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O sonho de mendeleiev

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Nesse processo, produzia-se efervescência gasosa (como todos sabemos), e o calor gerado<br />

por essas reações aquecia o sangue. Sylvius reconheceu que uma “fermentação” similar<br />

ocorria quando vinagre acidífero era <strong>de</strong>rramado sobre greda alcalina: produzia-se gás e os<br />

dois finalmente se neutralizavam um ao outro. Observando atentamente essas reações, e<br />

tirando conclusões, Sylvius esten<strong>de</strong>u os limites da compreensão química. Reconheceu que<br />

muitos sais que ocorriam naturalmente resultavam da reação entre ácidos e álcalis. Sendo<br />

compostas, essas substâncias eram diferentes <strong>de</strong> substâncias químicas que não podiam ser<br />

<strong>de</strong>compostas. Mais uma vez, o experimentalismo estava procurando às apalpa<strong>de</strong>las uma<br />

distinção essencial (a distinção entre elementos e compostos como os compreen<strong>de</strong>mos hoje).<br />

O trabalho <strong>de</strong> Sylvius <strong>de</strong>u um passo adiante com seu discípulo, o obscuro boticário alemão<br />

Tachenius – que talvez tenha vivido uma vida extremamente interessante antes <strong>de</strong> sua morte em<br />

Veneza por volta <strong>de</strong> 1670. (Tudo que se sabe sobre ele são vários <strong>de</strong>talhes registrados por<br />

seus inimigos, e estes são uniformemente enfadonhos.) Tachenius convenceu-se <strong>de</strong> que seu<br />

mestre Sylvius <strong>de</strong>ixara passar um ponto vital em seu trabalho com ácidos e álcalis. Ali residia<br />

a chave <strong>de</strong> tudo! Estava convencido <strong>de</strong> que ácido e álcali eram os princípios que abarcavam<br />

todas as reações químicas. De fato, tendia a acreditar que esses eram os dois elementos<br />

básicos. Aquela era uma distinção importante, mesmo que não fosse tão fundamental quanto<br />

Tachenius sugeriu. Infelizmente, na época mostrou-se <strong>de</strong> difícil utilização como ferramenta<br />

analítica, principalmente porque não havia qualquer <strong>de</strong>finição real do que era um ácido ou um<br />

álcali. Uma substância era classificada como ácido segundo efervescesse ou não com um<br />

álcali, e vice-versa, numa <strong>de</strong>finição puramente circular.<br />

Apesar da tentativa <strong>de</strong> seu ambicioso discípulo alemão <strong>de</strong> se apo<strong>de</strong>rar <strong>de</strong> seus achados,<br />

Sylvius continuou lecionando em Ley<strong>de</strong>n, produzindo trabalho experimental e teórico <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. No entanto, era seu <strong>de</strong>stino imortalizar-se por uma brilhante impostura,<br />

quando afirmou ter inventado uma panaceia para todas as doenças do rim. Esta consistia <strong>de</strong><br />

uma solução alcoólica <strong>de</strong>stilada <strong>de</strong> cereais temperada com bagas <strong>de</strong> zimbro – que em<br />

holandês são chamadas <strong>de</strong> genever. Nossa versão abreviada disso é “gim”.<br />

A distinção ácido-álcali encerrava a chave <strong>de</strong> uma ciência da química prática. Mas Sylvius<br />

reconheceu também uma distinção adicional, que teria ramificações na química teórica e, <strong>de</strong><br />

fato, em toda a filosofia natural. Descartes concebera o corpo como sendo essencialmente um<br />

dispositivo mecânico. Agora tornou-se claro para Sylvius que ele podia ser igualmente visto<br />

como um dispositivo químico. Em <strong>de</strong>corrência do trabalho <strong>de</strong> van Helmont, Sylvius e<br />

Tachenius, a química estava começando a emergir como uma ciência distinta.<br />

Mesmo antes da morte <strong>de</strong> Helmont, cientistas haviam começado a investigar o ar. Já em 1643,<br />

o físico italiano Evangelista Torricelli conduziu um experimento <strong>de</strong>cisivo. Em palavras<br />

simples, pegou um longo tubo <strong>de</strong> ensaio <strong>de</strong> vidro e encheu-o <strong>de</strong> mercúrio. Após pôr o polegar<br />

sobre a extremida<strong>de</strong> aberta, inverteu o tubo e colocou-o num vaso também cheio <strong>de</strong> mercúrio.<br />

Constatou que o mercúrio no tubo baixou para certo nível. Este era sempre aproximadamente<br />

76cm mais alto que a superfície <strong>de</strong> mercúrio fora do tubo, que permanecia aberta para o ar.<br />

Torricelli concluiu que <strong>de</strong>via ser o peso do ar exterior que forçava o mercúrio <strong>de</strong>ntro do tubo<br />

para um nível mais alto que o do mercúrio do lado <strong>de</strong> fora. Havia <strong>de</strong>scoberto a pressão do ar.<br />

Ao longo dos dias seguintes, notou que a altura do mercúrio <strong>de</strong>ntro do tubo variava<br />

ocasionalmente num pequeno grau. Inventara o primeiro barômetro do mundo, para medir a

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