O sonho de mendeleiev
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5. TENTATIVA E ERRO<br />
Passaram-se vários anos antes que o pleno significado da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Copérnico começasse a ser<br />
compreendido; a essa altura ela estava sendo reforçada por vários escritos científicos<br />
anteriores que até então haviam sido ignorados ou basicamente esquecidos.<br />
A imagem que em geral se tem da Ida<strong>de</strong> Média como praticamente incapaz <strong>de</strong> avanço<br />
científico genuíno não é <strong>de</strong> todo exata. Como no caso da maioria das generalizações históricas<br />
indiscriminadas, houve exceções. Essa foi a época que nos <strong>de</strong>u o carrinho <strong>de</strong> mão, as obrasprimas<br />
coletivas das catedrais góticas e produziu também a primeira explicação científica do<br />
arco-íris. Esta última foi obra do monge do século XIII Dietrich von Freiberg, a cujo respeito<br />
pouco se conhece, exceto que po<strong>de</strong> ter sido aluno <strong>de</strong> Alberto Magno em Paris. Até seu nome<br />
chegou até nós numa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> versões, variando <strong>de</strong> Theodorus Teutonicus <strong>de</strong> Vriberg a<br />
simples Vribergensus – e não sabemos sequer <strong>de</strong> qual Freiberg na Alemanha se tratava. Mas<br />
não há dúvida quanto a seu De iri<strong>de</strong> (“Acerca do arco-íris”). Ali matemática e investigação<br />
científica se combinaram para produzir a primeira gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> óptica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Aristóteles.<br />
(Essa era a matéria que iria inspirar às melhores mentes dos séculos posteriores parte <strong>de</strong> seu<br />
mais excelente pensamento: Descartes e Kepler no século XVII, Newton e Kant no XVIII e<br />
Gauss, “o príncipe da matemática”, no XIX.)<br />
Numa era que não tinha praticamente nenhuma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> experimento além das esferas do<br />
cubículo do alquimista, Dietrich von Freiberg concebeu um experimento <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong> e<br />
percepção assombrosas. Como po<strong>de</strong>ria ele compreen<strong>de</strong>r o que causava um arco-íris?<br />
Estudando em <strong>de</strong>talhe cada gotinha <strong>de</strong> chuva que o formava. Mas como lhe seria possível<br />
agarrar esse elusivo pote <strong>de</strong> ouro? Estudando uma gotinha suspensa no céu com a luz do Sol<br />
batendo nela. Para fazer isso, Dietrich simplesmente encheu <strong>de</strong> água um frasco esférico <strong>de</strong><br />
vidro e acompanhou a passagem da luz difratada e refletida à medida que ela passava através<br />
do frasco para produzir o efeito <strong>de</strong> arco-íris. Por meio <strong>de</strong>sse experimento, foi capaz <strong>de</strong> propor<br />
explicações teóricas que elucidavam como o arco-íris produz suas diferentes cores, porque<br />
forma um arco, porque o arco-íris primário tem frequentemente um arco superior mais pálido<br />
e porque duas pessoas postadas lado a lado não vêm <strong>de</strong> fato o mesmo arco-íris. Esse<br />
pensamento teórico, baseado em experimento, brilha como um farol num mundo <strong>de</strong> treva<br />
científica.<br />
Um século <strong>de</strong>pois apareceu um pensador científico, filosófico e matemático cujas i<strong>de</strong>ias<br />
<strong>de</strong>veriam ter mudado o mundo, mas, por alguma razão, não o fizeram. Nicolau <strong>de</strong> Cusa estava<br />
<strong>de</strong>masiado adiante <strong>de</strong> seu tempo; suas i<strong>de</strong>ias científicas visionárias só mais tar<strong>de</strong> seriam<br />
confirmadas. E sua técnica experimental antecipou a clareza, a precisão e a atenção ao <strong>de</strong>talhe<br />
que caracterizam o laboratório <strong>de</strong> química mo<strong>de</strong>rno.<br />
Nicolau <strong>de</strong> Cusa nasceu em 1401, filho <strong>de</strong> um pescador razoavelmente próspero da<br />
Renânia. Cedo revelou uma mente excepcional, mas foi objeto da atenção pública pela<br />
primeira vez após conduzir uma investigação sobre a Doação <strong>de</strong> Constantino. Esta era um<br />
documento do século IV em que, pretensamente, o imperador Constantino transferira para o