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– Seu salário não pagaria nem o custo anual do meu engraxate.<br />
– Para mim, é mais do que suficiente. E não sei o que fazer com isso. – Cam ficara<br />
horrorizado com a soma que aparecia na página do saldo. Com uma careta, jogou a<br />
caderneta sobre uma mesa próxima. – Fique com ele.<br />
Ao mesmo tempo que parecera achar graça, St. Vincent ficara levemente exasperado.<br />
– Maldição, homem! Agora que sou dono do lugar, não aceito que digam por aí que você<br />
recebe um salário de mendigo. Acha que vou tolerar ser chamado de avarento?<br />
– Você já foi chamado de coisa pior – ressaltara Cam.<br />
– Não me importo de ser chamado de coisa pior quando mereço. O que acontece com<br />
frequência, tenho certeza. – St. Vincent o fitara de forma pensativa. E com um daqueles<br />
gestos intuitivos que não se espera de um ex-libertino, murmurou: – Não significa nada, você<br />
sabe. Não será menos rom pelo fato de eu pagá-lo em libras, dentes de baleia ou em conchas.<br />
– Já fiz concessões demais. Desde que cheguei a Londres, permaneci sob um teto, usei<br />
roupas de gadjo, trabalhei em troca de salário. Mas isso passou dos limites.<br />
– Apenas abri uma conta para você, Rohan – dissera St. Vincent, ácido. – Não lhe dei um<br />
monte de estrume.<br />
– Eu teria preferido o estrume. Pelo menos, serve para alguma coisa.<br />
– Temo perguntar, mas a curiosidade me obriga: em nome de Deus, para que serve o<br />
estrume?<br />
– Como fertilizante.<br />
– Pois bem, encaremos as coisas da seguinte forma: seu dinheiro é apenas outro tipo de<br />
fertilizante. – St. Vincent fizera um gesto para a caderneta rejeitada. – Faça alguma coisa com<br />
ele. O que bem entender. Embora eu o aconselhe a fazer mais do que enterrá-lo.<br />
Então Cam resolveu se livrar de cada centavo desperdiçando tudo em uma série de<br />
investimentos absurdos. Foi quando a praga da boa sorte caiu sobre ele. Sua fortuna<br />
crescente começara a lhe abrir portas que nunca teriam se aberto, ainda mais agora, quando<br />
a alta sociedade estava sendo invadida pelos homens da indústria. E, tendo atravessado essas<br />
portas, Cam estava se comportando e pensando de um jeito que não era normal para ele. St.<br />
Vincent estivera errado – o dinheiro o tornara menos rom, sim.<br />
Ele havia se esquecido de coisas: palavras, histórias, canções que o puseram para dormir na<br />
infância. Mal conseguia se lembrar do sabor dos bolinhos de amêndoas, fervidos no leite, ou<br />
do cozido boranija, temperado com vinagre e folhas de dente-de-leão. Os rostos de seus<br />
familiares pareciam distantes, indefinidos. Ele não tinha certeza de que os reconheceria, caso<br />
os reencontrasse. E aquilo o fazia temer não ser mais um rom.<br />
Quando fora a última vez que ele dormira sob o céu?<br />
O grupo inteiro seguiu para o salão de jantar. A informalidade da reunião significava que<br />
eles não teriam lugares definidos por ordem de precedência. Uma fileira de lacaios vestidos<br />
de preto, azul e mostarda avançou para atender os convidados, puxando cadeiras, servindo<br />
vinho e água. A mesa comprida estava coberta por metros de um imaculado linho branco.