Se a “primeira impressão é a que fica”, um exercício inicial é o posicionamento de sie dos parceiros de trabalho, com vistas a um “convite” para ingressar nas atividades futuras.Interessar-se pela história do outro, suas expectativas e trajetórias, sua apresentação enfim,é um ingrediente mínimo mas de suma importância para a largada do jogo.Conhecer e dar a conhecer cada um dos envolvidos, apostando nas possibilidadesde cada qual, constituem uma alternativa relativamente simples mas com efeitos notáveis.E isso diz respeito tanto aos professores quanto aos alunos.Entretanto, pelo fato de os educadores, bem como seus projetos de trabalho, nãoserem semelhantes, é evidente que as regras de ação não precisam ser comuns a todos osmomentos da vida escolar. Um professor de ciências não agirá como um professor deartes, e seus alunos também não, mas as exigências de cada tipo de aula devem serexplicitadas especificamente no início dos trabalhos.Assim, é possível e necessário formular “acordos” em torno do programa, docronograma das atividades, das tarefas decorrentes, das opções metodológicas, doscritérios de avaliação etc. Um capítulo específico deverá ser dedicado às regras de convívioem sala de aula, o que exigirá um posicionamento claro quanto a questões comuns deconduta, a que todos, especialmente o professor, deverão estar atentos no dia-a-dia.Exemplos disso são: respeito mútuo, escuta alheia, solidariedade e responsabilidade notrato com o outro, liberdade de pensamento e de expressão, decisões justas etc.Lições de participação ativa. Lições de democracia, pois.Entretanto, isso não significa um engajamento imediato dos alunos às propostas docontrato. É inegável que o grupo, em sua relação com o professor e o campo de conhecimentoem questão, passa por diferentes momentos.Em primeira instância, os alunos engajam-se ao jogo, mas desconhecem seusprincípios de funcionamento, não tendo clareza quanto ao que deve ou não ser feito. É aíque entra o papel modulador do contrato.O próximo passo envolve a implantação das rotinas de trabalho acordadasanteriormente. Toda a estruturação inicial dos acordos, queiramos ou não, caberá aoprofessor, uma vez que ele é o iniciado no jogo, especialista naquilo que está sendo proposto.Nesse sentido, não se pode esperar algo abstrato do tipo “responsabilidade” da parte dosalunos. Eles se disponibilizarão a pactuar com o que foi acordado se o professor mantiversua palavra, responsabilizando-se pela sua parte, assumindo seu posto enfim.A terceira etapa do processo implica, por sua vez, o engajamento efetivo às regrasde funcionamento da convivência grupal, as quais encontram-se ancoradas nas regras defuncionamento do campo de conhecimento em questão. É o ápice da intervenção institucionalescolar e ocasião da almejada autonomia tanto do professor quanto dos alunos. Trata-sedo momento em que os alunos sabem o que deve ou não ser feito - e o fazem por vontadeprópria. Ou seja, eles se apropriaram do conjunto de regras operacionais (tanto do campode conhecimento quanto das balizas de conduta), tomando-as parte de seu repertóriopessoal.Desta feita, se, por um lado, o engajamento do grupo às regras do jogo pode sercaracterizado como algo paulatino e progressivo, por outro, não se pode dizer que não hajapercalços no meio do caminho. E, talvez o item mais inquietante no que se refere àimplantação dos contratos seja a burla de suas regras constitutivas - o que pode ocorrertanto de modo aberto quanto velado.É possível notar que, por vezes, os alunos transgridem o que foi acordado previamente,em geral mais por falta de clareza das regras do que por má-fé. Essa é a primeira razãopara as burlas. Se for esse o caso, é necessário revisitar as cláusulas do contrato com oobjetivo de sondar, conjuntamente com o grupo, quais os seus pontos de obscuridade.49
Outra razão possível para as burlas é a inadequação do contrato àcapacidade concreta de apropriação por parte do grupo. Isso ocorre quandosuperestimamos o “cacife” dos alunos. Sendo assim, vale lembrar que regrasdemasiado rigorosas são contra-indicadas, porque contraproducentes. Se forPesquisa e PráticaPedagógica <strong>IV</strong> esse o caso, é hora de flexibilizá-las; é hora, portanto, de se discutirem as“exceções”. A negociação, as revisões e os ajustes são sempre bem-vindos.Ainda, outra razão pode ser atribuída às burlas. Algumas vezes, e pelosmotivos mais díspares, certos jogadores sabotam propositadamente as regrasacordadas. faz-se necessário, então, colocar em discussão a idéia de “sanção”. Portanto,devem ser acrescidas cláusulas voltadas para esse fim, que deverão entrar em vigor apenasa partir de sua decisão coletiva. Outro dado relevante é que a observância de tais cláusulasdeve ser de responsabilidade coletiva, do próprio grupo. E, sendo assim, o professor estarádesobrigado da função de “supervisão” da conduta discente; os próprios alunos o farãoreciprocamente e inclusive com ele próprio.Uma última recomendação: os contratos pedagógicos opõem-se a toda forma deexclusão, suspensão ou convite à retirada da sala de aula. Se existem, eles prestam-se aimpedir que isso continue a ocorrer nas escolas brasileiras. Sala de aula é lugar sagrado,pelo menos para todo aquele verdadeiramente envolvido com uma educação democrática.Resta apenas apostar todas as ficha nos alunos, nossos parceiros de jornada. Oresto é conseqüência. Aliás, como em todos os outros “jogos” da vida contemporânea.A DIMENSÃO ÉTICA DA AVALIAÇÃOTerezinha Azerêdo RiosA educadora e escritora Fanny Abramovich organizou um livro que tem exatamenteeste título – meu professor inesquecível - e no qual se reúnem “ensinamentos e aprendizadoscontados por alguns dos nossos melhores escritores”. O livro é da melhor qualidade - encantae emociona.O conto de Fanny se chama “Um imenso lápis vermelho”. Se é um conto sobreprofessor e tem esse título, já se pode adivinhar qual era a marca de dona Linda, a professora“inesquecida” por Fanny. Conta ela:O instrumento de trabalho favorito de dona Linda era um imenso lápisvermelho, todo-poderoso, que sublinhava erros do ditado ou da cópia,anunciava desacertos nas respostas dos questionários, riscava soluções deproblemas de aritmética, exigia repetição infinita de equívocos cometidosaté a resposta única e certa ser incorporada. (...) Seu lema: punição sempre!Na dúvida, vá ficar de castigo! Repetição de qualquer informação até sabê-Iade cor, sem hesitações nem paradas indicativas de alguma incerteza. (...) Umúnico critério e uma única regra do jogo: AQUI QUEM MANDA SOU EU, nãoimporta se com razão ou sem razão, por que ou pra que... Vale mais meuberro do que uma discussão. Vale mais meu lápis vermelho do que outro jeitode resolver o problema, mesmo que a resposta final esteja certa. Arrepiante!(ABRAMOVICH, 1997: 88/90)Arrepiante e tão conhecido de tantos de nós, que freqüentamos a escola primária namesma época, aquela “em que se dizia”, afirma Fanny, “que a escola era risonha e franca”.O pior e mais arrepiante é que ainda hoje, nas escolas modernas e “pós-modernas”, às50
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