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O sonho de mendeleiev

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parecia se dissolver na água. O resultado era “um copo <strong>de</strong> água efervescente extremamente<br />

agradável”. Priestley <strong>de</strong>scobrira o que hoje conhecemos como água gasosa. (Antes mesmo do<br />

nascimento dos Estados Unidos nação, um simpatizante da terra inventara o processo que um<br />

dia daria ao mundo a Coca-Cola.)<br />

Priestley passou então a seguir uma sugestão <strong>de</strong> Cavendish e começou a coletar seus gases<br />

sobre mercúrio em vez <strong>de</strong> água. Isso lhe permitiu <strong>de</strong>scobrir, e investigar, vários gases novos<br />

que anteriormente não eram coletáveis porque se dissolviam em água. Dessa maneira, isolou<br />

os gases que hoje conhecemos como óxido <strong>de</strong> nitrogênio, amoníaco, cloreto <strong>de</strong> hidrogênio e<br />

dióxido <strong>de</strong> enxofre. Nenhum <strong>de</strong>sses gases parecia ser um elemento, e todos, exceto o<br />

amoníaco, tornavam-se acidíferos quando dissolvidos em água.<br />

Foi o uso que Priestley fez do mercúrio que o levou, em 1774, à sua mais importante<br />

<strong>de</strong>scoberta. Quando aquecido ao ar, o mercúrio forma uma cinza cor <strong>de</strong> tijolo. Priestley pôs<br />

uma amostra disso num balão. Submeteu então a amostra a calor concentrado, focando os raios<br />

do sol sobre ela através <strong>de</strong> uma lente <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> diâmetro ajustado, que acabara <strong>de</strong><br />

comprar (e estava louco para usar). Descobriu que glóbulos prateados <strong>de</strong> mercúrio<br />

começaram a aparecer no meio da cinza vermelha. Simultaneamente, a cinza em <strong>de</strong>composição<br />

emitia um gás. Quando coletou esse gás, Priestley constatou que parecia ser “um ar superior”,<br />

dotado <strong>de</strong> algumas proprieda<strong>de</strong>s notáveis.<br />

Uma vela ardia nesse ar com assombrosa força <strong>de</strong> chama; e um pedacinho <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ao rubro crepitou e queimou com<br />

prodigiosa rapi<strong>de</strong>z, exibindo uma aparência algo semelhante à do ferro, fulgurando com um calor branco e lançando faíscas<br />

em todas as direções. Mas, para completar a prova da qualida<strong>de</strong> superior <strong>de</strong>sse ar, introduzi nele um camundongo; e numa<br />

quantida<strong>de</strong> em que, fosse isso ar comum, ele teria morrido em cerca <strong>de</strong> um quarto <strong>de</strong> hora, ele viveu ... uma hora inteira.<br />

Na verda<strong>de</strong>, o camundongo po<strong>de</strong>ria ter vivido ainda mais tempo se Priestley não tivesse<br />

permitido aci<strong>de</strong>ntalmente que morresse <strong>de</strong> frio. Ele tentou até provar esse novo ar: “A<br />

sensação que provocou em meus pulmões não foi sensivelmente diferente da provocada por ar<br />

comum; mas tive a impressão <strong>de</strong> sentir meu peito peculiarmente leve e aberto por algum tempo<br />

<strong>de</strong>pois.” Ficou embriagado! Em consequência, previu que esse gás po<strong>de</strong>ria ter um futuro como<br />

vício elegante entre os ricos ociosos, uma espécie <strong>de</strong> precursor brando da cocaína.<br />

Priestley explicou a química da droga que acabara <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir em termos da teoria do<br />

flogístico, em que acreditava firmemente. O fato <strong>de</strong> os objetos se queimarem tão facilmente na<br />

presença <strong>de</strong>la significava que liberavam rapidamente seu flogístico. A explicação <strong>de</strong>sse<br />

fenômeno parecia clara. O novo gás era uma forma <strong>de</strong> ar <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> flogístico, e era por<br />

isso que o absorvia tão rapidamente. Por essa razão, Priestley chamou-o <strong>de</strong> “ar<br />

<strong>de</strong>flogisticado”.<br />

Priestley tinha gran<strong>de</strong> fé na abertura científica e, ao visitar Paris mais tar<strong>de</strong>, em 1774,<br />

transmitiu sua <strong>de</strong>scoberta do “ar <strong>de</strong>flogisticado” para o maior químico da época, Antoine<br />

Lavoisier. Isso teria um efeito <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance sobre a história da química.<br />

De fato, esta é a razão por que se atribui tão frequentemente a <strong>de</strong>scoberta do oxigênio a<br />

Priestley, embora hoje se saiba que Scheele havia na verda<strong>de</strong> realizado precisamente o mesmo<br />

experimento com cinza <strong>de</strong> mercúrio dois anos antes na Suécia. A <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Priestley po<strong>de</strong><br />

não ter sido estritamente original (exceto para ele), mas foi ele quem a transmitiu para o<br />

domínio científico, em que haveria <strong>de</strong> ter gran<strong>de</strong> efeito.<br />

Tal atribuição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> não foi um caso único. Um esquema similar seria adotado com

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