>de</strong> haver uma religiãooficial. Ao contrário do que ocorria em Portugal, conforme enfatiza o mesmoautor.É preciso ter presentes as dificulda<strong>de</strong>s do liberalismo na Europacatólica e patrimonialista, na mesma época. Basta recordar o que ocorreu naFrança, com a <strong>de</strong>rrubada do governo liberal em 1848 e a proclamação daRepública, seguindo-se a reintrodução da monarquia e a gran<strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>política que culminou com a <strong>de</strong>rrota militar <strong>de</strong> 1870, a Comuna <strong>de</strong> Paris e a IIIRepública, por sua vez notoriamente instável. O panorama <strong>de</strong> tais dificulda<strong>de</strong>sveio a ser sistematizado por Arno Mayer (Dinâmica da Contra-Revolução naEuropa. 1870-1956. Trad. bras. Paz e Terra, 1971; e A força da tradição:persistência na Europa. 1848-1914. Trad. bras. Cia. das letras, 1987). Tudo issoserve para realçar o significado da situação brasileira, Em que pese a tradiçãopatrimonialista e a maioria católica, o regime conseguiu afeiçoar-se aos paísesprotestantes, como Inglaterra e Estados Unidos. Trata-se <strong>de</strong> um feito que nunca é<strong>de</strong>mais exaltar, cumprindo enterrar <strong>de</strong> vez o longo menosprezo que lhe tem<strong>de</strong>votado a estéril e infecunda historiografia positivista-marxista, abandonandointeiramente a fecunda trilha que nos havia sido aberta por Adolpho Varnhagen(1816/1878).Devido a essa circunstância, a inquirição acerca das <strong>de</strong>terminantes doscinqüenta anos <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> política, alcançada no século XIX, nem sequer foiaventada. Aquela investigação po<strong>de</strong>ria, adicionalmente ser muito instrutiva para onosso reor<strong>de</strong>namento institucional - on<strong>de</strong> a questão fe<strong>de</strong>ral ocupa lugar especial -já que a República fracassou na matéria, não havendo garantias insofismáveis <strong>de</strong>que no presente ciclo venhamos a ser plena e integralmente bem-sucedidos. OSegundo Reinado mantém-se como fato isolado em nossa história, quando porcerca <strong>de</strong> cinqüenta anos vivemos sem golpes <strong>de</strong> Estado, estados <strong>de</strong> sítio, presospolíticos, insurreições armadas, tudo isso com absoluta liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa,mantidas as garantias constitucionais dos cidadãos.3 9

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