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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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liberalismo correspon<strong>de</strong>u à doutrina política oficial. Mas a prática do regime erafrancamente autoritária.A prática autoritária republicana consiste basicamente no abandono doprincípio da representação.No Império, a gran<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> consistia, sem dúvida, no Estado <strong>de</strong>características patrimonialísticas. Contudo, a elite dirigente, premida pela onda<strong>de</strong> insurreições, assegurou aos vários interesses, reconhecida sua diversida<strong>de</strong> elegitimida<strong>de</strong>, o direito <strong>de</strong> fazer-se representar no sistema do po<strong>de</strong>r. Arepresentação não tinha certamente caráter <strong>de</strong>mocrático, <strong>de</strong> que não cogitava oliberalismo da época. Mas, a par do predomínio da classe proprietária rural,tinham acesso à representação as camadas urbanas, não só os proprietários(comerciantes, sobretudo) como igualmente o funcionalismo e a intelectualida<strong>de</strong>.Assim, embora não tivesse ocorrido nenhuma ruptura abrupta com opatrimonialismo português (5), facultava a paulatina estruturação da socieda<strong>de</strong>civil.A prática republicana criou uma situação inteiramente nova. Passou aprimeiro plano o conflito entre grupos cujo interesse próprio se resume emapossar-se do patrimônio constituído pelo Estado. E mais: essa conquista, nonível das antigas províncias, revela-se <strong>de</strong> pronto insuficiente. É necessárioassegurar a posse do Executivo Central. Para apaziguar esse conflito inventou-sea “política dos governadores” ou o chamado "café-com-leite" (alternância <strong>de</strong> SãoPaulo e Minas na suprema magistratura).Nas antigas províncias (agora <strong>de</strong>nominadas "estados") não surgiramativida<strong>de</strong>s econômicas capazes <strong>de</strong> manter alta rentabilida<strong>de</strong> durante largoperíodo, a exemplo da cafeicultura, agora radicada basicamente em São Paulo eMinas, que ensejasse o aparecimento <strong>de</strong> novos grupos locais e assim contribuindopara tornar mais diversificada a socieda<strong>de</strong>. Desse modo, o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> progresso, quese inscrevera na nova ban<strong>de</strong>ira que o regime republicano <strong>de</strong>ra ao País, ficaracircunscrito a São Paulo. Os recursos públicos mal permitiam a mo<strong>de</strong>rnização daCapital da República.E, quanto à or<strong>de</strong>m, esta só se mantinha mediante a sucessiva<strong>de</strong>cretação <strong>de</strong> estados <strong>de</strong> sítio e a intervenção naquelas unida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rativaspoliticamente mais fracas.À medida que a prática autoritária se generalizava, os liberais iampaulatinamente circunscrevendo sua plataforma à <strong>de</strong>fesa das liberda<strong>de</strong>s<strong>de</strong>mocráticas. Não lhes ocorria sequer a necessida<strong>de</strong> da diversificação partidária -o regime era <strong>de</strong> partido único, o republicano, estruturado em nível estadual -salvo em 1926, quando se criou em São Paulo o Partido Democrático. Os liberaissofreram também a influência positivista e acabaram minimizando o papel dadoutrina da representação.À prática autoritária se ia sobrepondo o autoritarismo doutrinário. Nãosendo o caso, nesta oportunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>termos em sua caracterização<strong>de</strong>talhada, cabe tão-somente indicar como amadurece a idéia da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>um Estado Central forte e unitário. Essa idéia seria trabalhada pelo positivismogaúcho - o castilhismo, tão bem estudado por Ricardo Vélez Rodriguez (6) - esobretudo por Oliveira Vianna (1883/1951).Oliveira Vianna <strong>de</strong>senvolve crítica sistemática ao irrealismo da eliterepublicana. A propósito escreve: "O gran<strong>de</strong> movimento <strong>de</strong>mocrático daRevolução Francesa; as agitações parlamentares inglesas; o espírito liberal dasinstituições que regem a República Americana, tudo isto exerceu e exerce sobreos nossos dirigentes políticos, estadistas, legisladores, publicistas, uma4 1

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