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Desejo a meia-noite - Lisa Kleypas

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– Seu salário não pagaria nem o custo anual do meu engraxate.<br />

– Para mim, é mais do que suficiente. E não sei o que fazer com isso. – Cam ficara<br />

horrorizado com a soma que aparecia na página do saldo. Com uma careta, jogou a<br />

caderneta sobre uma mesa próxima. – Fique com ele.<br />

Ao mesmo tempo que parecera achar graça, St. Vincent ficara levemente exasperado.<br />

– Maldição, homem! Agora que sou dono do lugar, não aceito que digam por aí que você<br />

recebe um salário de mendigo. Acha que vou tolerar ser chamado de avarento?<br />

– Você já foi chamado de coisa pior – ressaltara Cam.<br />

– Não me importo de ser chamado de coisa pior quando mereço. O que acontece com<br />

frequência, tenho certeza. – St. Vincent o fitara de forma pensativa. E com um daqueles<br />

gestos intuitivos que não se espera de um ex-libertino, murmurou: – Não significa nada, você<br />

sabe. Não será menos rom pelo fato de eu pagá-lo em libras, dentes de baleia ou em conchas.<br />

– Já fiz concessões demais. Desde que cheguei a Londres, permaneci sob um teto, usei<br />

roupas de gadjo, trabalhei em troca de salário. Mas isso passou dos limites.<br />

– Apenas abri uma conta para você, Rohan – dissera St. Vincent, ácido. – Não lhe dei um<br />

monte de estrume.<br />

– Eu teria preferido o estrume. Pelo menos, serve para alguma coisa.<br />

– Temo perguntar, mas a curiosidade me obriga: em nome de Deus, para que serve o<br />

estrume?<br />

– Como fertilizante.<br />

– Pois bem, encaremos as coisas da seguinte forma: seu dinheiro é apenas outro tipo de<br />

fertilizante. – St. Vincent fizera um gesto para a caderneta rejeitada. – Faça alguma coisa com<br />

ele. O que bem entender. Embora eu o aconselhe a fazer mais do que enterrá-lo.<br />

Então Cam resolveu se livrar de cada centavo desperdiçando tudo em uma série de<br />

investimentos absurdos. Foi quando a praga da boa sorte caiu sobre ele. Sua fortuna<br />

crescente começara a lhe abrir portas que nunca teriam se aberto, ainda mais agora, quando<br />

a alta sociedade estava sendo invadida pelos homens da indústria. E, tendo atravessado essas<br />

portas, Cam estava se comportando e pensando de um jeito que não era normal para ele. St.<br />

Vincent estivera errado – o dinheiro o tornara menos rom, sim.<br />

Ele havia se esquecido de coisas: palavras, histórias, canções que o puseram para dormir na<br />

infância. Mal conseguia se lembrar do sabor dos bolinhos de amêndoas, fervidos no leite, ou<br />

do cozido boranija, temperado com vinagre e folhas de dente-de-leão. Os rostos de seus<br />

familiares pareciam distantes, indefinidos. Ele não tinha certeza de que os reconheceria, caso<br />

os reencontrasse. E aquilo o fazia temer não ser mais um rom.<br />

Quando fora a última vez que ele dormira sob o céu?<br />

O grupo inteiro seguiu para o salão de jantar. A informalidade da reunião significava que<br />

eles não teriam lugares definidos por ordem de precedência. Uma fileira de lacaios vestidos<br />

de preto, azul e mostarda avançou para atender os convidados, puxando cadeiras, servindo<br />

vinho e água. A mesa comprida estava coberta por metros de um imaculado linho branco.

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