Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Enquanto Cam estava fora, Amelia conversou em particular com as irmãs. Decidiu-se que<br />
era Win quem teria mais chances de fazer com que Merripen tomasse a morfina. E foi a<br />
própria Win que afirmou que seria preciso enganá-lo, pois ele se recusaria a tomar o remédio<br />
por vontade própria, por mais que lhe implorassem.<br />
– Mentirei para ele se for necessário – disse Win, deixando as outras três em um silêncio<br />
chocado. – Ele confia em mim. Acreditará em qualquer coisa que eu disser.<br />
Até onde elas sabiam, Win nunca dissera uma mentira em toda a sua vida, mesmo quando<br />
criança.<br />
– Você acha mesmo que consegue? – perguntou Beatrix, um tanto espantada.<br />
– Para salvar a vida dele? Claro que sim! – Uma tensão delicada apareceu entre as<br />
sobrancelhas de Win e manchas de um rosa pálido subiram-lhe ao rosto. – Acho... acho que<br />
um pecado cometido em nome de uma boa causa pode ser perdoado.<br />
– Concordo – disse Amelia rapidamente.<br />
– Ele gosta de chá de hortelã – falou Win. – Vamos fazer um chá forte e acrescentar muito<br />
açúcar. Vai ajudar a disfarçar o gosto do remédio.<br />
Nunca um bule de chá havia sido preparado com tanto cuidado, com as irmãs Hathaways<br />
em volta da mistura como um grupo de jovens feiticeiras. Finalmente, o bule de porcelana<br />
recebeu o preparado coado e adoçado, e foi posto em uma bandeja ao lado de uma xícara e<br />
um pratinho.<br />
Win o levou para o quarto de Merripen, parando na entrada, enquanto Amelia mantinha a<br />
porta aberta.<br />
– Devo entrar com você? – sussurrou Amelia.<br />
Win balançou a cabeça.<br />
– Não. Deixe comigo. Por favor, feche a porta. Garanta que ninguém nos perturbe.<br />
Suas costas esguias estavam muito eretas quando ela entrou no aposento.<br />
Os olhos de Merripen se abriram com o som dos passos de Win. A dor da ferida supurada<br />
era constante. Podia sentir as toxinas invadindo seu sangue, envenenando cada vaso capilar.<br />
Às vezes produzia uma estranha e sinistra euforia que o fazia flutuar para longe de seu corpo<br />
sofrido, até se sentir nas bordas do quarto. Até a chegada de Win. Naquele momento, ele<br />
voltou alegremente para o encontro com a dor, só para sentir as mãos dela sobre ele, sua<br />
respiração próxima de seu rosto.<br />
Win cintilava como uma miragem diante dele. A pele parecia fresca e luminosa, enquanto o<br />
corpo dele se consumia em miasmas e calor.<br />
– Trouxe algo para você.<br />
– Não... não quero...<br />
– Sim – insistiu ela, juntando-se a ele na cama. – Vai ajudá-lo a melhorar... aqui, afaste-se