Em síntese, falamos em comportamento ético das pessoas, pois analisamos asconseqüências de suas ações. Por isso, entendemos, também, como um possível conceitode ética o seguinte:“Ética profissional é o compromisso de respeito nas relações envolvidas naprofissão que exercemos”.Nos juramentos de formandos em quase todas as profissões aparece a expressão“prometo cumprir a ética de minha profissão”, cujo sentido nos parece claro: assumo ocompromisso de respeitar as relações inerentes à minha profissão.Para nós, professores, a avaliação da aprendizagem é um dos momentos em quepodemos definir os rumos da vida do aluno. Quantas vezes ouvimos dizer que o aluno foireprovado na 7ª ou 8ª série porque ficou com média 5,8 em determinada disciplina, quandoa média de aprovação era 6,0. Será que esses 0,2 (dois décimos de ponto) não podem tersido por falta de uma certa “ética” no momento da elaboração das questões de provas?Como podem ser terríveis as conseqüências da ação do professor, se esta não for executadacom competência e profissionalismo. E o que dizer daqueles que pensam que professorbom é aquele que reprova uma boa parte de seus alunos?Concluindo, queremos ressaltar que nossas reflexões não têm o sentido de acusaçãonem a professores e nem a alunos. Muito pelo contrário! O que buscamos é trazer à tonasituações reais do dia-a-dia da escola, que devem ser analisadas com profundo cuidado erespeito, à luz do sentido que aqui damos à expressão inicial, Avaliação da aprendizagem:uma relação ética.5,9 NÃO É 6,0 - A ÉTICA NAS RELAÇÕES ENTRE O PROFESSOR E OALUNOVasco Pedro MorettoA média mínima para aprovação é seis (6,0) e o aluno só alcançou cinco vírgula nove(5,9). “Ora”, disse-me o professor, “eu fui justo, ele mereceu 5,9 e eu dei os 5,9; era o seudireito e o meu dever e assim a justiça foi feita”. Por outro lado, o aluno reclama: “Isso é amaior injustiça, o professor me reprovou por apenas um décimo (0,1)”.Professor e aluno apelam por justiça. Que sentido cada um deles estará dando aeste conceito? À primeira vista não parece ser o mesmo. Para o professor, o justo pareceser: atribuir ao aluno o que ele obteve. Para o aluno, a justiça é associada um ato degenerosidade do docente. Por isso, apela para a “compreensão” do professor ante seuesforço e seu desenvolvimento, e, ainda, do “pouquinho” que falta para sua aprovação.As virtudes da justiça e da generosidade podem ser relacionadas com os conceitosde moral e de ética, respectivamente. Estes conceitos têm origem comum: moral, do latim,mos/moris, significando costumes; ética, do grego, ethos, que também pode significarcostumes. Em princípio, fica claro que, ao nos referirmos a estes conceitos estamos falandode algo que varia segundo as diferentes culturas e segundo as histórias dos grupos sociais.No entanto, estudos recentes procuram estabelecer uma distinção entre moral e ética.O autor Compte-Sponsville é um deles, como ressalta Yves de La Taille (2002, p.30):61
Pesquisa e PráticaPedagógica <strong>IV</strong>... entendo por moral tudo o quefazemos por dever (como em Kant), ou seja,submetendo-nos a uma norma vivida comocoação ou mandamento; e entendo porética tudo o que fazemos por desejo ou poramor (como em Spinoza), ou seja, de formaespontânea, sem nenhuma coação outraque aquela da adaptação ao real. A moralordena; a ética aconselha. A moralresponde à pergunta: ‘o que devo fazer’; aética, à pergunta: ‘como devo viver.Ou seja, a moral se relaciona com as regras, normas, direitos/deveres, isto é, procurarespostas à questão: “o que devemos fazer?”. A ética, por sua vez, relaciona-se com oquestionamento das normas, com a análise das conseqüências de nossos atos e com aqualidade de vida social que se deseja, procurando respostas à questão: “como devemosviver?”. As virtudes da justiça e da generosidade estão relacionadas diretamente às respostasa estas duas perguntas. A primeira é relacionada à moral, e a segunda à ética. Ou seja, aética engloba a moral, pois ela parte do conjunto de normas e de regras da boa convivência,mas vai além delas. Assim, a ética seria vista como a origem da moral, isto é, a primeiraresponderia à questão “que vida eu quero?” e a segunda diria “para esta vida quais serãoos direitos e os deveres correspondentes”.Levando estes conceitos para a profissão do professor, surgem questões como: 1)“Um professor pode agir de acordo com a moral, mesmo sem ser ético em sua ação?” 2)Pode-se agir com justiça, contrariando princípios éticos? 3) Abrir precedentes para atenderproblemas específicos de alguns alunos é injusto? Aprofundemos nossas reflexões sobre otema com vistas a encontrar algumas respostas às questões levantadas.1-1- O perfil de professor justoSer professor é lidar com sujeitos 1 e não apenas com indivíduos. A opção pelomagistério pode levar o professor a identificar-se com o perfil do profissional cujocomportamento tenha por base a virtude da justiça, a qual relacionada à moralidade. Nestecaso, a moral é vista como um conjunto de regras e normas que limitam os direitosindividuais em benefício da harmonia social. Então, o professor “justo” procura guiar-sepor princípios com fulcro no binômio direitos/deveres. Assim, seu discurso será do tipo:“Dou toda matéria que está noprograma e tudo o que dou cobro nasprovas, pois este é meu dever”.“Faço a chamada dentro das normas: se o alunoestá presente no início da aula, ganha apresença; mas se chegou cinco minutos depois,leva falta. Essa é a regra e eu a cumpro;ninguém tem direito de reclamar”.621Neste texto chamamos indivíduo a qualquer ser pertencente à espécie humana: homem. Conviteindividual, neste sentido, é para uma pessoa, independente de quem seja, de suas característicaspessoais ou de sua história. Chamamos sujeito ao indivíduo humano com sua história de vida. Assim,dois indivíduos podem ser considerados iguais, no sentido de qualquer um da espécie humana, masserão sempre sujeitos diferentes.
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