O sonho de mendeleiev
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Bessagrin instilou em Men<strong>de</strong>leiev um profundo interesse pela ciência, além <strong>de</strong> reforçar os<br />
i<strong>de</strong>ais liberais postos em prática por sua mãe. Logo ficou claro que Men<strong>de</strong>leiev tinha uma<br />
mente excepcional, e ele começou a realizar seus próprios experimentos <strong>de</strong> escolar. (Mais<br />
tar<strong>de</strong> em sua vida, Men<strong>de</strong>leiev gostava <strong>de</strong> ressaltar suas origens siberianas, afirmando que<br />
fora criado entre tártaros primitivos nos confins da Sibéria oriental e não falara russo até os<br />
17 anos. Em face <strong>de</strong> sua exótica e hirsuta aparência, essa história era muitas vezes aceita sem<br />
indagações.)<br />
Em 1847 a família foi atingida por uma sequência <strong>de</strong> catástrofes. O pai <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>leiev<br />
morreu e no ano seguinte a fábrica <strong>de</strong> vidro foi <strong>de</strong>struída pelo fogo. Em 1849, quando Dmitri<br />
Men<strong>de</strong>leiev tinha 15 anos, sua mãe partiu para Moscou com os dois filhos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que lhe<br />
restavam – Dmitri e Liza. Isso significou uma laboriosa jornada <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 2.000 quilômetros,<br />
envolvendo muitas vezes viajar aos solavancos em carroças puxadas por cavalos. Maria<br />
Men<strong>de</strong>leieva, agora com 57 anos, estava cansada e envelhecida <strong>de</strong>mais para sua ida<strong>de</strong>, após<br />
criar sozinha sua enorme família, dirigindo ao mesmo tempo uma fábrica e zelando pelo bemestar<br />
<strong>de</strong> seus operários. Mas estava <strong>de</strong>terminada: seu brilhante Dmitri iria receber a educação<br />
que seu talento merecia.<br />
Em Moscou a tentativa <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>leiev <strong>de</strong> ingressar na universida<strong>de</strong> esbarrou na burocracia.<br />
A admissão <strong>de</strong> alunos das províncias obe<strong>de</strong>cia a um sistema <strong>de</strong> cotas; mas ainda não fora<br />
estipulada uma cota para a província pioneira da Sibéria. Men<strong>de</strong>leiev foi recusado. Quando<br />
sua mãe tentou matriculá-lo em outras instituições <strong>de</strong> ensino superior, foi informada <strong>de</strong> que as<br />
qualificações siberianas <strong>de</strong>le simplesmente não eram reconhecidas em Moscou. Como último<br />
recurso, os Men<strong>de</strong>leiev se <strong>de</strong>slocaram mais 650 quilômetros em direção à capital, São<br />
Petersburgo.<br />
Ali a situação era praticamente a mesma: regulamentos absurdos administrados por<br />
funcionários kafkianos. Felizmente Maria <strong>de</strong>scobriu que o diretor do Instituto Pedagógico<br />
Central, principal escola <strong>de</strong> formação para professores do ensino secundário, era um velho<br />
amigo <strong>de</strong> seu marido. On<strong>de</strong> a burocracia frustrava, o favoritismo mandava. Men<strong>de</strong>leiev<br />
ganhou uma vaga para estudar matemática e ciência natural, bem como uma pequena bolsa do<br />
governo, suficiente para suprir suas necessida<strong>de</strong>s básicas.<br />
Dez semanas <strong>de</strong>pois que Men<strong>de</strong>leiev entrou no Instituto Pedagógico Central, sua mãe estava<br />
em seu leito <strong>de</strong> morte. Suas últimas palavras para o filho favorito foram tipicamente<br />
vigorosas: “Abstenha-se <strong>de</strong> ilusões, insista no trabalho e não em palavras. Busque<br />
pacientemente a verda<strong>de</strong> divina e científica.” Men<strong>de</strong>leiev nunca esqueceu essas palavras.<br />
Passados 37 anos, iria citá-las num tratado científico que <strong>de</strong>dicou à memória <strong>de</strong>la,<br />
acrescentando: “Dmitri Men<strong>de</strong>leiev consi<strong>de</strong>ra sagradas as palavras <strong>de</strong> uma mãe agonizante.”<br />
Pouco mais <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>pois da morte da mãe <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>leiev, sua irmã Liza também<br />
morreu. Um ano <strong>de</strong>pois Men<strong>de</strong>leiev sofreu uma hemorragia na garganta e foi internado no<br />
hospital do instituto. Ele nunca havia sido uma criança saudável, e agora uma tuberculose foi<br />
diagnosticada. Os médicos estimaram que só lhe sobravam alguns meses <strong>de</strong> vida.<br />
Tendo atingido esse nadir típico <strong>de</strong> Dickens, Men<strong>de</strong>leiev passou a <strong>de</strong>sempenhar o papel<br />
sentimental requerido. Passava longos períodos na cama, e parece ter sido consi<strong>de</strong>rado uma<br />
espécie <strong>de</strong> mascote pelo instituto. O órfão foi adotado pela ciência. Men<strong>de</strong>leiev se levantava<br />
<strong>de</strong> seu leito para trabalhar nos laboratórios do instituto e logo estava realizando experimentos<br />
originais. Recolhia-se ao leito para registrar seu trabalho em artigos que enviava para as