O sonho de mendeleiev
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meticulosa investigação do comportamento e da composição dos gases. Aceitando a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
Boyle <strong>de</strong> que os gases consistem <strong>de</strong> partículas minúsculas, logo <strong>de</strong>scobriu uma proprieda<strong>de</strong><br />
fundamental dos gases, até hoje conhecida como Lei <strong>de</strong> Dalton. Esta <strong>de</strong>clara que quando dois<br />
ou mais gases são misturados, sua pressão combinada será a mesma que a soma das pressões<br />
que cada gás teria se estivesse sozinho, ocupando o mesmo volume.<br />
Apenas uma década antes, em 1788, o químico francês Louis-Joseph Proust havia<br />
<strong>de</strong>scoberto uma outra importante proprieda<strong>de</strong> dos gases, que constatou aplicar-se também a<br />
compostos <strong>de</strong> outras substâncias. Sua lei das proporções <strong>de</strong>finidas <strong>de</strong>clarava que todos os<br />
compostos consistiam <strong>de</strong> elementos em proporções <strong>de</strong>finidas e simples por peso. Em outras<br />
palavras, um composto podia ter dois elementos na proporção 3:1, mas não em proporções<br />
complexas como, digamos, 3,21:1 ou 2,8:1. Dalton viu que isso podia ser facilmente<br />
explicado se a noção <strong>de</strong> gases <strong>de</strong> Boyle fosse ampliada a toda a matéria, <strong>de</strong> modo que toda ela<br />
passasse a ser vista como consistindo, em última análise, <strong>de</strong> minúsculas partículas<br />
indivisíveis. Se as partículas <strong>de</strong> um elemento pesassem três vezes mais que as <strong>de</strong> outro, e o<br />
composto fosse formado com uma partícula <strong>de</strong> um elemento unida a uma partícula do outro, a<br />
proporção <strong>de</strong> seus pesos seria por força precisamente 3:1. Jamais po<strong>de</strong>ria ser 3,21:1 ou 2,8:1.<br />
Dalton reconheceu a similarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas partículas in<strong>de</strong>strutíveis, últimas, com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
Demócrito dos atomos “que não po<strong>de</strong>m ser cortados”, e <strong>de</strong>cidiu chamá-las átomos. Mas sua<br />
i<strong>de</strong>ia não foi simplesmente um plágio da antiga i<strong>de</strong>ia grega que fora tão miraculosamente<br />
preservada e transmitida através das obras <strong>de</strong> Epicuro, <strong>de</strong>pois Lucrécio, e finalmente através<br />
da única cópia medieval <strong>de</strong> seu De rerum natura que sobrevivera. Tampouco foi idêntica a<br />
qualquer das versões <strong>de</strong>la <strong>de</strong>correntes dos séculos XVII e XVIII – como a <strong>de</strong> Boyle –,<br />
nenhuma das quais levara a noção grega substancialmente à frente. Todas essas i<strong>de</strong>ias haviam<br />
permanecido completamente especulativas e teóricas. A noção <strong>de</strong> átomo <strong>de</strong> Dalton foi<br />
científica e prática. Foi usada para explicar os resultados experimentais que haviam levado<br />
Proust a formular sua lei das proporções <strong>de</strong>finidas. O conceito <strong>de</strong> Demócrito fora teórico. Ele<br />
postulara também o tamanho e a forma dos átomos. (Por exemplo, os átomos da água eram<br />
lisos e redondos, o que a tornava fluida e sem forma permanente.) Os átomos <strong>de</strong> Dalton, por<br />
outro lado, diziam respeito puramente a peso. Embora não tivesse nenhum meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar<br />
o tamanho real <strong>de</strong> átomos, ele <strong>de</strong>scobriu que podia <strong>de</strong>terminar os pesos relativos <strong>de</strong>les tal<br />
como ocorriam em compostos. O que Dalton formulou foi uma teoria quantitativa, que<br />
combinou o conceito original <strong>de</strong> Demócrito com a aplicação da medição quantitativa à<br />
química feita por Lavoisier.<br />
A teoria atômica <strong>de</strong> Dalton afirmava que todos os elementos consistiam <strong>de</strong> átomos<br />
minúsculos, in<strong>de</strong>strutíveis. Avançando em relação a Lavoisier, ele sustentou que todas as<br />
substâncias compostas eram simples combinações <strong>de</strong>sses átomos. Essa i<strong>de</strong>ia sensacional<br />
transformou nossa compreensão da matéria. Durante os dois séculos que se seguiriam à sua<br />
<strong>de</strong>scoberta, a ciência iria progredir além <strong>de</strong> toda imaginação. À luz <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas<br />
posteriores, a teoria <strong>de</strong> Dalton foi corrigida, mas suas premissas básicas continuam<br />
fundamentais para nossa compreensão atual da física e da química. De fato, o físico quântico<br />
do século XX Richard Feynman afirmou que se a raça humana fosse aniquilada e pu<strong>de</strong>sse<br />
transmitir uma única sentença <strong>de</strong> conhecimento científico, ela começaria com as palavras:<br />
“Todas as coisas são feitas <strong>de</strong> átomos...”<br />
Tendo estabelecido que os átomos dos diferentes elementos tinham pesos relativos uns aos