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O sonho de mendeleiev

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Presumivelmente foi por volta <strong>de</strong>sse momento que foi até a porta do gabinete e mandou seu<br />

criado dispensar o cocheiro do trenó, dizendo-lhe para voltar a tempo para o trem da tar<strong>de</strong>.<br />

Quando o retinir das sinetas do trenó que partia <strong>de</strong>sapareceu no silêncio acolchoado pela neve<br />

do lado <strong>de</strong> fora da janela, Men<strong>de</strong>leiev começou a se concentrar no mar <strong>de</strong> cartões espalhados<br />

à sua frente sobre a mesa.<br />

Men<strong>de</strong>leiev registra num diário anterior como <strong>de</strong> vez em quando, após dar um primeiro<br />

passo rumo a uma <strong>de</strong>scoberta, ficava alvoroçado. Mais tar<strong>de</strong>, porém, se era incapaz <strong>de</strong> ir<br />

adiante <strong>de</strong>ssa intuição inicial, caía num estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão profunda, por vezes se vendo<br />

reduzido a lágrimas.<br />

Foi num estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão assim que ele foi encontrado por seu amigo Inostrantzev<br />

quando este lhe fez uma visita na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> fevereiro. Men<strong>de</strong>leiev sabia que estava no<br />

limiar <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta, mas simplesmente não conseguia agarrá-la. “Está tudo<br />

formulado na minha cabeça”, queixou-se amargamente, “mas não consigo expressá-lo.”<br />

Exausto, <strong>de</strong>scansou a cabeça <strong>de</strong>sgrenhada nas mãos.<br />

Passando por cima da filosofia dúbia implícita neste comentário, po<strong>de</strong>mos certamente sentir<br />

a frustração <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>leiev.<br />

Mais uma vez estava ficando tar<strong>de</strong>. O trem vespertino logo estaria partindo da Estação<br />

Moscou para Tver. E mais uma vez o trenó aparecera na rua lá fora, seu cocheiro curvado<br />

contra o frio à luz evanescente do início da tar<strong>de</strong>. Simplesmente não havia tempo para<br />

explorar cada abordagem possível em meio ao mar <strong>de</strong> cartões espalhado à sua frente – nenhum<br />

tempo para meditação sobre os prós e os contras <strong>de</strong> cada esquema alternativo. Era preciso<br />

agir rapidamente: adivinhar, valer-se <strong>de</strong> sua intuição, <strong>de</strong>cidir. Felizmente a intuição <strong>de</strong><br />

Men<strong>de</strong>leiev era uma <strong>de</strong> suas maiores forças.<br />

O que Men<strong>de</strong>leiev notara fora a similarida<strong>de</strong> entre os elementos e o jogo <strong>de</strong> paciência. Na<br />

paciência, as cartas tinham <strong>de</strong> ser alinhadas <strong>de</strong> acordo com o naipe e uma or<strong>de</strong>m numérica<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte:<br />

O que estava procurando em meio aos elementos parecia algo muito semelhante: um padrão<br />

que listasse os elementos <strong>de</strong> acordo com grupos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s similares (como os naipes),<br />

com os elementos <strong>de</strong> cada grupo alinhados segundo a sequência <strong>de</strong> seus pesos atômicos<br />

(fazendo eco à or<strong>de</strong>m numérica nos naipes):

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