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Jornal das Oficinas 154

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76<br />

CARROS COM HISTÓRIA<br />

MINI<br />

Criado para resolver um problema<br />

Por: João Paulo Lima<br />

Conhecido de todos, palco de aventuras para muitos, sobre a história deste pequeno automóvel inglês muita coisa se tem escrito. Neste artigo,<br />

vamos situar-nos mais perto <strong>das</strong> razões que levaram ao estudo e desenvolvimento deste projeto<br />

A<br />

Inglaterra no final dos anos 50<br />

viu-se envolvida num conflito<br />

que teve como consequência<br />

o encerramento do canal do Suez, local<br />

que servia para os britânicos, de porta<br />

de entrada do petróleo vindo do Médio<br />

Oriente. O primeiro sinal sentiu-se no aumento<br />

e racionamento dos combustíveis.<br />

Até então, poucas tinham sido as preocupações<br />

com o consumo de combustível<br />

nos automóveis. Cada modelo consumia<br />

o que precisava para transformar gasolina<br />

em energia mecânica. As coisas para os<br />

ingleses estavam prestes a mudar e o<br />

primeiro passo face às necessidades foi<br />

contar com os pequenos e económicos<br />

automóveis de fabrico alemão e italiano,<br />

que mais não eram veículos com motor<br />

de moto sobre três ro<strong>das</strong>.<br />

Impróprios para transportar uma família<br />

ou para percursos extra citadinos,<br />

foi a solução que permitiu a BMC (British<br />

Motor Corporation), o maior fabricante<br />

de automóveis britânico da época, ter<br />

tempo para projetar algo mais ajustado às<br />

necessidades da altura. A ideia surgiu do<br />

presidente da BMC, Leonard Lord, depois<br />

de ver o mercado invadido por veículos<br />

de três ro<strong>das</strong> e motor de moto pouco<br />

do seu agrado. Para que não houvesse<br />

a tentação de copiar o que já existia no<br />

mercado, Leonard estabeleceu parâmetros<br />

que despoletaram soluções ainda<br />

presentes nos dias de hoje. O modelo<br />

não podia ter grandes dimensões e estava<br />

balizado entre 3 m de largura, 1,2<br />

m de largura e 1,2 m de altura. Tinha de<br />

ser um automóvel de quatro lugares,<br />

distribuídos por 1,8 m do comprimento<br />

total do veículo. Para acelerar o processo<br />

e baixar os custos, deveria ser montado<br />

um motor já existente.<br />

Lord Leonard desafiou Sir Alec Issigonis,<br />

um ex-colega do tempo da Austin,<br />

para apresentar um projeto. A primeira<br />

reunião de trabalho foi num jantar onde<br />

Issigonis esboçou a sua ideia num guardanapo,<br />

que passou à história. Nele, desenhou<br />

carroçaria, disposição mecânica<br />

e interior. Propôs tração dianteira, motor<br />

transversal, caixa de quatro velocidades<br />

e diferencial, montados por baixo da<br />

unidade motora dentro do mesmo cárter,<br />

solução que foi buscar aos veículos<br />

com motor de moto que circulavam na<br />

altura. A ideia agradou a Lord Leonard,<br />

pois utilizava o motor série “A” existente<br />

desde 1951. Quanto à tração, não era nenhuma<br />

inovação. Tratava-se de uma ideia<br />

tornada utilizável por André Citroën, que a<br />

resgatou de um modelo norte-americano,<br />

o “Cord”, palco de muitos fracassos devido<br />

a fugas incontornáveis de lubrificante até<br />

a Citroën as resolver. A inovação estava<br />

mesmo na colocação do motor, que até ali<br />

posicionado linearmente não apresentava<br />

problemas de refrigeração, passando a ser<br />

algo que Issigonis teve de resolver quando<br />

foi forçado pela condicionante espaço a<br />

montá-lo na transversal. O propulsor<br />

nesta posição não podia contar com o<br />

fluxo de ar deslocado no movimento do<br />

veículo para refrigeração. A ventoinha a<br />

rodar no veio da bomba de água fazia 90º<br />

de desfasamento relativamente ao fluxo<br />

proveniente do deslocamento, puxando<br />

para arrefecer ar quente que envolvia o<br />

motor. Isto ditou, à partida, dificuldades<br />

de refrigeração face a outros modelos de<br />

motor longitudinal. Para Issigonis, tratou-<br />

-se de mais um desafio que solucionou<br />

em alguns modelos, como o Cooper, com<br />

mais pás na ventoinha de arrefecimento.<br />

O primeiro Mini estava pronto para ser<br />

comercializado em 1959. O modelo, denominado<br />

850, dispunha de 848 cm³,<br />

34 cv às 5.500 rpm e atingia 116 km/h.<br />

Para a suspensão, foi escolhido blocos de<br />

borracha em vez de molas metálicas, que<br />

trabalhavam como mola e amortecedor<br />

montados em dois charriots. O primeiro<br />

Mini era duro mas espaçoso comparado<br />

com os microcars que veio substituir. Mais<br />

do que um automóvel, podemos comparar<br />

este fenómeno com outros, como o<br />

smart ou o VW Carocha, que foram criados<br />

para resolver um problema e acabaram<br />

por fazer história. ✱<br />

Setembro I 2018<br />

www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com

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