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CARROS COM HISTÓRIA<br />
MINI<br />
Criado para resolver um problema<br />
Por: João Paulo Lima<br />
Conhecido de todos, palco de aventuras para muitos, sobre a história deste pequeno automóvel inglês muita coisa se tem escrito. Neste artigo,<br />
vamos situar-nos mais perto <strong>das</strong> razões que levaram ao estudo e desenvolvimento deste projeto<br />
A<br />
Inglaterra no final dos anos 50<br />
viu-se envolvida num conflito<br />
que teve como consequência<br />
o encerramento do canal do Suez, local<br />
que servia para os britânicos, de porta<br />
de entrada do petróleo vindo do Médio<br />
Oriente. O primeiro sinal sentiu-se no aumento<br />
e racionamento dos combustíveis.<br />
Até então, poucas tinham sido as preocupações<br />
com o consumo de combustível<br />
nos automóveis. Cada modelo consumia<br />
o que precisava para transformar gasolina<br />
em energia mecânica. As coisas para os<br />
ingleses estavam prestes a mudar e o<br />
primeiro passo face às necessidades foi<br />
contar com os pequenos e económicos<br />
automóveis de fabrico alemão e italiano,<br />
que mais não eram veículos com motor<br />
de moto sobre três ro<strong>das</strong>.<br />
Impróprios para transportar uma família<br />
ou para percursos extra citadinos,<br />
foi a solução que permitiu a BMC (British<br />
Motor Corporation), o maior fabricante<br />
de automóveis britânico da época, ter<br />
tempo para projetar algo mais ajustado às<br />
necessidades da altura. A ideia surgiu do<br />
presidente da BMC, Leonard Lord, depois<br />
de ver o mercado invadido por veículos<br />
de três ro<strong>das</strong> e motor de moto pouco<br />
do seu agrado. Para que não houvesse<br />
a tentação de copiar o que já existia no<br />
mercado, Leonard estabeleceu parâmetros<br />
que despoletaram soluções ainda<br />
presentes nos dias de hoje. O modelo<br />
não podia ter grandes dimensões e estava<br />
balizado entre 3 m de largura, 1,2<br />
m de largura e 1,2 m de altura. Tinha de<br />
ser um automóvel de quatro lugares,<br />
distribuídos por 1,8 m do comprimento<br />
total do veículo. Para acelerar o processo<br />
e baixar os custos, deveria ser montado<br />
um motor já existente.<br />
Lord Leonard desafiou Sir Alec Issigonis,<br />
um ex-colega do tempo da Austin,<br />
para apresentar um projeto. A primeira<br />
reunião de trabalho foi num jantar onde<br />
Issigonis esboçou a sua ideia num guardanapo,<br />
que passou à história. Nele, desenhou<br />
carroçaria, disposição mecânica<br />
e interior. Propôs tração dianteira, motor<br />
transversal, caixa de quatro velocidades<br />
e diferencial, montados por baixo da<br />
unidade motora dentro do mesmo cárter,<br />
solução que foi buscar aos veículos<br />
com motor de moto que circulavam na<br />
altura. A ideia agradou a Lord Leonard,<br />
pois utilizava o motor série “A” existente<br />
desde 1951. Quanto à tração, não era nenhuma<br />
inovação. Tratava-se de uma ideia<br />
tornada utilizável por André Citroën, que a<br />
resgatou de um modelo norte-americano,<br />
o “Cord”, palco de muitos fracassos devido<br />
a fugas incontornáveis de lubrificante até<br />
a Citroën as resolver. A inovação estava<br />
mesmo na colocação do motor, que até ali<br />
posicionado linearmente não apresentava<br />
problemas de refrigeração, passando a ser<br />
algo que Issigonis teve de resolver quando<br />
foi forçado pela condicionante espaço a<br />
montá-lo na transversal. O propulsor<br />
nesta posição não podia contar com o<br />
fluxo de ar deslocado no movimento do<br />
veículo para refrigeração. A ventoinha a<br />
rodar no veio da bomba de água fazia 90º<br />
de desfasamento relativamente ao fluxo<br />
proveniente do deslocamento, puxando<br />
para arrefecer ar quente que envolvia o<br />
motor. Isto ditou, à partida, dificuldades<br />
de refrigeração face a outros modelos de<br />
motor longitudinal. Para Issigonis, tratou-<br />
-se de mais um desafio que solucionou<br />
em alguns modelos, como o Cooper, com<br />
mais pás na ventoinha de arrefecimento.<br />
O primeiro Mini estava pronto para ser<br />
comercializado em 1959. O modelo, denominado<br />
850, dispunha de 848 cm³,<br />
34 cv às 5.500 rpm e atingia 116 km/h.<br />
Para a suspensão, foi escolhido blocos de<br />
borracha em vez de molas metálicas, que<br />
trabalhavam como mola e amortecedor<br />
montados em dois charriots. O primeiro<br />
Mini era duro mas espaçoso comparado<br />
com os microcars que veio substituir. Mais<br />
do que um automóvel, podemos comparar<br />
este fenómeno com outros, como o<br />
smart ou o VW Carocha, que foram criados<br />
para resolver um problema e acabaram<br />
por fazer história. ✱<br />
Setembro I 2018<br />
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