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O sonho de mendeleiev

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mostrado inconclusivos, pois prosseguem até hoje.<br />

Quase como um subproduto, alquimistas estavam <strong>de</strong>scobrindo i<strong>de</strong>ias científicas<br />

importantes. Nesse meio tempo, a própria alquimia continuava a produzir pouco mais que ouro<br />

<strong>de</strong> tolo. Como não é <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r, a arte obscura entrou nesse momento num terceiro<br />

período <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio – os anteriores tendo ocorrido no fim do Império Romano e na dissolução<br />

do Império Árabe. Mais uma vez, a alquimia foi oficialmente proibida: agora pelo papa João<br />

XXII em 1317. (Embora só o tenha feito <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar vários anos tentando ele próprio a<br />

gran<strong>de</strong> obra, tendo recebido instrução <strong>de</strong> ninguém menos que Arnoldo <strong>de</strong> Villanova. A opinião<br />

na época sobre os motivos que levaram João XXII a banir a alquimia foi dividida. Alguns<br />

disseram que o fez por <strong>de</strong>silusão, outros alegaram que foi por <strong>de</strong>speito ante a própria falta <strong>de</strong><br />

habilida<strong>de</strong>. Outros ainda afirmaram que o papa <strong>de</strong>sejava monopolizar o campo e que<br />

continuou a praticar alquimia em segredo nas masmorras do palácio papal em Avignon.<br />

Sustentaram que suas suspeitas foram provadas quando o papa João XXII morreu <strong>de</strong>ixando<br />

uma fortuna inexplicável em ouro, no valor <strong>de</strong> 18 milhões <strong>de</strong> francos. Metafísicos e<br />

contabilistas continuaram a <strong>de</strong>bater a origem <strong>de</strong>ssa vasta soma por muitos anos.)<br />

Mas a proibição papal apenas empurrou a alquimia para a clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. A arte obscura<br />

penetrara fundo na alma humana – ouro, sigilo, saber esotérico: a combinação continuou sendo<br />

uma atração infalível para os que buscavam conhecimento. Até a mais brilhante <strong>de</strong> todas as<br />

mentes medievais, o filósofo-teólogo Tomás <strong>de</strong> Aquino, interessou-se. Tendo recebido<br />

instrução <strong>de</strong> seu mestre Alberto Magno, diz-se que escreveu uma obra chamada Thesaurus<br />

alchemiae, bem como vários opúsculos similares. A autoria <strong>de</strong>ssas obras permanece<br />

controversa. No entanto, segundo o historiador da alquimia A.E. Waite, “Alguns dos termos<br />

ainda empregados por químicos mo<strong>de</strong>rnos ocorrem pela primeira vez nesses supostos escritos<br />

<strong>de</strong> Tomás <strong>de</strong> Aquino – por exemplo, a palavra amálgama, que é usada para <strong>de</strong>notar um<br />

composto <strong>de</strong> mercúrio e outro metal.” É difícil imaginar como as divagações confusas da<br />

filosofia hermética po<strong>de</strong>m ter coexistido com o rigor teológico da filosofia escolástica na<br />

mente <strong>de</strong> Aquino. Contudo, ironicamente, precisamente essas divagações iriam ter um efeito<br />

fundamental na mente europeia no que po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>nominado sua Filosofia da Vida.<br />

A melhor ilustração disso é um texto alquímico antigo conhecido como Atábua <strong>de</strong><br />

esmeralda, escrito pelo misterioso Hermes Trismegisto. Essa obra, que provavelmente foi<br />

escrita em Alexandria por volta do primeiro século d.C. e havia se tornado mais tar<strong>de</strong> central<br />

para a alquimia árabe, começou a circular na Europa em algum momento do século XV.<br />

Acredita-se que foi um dos muitos livros antigos levados para o Oci<strong>de</strong>nte por sábios gregos<br />

em fuga <strong>de</strong> Constantinopla algum tempo <strong>de</strong>pois que a capital do Império Bizantino foi tomada<br />

pelo turcos otomanos em 1453. Esse êxodo contribuiu significativamente para o<br />

reflorescimento do conhecimento clássico que ensejou o Renascimento, mas foi responsável<br />

também por muito lixo metafísico.<br />

A tábua <strong>de</strong> esmeralda contém muitos ótimos exemplos da mistificação usual. “Tudo que<br />

está embaixo é semelhante ao que está em cima, e o que está em cima é semelhante ao que está<br />

embaixo, para realizar o milagre <strong>de</strong> uma coisa.” Mas, em meio a tudo isso, contém um credo<br />

muito <strong>de</strong>finido. Segundo A tábua <strong>de</strong> esmeralda, Deus criou o homem muito mais à sua imagem<br />

do que até então se compreen<strong>de</strong>ra. Além <strong>de</strong> ser uma alma racional, o homem era também um<br />

criador. Para exercer esse po<strong>de</strong>r divino, porém, tinha primeiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir os segredos na<br />

natureza. Só era possível fazer isso torturando a natureza – sujeitando-a ao fogo, dissolvendo-

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