O sonho de mendeleiev
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Laboratório <strong>de</strong> Lavoisier<br />
É quase impossível avaliar a importância <strong>de</strong>sse passo. Tal linguagem torna-se até um<br />
instrumento científico por si mesma (como na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prever a presença do hidrogênio<br />
em resultado da reação entre zinco e ácido hidroclórico). Só faltava uma coisa para calçá-la –<br />
e Lavoisier a publicou dois anos <strong>de</strong>pois, em seu Tratado elementar <strong>de</strong> química. Neste ele<br />
<strong>de</strong>finiu os elementos que formariam a base <strong>de</strong>ssa nova linguagem química, embora ao mesmo<br />
tempo tivesse consciência das dificulda<strong>de</strong>s insuperáveis envolvidas.<br />
Contentar-me-ei portanto com dizer que, se pelo termo elementos preten<strong>de</strong>mos expressar as moléculas simples e indivisíveis<br />
que compõem os corpos, é provável que não saibamos nada sobre eles: mas se, ao contrário, expressamos pelo termo<br />
elementos, ou princípios dos corpos, a i<strong>de</strong>ia do último ponto alcançado pela análise, todas as substâncias que ainda não fomos<br />
capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>compor por meio algum são elementos para nós; não que possamos afirmar que esses corpos que<br />
consi<strong>de</strong>ramos simples não são eles próprios compostos <strong>de</strong> dois ou mesmo mais princípios, mas, uma vez que esses princípios<br />
não estão separados, ou antes, uma vez que não temos meios <strong>de</strong> separá-los, eles são para nós substâncias simples, e não os<br />
<strong>de</strong>vemos supor compostos até que o experimento e a observação tenham provado que o são.<br />
Essencialmente, isso não passa <strong>de</strong> um refinamento da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Boyle, feita um século<br />
antes. Mas há uma mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> significativa. Aqui está o novo pragmatismo inspirado<br />
pelos aperfeiçoamentos da técnica experimental e pela confiança nela. Lavoisier está<br />
admitindo que talvez nunca venhamos a <strong>de</strong>scobrir precisamente o que é um elemento – somos<br />
obrigados a confiar no que parece ser um elemento à luz da prática experimental. A química<br />
estava apren<strong>de</strong>ndo a admitir o que não sabia – e assim ganhando uma compreensão mais<br />
profunda do que, precisamente, sabia. Também esse foi um avanço revolucionário no método<br />
científico. Anteriormente os elementos haviam sido <strong>de</strong>finidos teoricamente. Filósofos naturais<br />
mais antigos haviam tido a certeza <strong>de</strong> conhecer precisamente o que constituía um elemento, e o<br />
que eles eram (terra, ar etc.) Essa <strong>de</strong>finição teórica confiante, porém, ultrapassava <strong>de</strong> longe<br />
qualquer capacida<strong>de</strong> prática <strong>de</strong> confirmá-la. Agora conservava-se uma <strong>de</strong>finição – mas<br />
somente como um indicador, que servia também como um saudável lembrete das ina<strong>de</strong>quações<br />
<strong>de</strong> nosso conhecimento prático real. Não era nenhuma camisa <strong>de</strong> força como o conceito dos<br />
quatro elementos. E sugeria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que tais <strong>de</strong>finições teóricas pu<strong>de</strong>ssem ser, em