das relações de disciplinaridade e, em particular, de diferentes proposições e concepçõesde lnterdisciplinaridade.Criou-se, porém, um cenário de intensa confusão, com diferentes interpretações parainter, multi e transdisciplinaridade, às vezes com a criação de mitos e estereótipos queimpõem maneiras restritivas de se realizar as relações de disciplinaridade 1 . A intençãodeste texto é a de refletir sobre diferentes conceitos e compor um quadro conceitual, mesmoque limitado e provisório, que ajude a organizar o debate e as práticas pedagógicas. Valelembrar que é parte de um estudo mais amplo, ainda inconcluso (e parece que sempre vaiestar).1-1- Uma tradição disciplinarO desejo de racionalização, dos séculos XVII e XVIII, levou a uma especializaçãocrescente, com recortes e delimitações que definiram novas ciências. No século XIX, emuma nova virada, agora com duas vertentes, por um lado o ser humano passa a ser vistocomo objeto a ser estudado e investigado, promovendo o surgimento de diversas ciênciashumanas. Por outro, a ciência passou a converter seu produto em tecnologia e esta eminsumo produtivo, de forma que a corrida por novas descobertas, mais do que antiga glória,agora gera royalties (e, por extensão, remuneração). Também contribui para isto odesenvolvimento tecnológico e a ampliação dos processos de alfabetização e acesso àciência, de forma que se tem, portanto, mais pessoas pesquisando e aumentando o interessepelos saberes produzidos.O volume de saberes acumulados passou a requerer e a estimular mais e constantesespecializações, promovendo o surgimento de especialistas em temas cada vez menorese específicos, necessitando, portanto, da composição de pesquisadores de diferentes áreas,constituindo a inter, a trans, a multi, a pluri e a polidisciplinaridade.Segundo algumas estimativas, os campos específicos do conhecimento situavamseentre 25.000 e 30.000 no início da década de 1990, com publicação de mais de 70.000revistas acadêmicas (Hunt apud Hernándes & Monstserrat [1995]). A produção de saberese dados disponíveis está aumentando em proporções geométricas e potencializando-seainda mais pelas novas tecnologias da informação, que também se renovam em períodosde tempo cada vez mais reduzidos.A grade curricular definida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para oEnsino Fundamental [Brasil, 1998a] e Médio [Brasil, 1998b] está constituída a partir dasáreas do conhecimento de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciênciasda Natureza, Ensino da Arte e Educação Física. Nos anos finais do Ensino Fundamental,inclui-se a Língua Estrangeira Moderna. Já, no Ensino Médio, as áreas são as de Biologia,Física, Química, Matemática, História, Geografia, Sociologia, Antropologia, Política, LínguaPortuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Educação Física, Artes e Informática 2 .As Diretrizes Curriculares, ao definirem a organização curricular em áreas doconhecimento, fizeram uma opção disciplinar entre diversos modelos possíveis, inclusivealgumas de significativa importância implantadas em outros países e em escolas brasileiras 3 .A partir das áreas do conhecimento, definidas pelas DCNs, as escolas organizam asdisciplinas em currículos e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) apresentam asproposições de Bloco de Conteúdos para cada uma delas.A mudança mais significativa introduzida pelos PCNs foi o deslocamento dosprocessos de formação de valores e condutas do campo disciplinar 4 para um outro próprio,o dos Temas Transversais (ver, neste sentido, Cordiolli [1999], [2001a] e [2001b]). Aconcepção de transversalidade está fundada em ações pedagógicas para a mudança devalores e condutas que não podem estar restritas a atividades de “ensino” mas a processos4Este campo da formação esteve sempre locado em uma disciplina, inicialmente, foia de Instrução Moral e Cívica, depois Educação Moral e Cívica, posteriormentepara a de Ensino Religioso e, em parte, por aquelas associadas a ciências humanascomo História. Geografia, Filosofia c/ou Sociologia.21
permanentes e reincidentes. Esta concepção, entretanto, ainda não foidevidamente, compreendida uma vez que é, em geral, confundida comatividades de conteúdos ou com a transdisciplinaridade.Nas propostas curriculares e nos materiais didáticos brasileiros,Pesquisa e PráticaPedagógica <strong>IV</strong> podemos constatar que alguns conteúdos ou metodologias são incluídos semquestionamento sobre necessidade ou pertinência à turma que vai estudálos.Outras disciplinas firmaram limites rígidos, de forma a dificultar ainterconexão e intercâmbios até com temas similares de outras áreas. Há,ainda, professores formados/praticantes de modelos pedagógicos rígidos a ponto de nãose propor a mudanças ou recusando-se, simplesmente, a discutir propostas distintas dassuas.Encontramos, também, tradições corporativas, expressas em disputas por mercadosde trabalho constituídos pela oferta de disciplinas (e da extensão da respectiva carga horária),como forma de manter ou ampliar espaços de atuação dos profissionais da educação.Na Educação Superior, esta situação está agravada com a forma de contratação eorganização de professores, geralmente por departamento ou cursos responsáveis pelasofertas das disciplinas. Geralmente estes não estão articulados com as propostaspedagógicas e as formas com se organizam os saberes dos cursos a que as muitas dasdisciplinas se destinam.2-2- Áreas de referência das ciências e disciplinas escolaresAs disciplinas escolares surgiram como uma correspondência às áreas de referênciada ciência. É importante frisar que, atualmente, mesmo as disciplinas da Educação Superior,inclusive diversas das pós-graduações, já não correspondem diretamente a áreas deprodução de saberes, pois estas foram subdivididas e/ou recompostas em linhas depesquisas específicas com objetivos mais delimitados, requerendo a cooperação constanteentre pesquisadores num amplo movimento inter, trans e multidisciplinar. Somente os dadosapresentados por Hunt, citados anteriormente, expressam a dimensão e a complexidadeda produção acadêmica na atualidade. Em termos acadêmicos, podemos dizer que não hámais uma disciplina acadêmica de história, geografia, química, física, biologia etc., mascorresponde a um conjunto de subdisciplinas (como história das mulheres, do cotidiano,das mentalidades) ou em sub-áreas (como bioquímica, biofísica, físico-química etc.) quearticulam mais de uma área de referência.Na prática pedagógica, quando se enuncia um problema ou se dispõe a examinarum tema, parte-se de um ponto específico do conteúdo; no entanto, acaba-se por ter anecessidade de caminhar em direções para formar uma visão sobre os temas ou problemasestudados. As dificuldade de professores em conduzirem os seus alunos pelos campos dediferentes disciplinas acaba esbarrando em situações de isolamento e conflito. Neste sentido,diversas experiências curriculares e de organização do trabalho pedagógico vêm sedesenvolvendo com o objetivo de superar estas situações, e, como toda mudança, geramdúvidas, inseguranças e erros 5 .3-3- Uma diferenciação entre saber e conhecimentoNa literatura pedagógica, os termos “saber” e “conhecimento” vêm sendo utilizadosindistintamente; parece-me necessário, portanto, investigar o estatuto deste dois conceitos.Para isto, apresento a hipótese explicativa a seguir.225Também esbarram em radicalismos ou de mitos que àsvezes detonam conflitos que opõem partidários dasamigas e novas proposições, ou entre adeptos deconcepções diferentes para as novas questões.
- Page 2: PESQUISA EPRÁTICAPEDAGÓGICA IV1
- Page 5 and 6: Pesquisa e PráticaPedagógica IV4
- Page 7 and 8: Pesquisa e PráticaPedagógica IV6
- Page 9 and 10: Pesquisa e PráticaPedagógica IVed
- Page 12 and 13: 12345678901234567890123456789012123
- Page 14 and 15: Projeto pedagógico e formação co
- Page 16 and 17: é preciso que o sujeito tenha o co
- Page 18 and 19: temperamento, suas ansiedades diant
- Page 20 and 21: (i) construir o conhecimento;(ii) d
- Page 24 and 25: A primeira dimensão seria a do dad
- Page 26 and 27: No espaço escolar 7 e acadêmico,
- Page 28 and 29: simultânea e cooperativamente; d)
- Page 30 and 31: No período republicano, esta conce
- Page 32 and 33: cívicas, populares, em jogos espor
- Page 34 and 35: formas de ensinar a história impli
- Page 36 and 37: PRÁTICA PEDAGÓGICA NOENSINO MÉDI
- Page 38 and 39: conseguir o impossível. Porque só
- Page 40 and 41: Entende-se por tendência toda e qu
- Page 42 and 43: 12345678901234567890123456789012123
- Page 44 and 45: possibilidade de se pensar e encami
- Page 46 and 47: Em acordo com esta seqüência de c
- Page 48 and 49: tarde, concidadãos de qualquer mod
- Page 50 and 51: Se a “primeira impressão é a qu
- Page 52 and 53: vésperas do terceiro milênio, o l
- Page 54 and 55: conhecimentos e habilidades para re
- Page 56 and 57: cognitivos, afetivos, atitudinais.
- Page 58 and 59: dizer ao professor o que ele quer q
- Page 60 and 61: c)c) Uso de palavras sem sentido pr
- Page 62 and 63: Em síntese, falamos em comportamen
- Page 64 and 65: O aluno alcançou 17 pontos nas tr
- Page 66 and 67: de um ato são inteiramente imprevi
- Page 68 and 69: e princípios, os quais originam as
- Page 70 and 71: décimos a menos do estabelecido pa
- Page 72 and 73:
1-1- A partir da Lei de Diretrizes
- Page 74 and 75:
12345678901234567890123456789012123
- Page 76 and 77:
12345678901234567890123456789012123
- Page 78 and 79:
12345678901234567890123456789012123
- Page 80 and 81:
12345678901234567890123456789012123
- Page 82 and 83:
12345678901234567890123456789012123
- Page 84 and 85:
RESUMO1 INTRODUÇÃO2 CONSTATAÇÕE
- Page 86 and 87:
GlossárioAUTÕMATA - incapaz de a
- Page 88 and 89:
ReferênciasBibliográficasAQUINO,