Vamos Garotas! - Senac
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“Há no humor uma vocação dialética espontânea, que o leva a<br />
questionar os princípios que enrijecem as certezas que se cristalizam, as<br />
conclusões que se pretendem definitivas. O humor força a consciência a<br />
se abrir para<br />
o novo, para o inesperado, para o fluxo infinitamente rico da<br />
vida, para a inesgotabilidade do real.” 279<br />
“Na barraca das <strong>Garotas</strong>”, em 5 de novembro de 1955, exemplifica a duplicidade<br />
imputada aos engraçados textos da coluna, que, se colocados de forma mais direta, não<br />
seriam possíveis de estar em uma revista familiar da época. Nessa seção as ilustrações se<br />
encontram na praia e munidas de más intenções, atrás de uma companhia masculina: “Na<br />
barraca que se expande, com franjas ao derredor, se a hospitalidade é grande, a hospedeira<br />
é maior.” Pode-se entender nas entrelinhas, também, que a figurinha desejava estreitar as<br />
aproximações, talvez, para algo além dos olhares, uma atitude complicada para uma moça<br />
de família, que desejava manter a sua reputação.<br />
Mesmo diante da simpatia das ilustrações, os textos da coluna, aliados às imagens,<br />
não seriam sozinhos tão eficazes em disseminar a malícia na coluna, se não fosse pelo<br />
humor contido neles. Esse recurso proporcionou um desvio da seriedade dos assuntos<br />
abordados, permitindo, ao mesmo tempo, exprimir de uma forma despretensiosa idéias não<br />
tão aceitas para os padrões conservadores femininos. Aliás, essa será uma prática bastante<br />
comum entre os humoristas em geral, que irão explorar o riso para criticar realidades, sem,<br />
contudo, perder de vista a descontração: “Os humoristas quase sempre são mais graves do<br />
que possam parecer à primeira vista, sob o disfarce anedótico de uma piada.” 280<br />
Na<br />
coluna “As <strong>Garotas</strong>” uma figura feminina atípica foi difundida por meio dos<br />
textos e imagens. A relação bem-sucedida entre esses elementos, acrescida do humor,<br />
279<br />
KONDER, Leandro. Barão de Itararé: o humorista da democracia. Coleção Encanto Radical. São Paulo:<br />
Editora Brasiliense, 1983. p.65.<br />
280<br />
BARBOSA, Francisco de Assis. In: ZIRALDO. 1964-1984: 20 anos de prontidão. Rio de Janeiro:<br />
Record, 1984, p. 7.<br />
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