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O sonho de mendeleiev

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inteiramente <strong>de</strong> água. Esta fora simplesmente convertida pela árvore em sua própria<br />

substância. Em consequência, van Helmont abandonou a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> três elementos <strong>de</strong> Paracelso<br />

(mercúrio, enxofre e sal), rejeitou a teoria aristotélica dos quatro elementos <strong>de</strong> que ela<br />

<strong>de</strong>rivara, e retornou às próprias origens da teoria dos elementos. Acreditou que seu<br />

experimento com o salgueiro provava que, em última análise, tudo era feito <strong>de</strong> água, a<br />

conclusão a que Tales chegara mais <strong>de</strong> dois milênios antes. O experimento <strong>de</strong> van Helmont é<br />

amplamente consi<strong>de</strong>rado a primeira aplicação da medição a um experimento que envolvia ao<br />

mesmo tempo química e biologia, marcando o começo da bioquímica.<br />

Por um daqueles caprichos do entendimento humano, a conclusão errada que van Helmont<br />

tirou <strong>de</strong>sse experimento levou a um dos mais significativos <strong>de</strong>senvolvimentos na química. Van<br />

Helmont logo concluiu que, embora a água fosse o único elemento, o ar <strong>de</strong>via <strong>de</strong>sempenhar um<br />

papel importante na transformação <strong>de</strong>la. Isso o estimulou a empreen<strong>de</strong>r uma investigação do ar<br />

e suas proprieda<strong>de</strong>s. O que era exatamente o ar? Até aquele momento ninguém abordara essa<br />

questão <strong>de</strong> maneira completamente científica. Como se po<strong>de</strong>ria investigar uma substância<br />

insubstancial como essa? Ar era ar, e ponto final. Alquimistas <strong>de</strong>bruçados sobre seus<br />

cal<strong>de</strong>irões borbulhantes e malcheirosos haviam tomado conhecimento <strong>de</strong> outros “ares”, e<br />

haviam também percebido que certas substâncias, como perfumes e vários óleos, produziam<br />

“vapores”. (Qualquer cidadão medieval que morasse numa rua com um esgoto aberto teria se<br />

dado conta disso perfeitamente: a marcha adiante da ciência e a do senso comum raramente<br />

estiveram no mesmo passo.) Os alquimistas reconheciam que esses vapores não eram o<br />

mesmo que o ar e muitas vezes se referiam a eles como “espíritos”. Esse nome, com suas<br />

evi<strong>de</strong>ntes conotações metafísicas, logo se associou a líquidos que se vaporizavam facilmente.<br />

Pouco a pouco, o uso habitual estreitou isso para um dos líquidos mais voláteis num<br />

laboratório usual, a saber, o álcool. Essa é a origem do uso da palavra spirits para <strong>de</strong>signar<br />

bebidas alcoólicas <strong>de</strong>stiladas.<br />

Van Helmont compreen<strong>de</strong>u a significação <strong>de</strong>sse conhecimento alquímico um tanto<br />

atrapalhado sobre “ares”, “vapores” e “espíritos”. Havia várias substâncias distintas<br />

semelhantes ao ar. No curso <strong>de</strong> suas investigações, conduziu um experimento que envolveu a<br />

queima <strong>de</strong> 28 quilos <strong>de</strong> carvão. Isso produziu um vapor com uma aparência física idêntica à<br />

do ar, mas com proprieda<strong>de</strong>s muitos diferentes. Por exemplo, quando era encerrado num<br />

frasco, uma vela não queimava nele. Após queimar o carvão, Helmont ficou com apenas 500<br />

gramas <strong>de</strong> cinzas. Concluiu que o carvão original contivera 27,5 quilos <strong>de</strong>ssa substância<br />

semelhante ao ar, a que chamou <strong>de</strong> spiritus sylvester (o espírito da mata) – hoje conhecida por<br />

nós como dióxido <strong>de</strong> carbono.<br />

Van Helmont <strong>de</strong>scobriu que o spiritus sylvester tinha as mesmas proprieda<strong>de</strong>s que a<br />

substância semelhante ao ar produzida pela fermentação do vinho e da cerveja, pela queima<br />

do álcool e por diversos outros processos. Concluiu que todos esses vapores eram uma só e<br />

mesma coisa. Outros experimentos o levaram a compreen<strong>de</strong>r que havia ampla varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssas substâncias semelhantes ao ar, cada uma com proprieda<strong>de</strong>s distintivas. Algumas eram<br />

combustíveis, outras tinham odores acres característicos, algumas eram absorvidas por<br />

líquidos. Mas van Helmont foi impedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver qualquer investigação profunda <strong>de</strong>ssa<br />

aparente varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> substâncias semelhantes ao ar, sobretudo pela falta <strong>de</strong> algum<br />

dispositivo hermético convenientemente sofisticado em que acumulá-los e estudá-los.<br />

Permaneceu na dúvida com relação à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les, acabando por chegar a mais uma

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