12.07.2015 Views

A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

4 7Brasil. Em segundo lugar, a formação <strong>de</strong> gigantescos conglomerados empresariaisveio a ser encarada como algo digno <strong>de</strong> aplausos e estímulos, com a compreensão<strong>de</strong> que o capitalismo se faz com gran<strong>de</strong>s empresas. E, finalmente, criaram-setodas as facilida<strong>de</strong>s para o acesso à tecnologia. Assim, o Estado não atrapalhou.Mas não teria a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar nascedouro ao empresariado, o que se explica,como vimos, por componentes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m moral.Outras confirmações da <strong>de</strong>scobertaNa esteira do novo ambiente criado nos Estados Unidos com aspesquisas do tipo da <strong>de</strong>scrita, o controvertido autor da tese do "fim da história",Francis Fukuyama, publicou um novo livro - Confiança. As atitu<strong>de</strong>s sociais e acriação da prosperida<strong>de</strong> ( Trust.The social virtues and the creation of prosperity.Free Press, 1995),no qual procura aprofundar a discussão em torno da moralida<strong>de</strong>social básica e a sua relação com o <strong>de</strong>senvolvimento econômico. Como elofavorecedor da prosperida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>staca a existência <strong>de</strong> confiança mútua, isto é, aexpectativa <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> quanto ao comportamento regular, honesto ecooperativo <strong>de</strong> seus membros. A partir <strong>de</strong>ssa premissa agrupou várias naçõessegundo níveis <strong>de</strong> confiança. Para esse fim, confrontou a moral chinesa com ajaponesa, sugerindo que esta última facilita a transferência da gestão familiarpara a profissional, que lhe parece condição da prosperida<strong>de</strong> sustentada.Suas conclusões estão estribadas na distinção entre capital humano -que po<strong>de</strong> ser formado pela educação - e capital social, apoiado em hábitosconsolidados pela tradição que dificilmente po<strong>de</strong>m alterar-se. Distingue tambémvirtu<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s familiares. Embora a família seja uma instituiçãoessencial na socieda<strong>de</strong> - justificando-se as preocupações do Oci<strong>de</strong>nte com osfatos que vêm afetando a sua estabilida<strong>de</strong> -po<strong>de</strong> suscitar preferências que se têmrevelado funestas para a ativida<strong>de</strong> empresarial.Tratando-se <strong>de</strong> uma investigação que se preten<strong>de</strong> científica - passívelportanto <strong>de</strong> refutação - Fukuyama avança algumas hipóteses quanto à consistênciado capitalismo nos países que estudou. Exemplos <strong>de</strong> baixo nível <strong>de</strong> confiançaseriam Taiwan e Hongkong, no Oriente, e França e Itália no Oci<strong>de</strong>nte. Osindicadores que expressariam esse fato seriam pequeno número <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>sempresas, baseando-se a ativida<strong>de</strong> econômica em firmas médias e pequenas, a parda presença do Estado na economia. A Coréia tem uma situação ambígua pelainfluência simultânea <strong>de</strong> tradições chinesas e japonesas. O Japão seria o país doOriente com altos níveis do mencionado ingrediente (confiança mútua), seguindose,no Oci<strong>de</strong>nte, a Alemanha e os Estados Unidos. Se Fukuyama tiver razão, aChina não superaria a barreira do sub<strong>de</strong>senvolvimento; ou melhor, os setoresfundamentais, on<strong>de</strong> imprescindível se torna a presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas, nãopo<strong>de</strong>rão prescindir do Estado, estando assim con<strong>de</strong>nados à <strong>de</strong>rrota naconcorrência com eficientes multinacionais japonesas, americanas ou alemãs.Fukuyama não aceita <strong>de</strong>finições genéricas <strong>de</strong> cultura, sem <strong>de</strong>stacar emseu seio variáveis que pu<strong>de</strong>ssem ser investigadas por métodos baseados naquantificação. Para nortear a pesquisa que efetivou, adota esta <strong>de</strong>finição: acultura é constituída <strong>de</strong> hábitos morais herdados. Não consiste portanto numaescolha racional; nem por isto quer <strong>de</strong>fini-la como irracional, esclarece. Seria a-racional. Avançando na hipótese acrescenta que diferentes tipos <strong>de</strong> hábitosmorais conduzem a formas alternativas <strong>de</strong> organização econômica. Nem todos,entretanto, contribuem para a formação do capital social <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> aprosperida<strong>de</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!