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Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...

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144<br />

sidade, outros universos culturais, religiosos e sociais, outras histórias e<br />

maneiras de pensar e de sentir. Numa reflexão notável, retomada em<br />

Conferência proferida na <strong>Fundação</strong> Calouste <strong>Gulbenkian</strong> no dia 27 de<br />

Outubro de 2008, Arjun Appadurai avisa-nos quanto aos riscos do diálogo,<br />

afirmando que «o diálogo é sempre uma forma de negociação que não<br />

pode basear-se nem numa compreensão mútua total nem numa espécie<br />

de consenso que seria independente das fronteiras e das diferenças»<br />

(2006, p. 26). Na leitura, o trabalho dos mediadores é essencial <strong>para</strong> facilitar<br />

o inter-conhecimento e a inter-compreensão, valorizando a palavra<br />

que permite construir uma linguagem comum no respeito pela diversidade.<br />

Concluindo…<br />

Ao longo desta intervenção procurei assinalar quatro propostas da<br />

Educação Nova que marcaram a pedagogia moderna e interrogar-me<br />

sobre a sua pertinência nos dias de hoje. Poderia ter falado de outras propostas,<br />

mas estas são bem ilustrativas da importância histórica deste<br />

movimento e, também, da necessidade de o reactualizar. A Educação<br />

Nova faz parte do património pedagógico e as suas teses estão incorporadas<br />

na matriz pedagógica dos educadores e da sociedade. Não se trata,<br />

pois, de as negar, mas sim de compreender que é urgente revê-las à luz<br />

das realidades contemporâneas. É esse o sentido da minha intervenção.<br />

A Casa da <strong>Leitura</strong> é um projecto de grande mérito, que nos ajuda a conceber<br />

a leitura como um acto de vida. <strong>Ler</strong> o mundo dia a dia, dia após dia,<br />

numa actividade sistemática feita de continuidade, na escola, nas<br />

famílias e na sociedade. <strong>Ler</strong> o mundo no dia-a-dia, no quotidiano de cada<br />

um, como uma rotina que faz parte do modo como vivemos. Nada se<br />

resolve com campanhas, programas especiais, modas ou reformas. O<br />

grande programa que nos deve mobilizar é a inscrição da leitura como<br />

um acto normal, natural, banal. A Casa da <strong>Leitura</strong>, na qual hoje nos reunimos,<br />

procura contribuir <strong>para</strong> esta «banalização» e, por isso, merece a<br />

nossa admiração. Em educação, o mais difícil é sempre o que parece mais<br />

fácil.<br />

Notas<br />

145<br />

1 Recorro aqui à expressão famosa de John Dewey, «credo pedagógico», utilizada originalmente em<br />

texto de 1897.<br />

2 Este texto é constituído pelas notas da intervenção realizada no dia 21 de Janeiro de 2009, no<br />

Congresso Internacional de Promoção da <strong>Leitura</strong>, e mantém, por isso, as marcas da oralidade.<br />

3 Todas as citações não identificadas são do prefácio de Adolphe Ferrière ao livro de A. Faria de<br />

Vasconcelos. 4<br />

4 As sociedades dispõem hoje de uma longa lista de instituições que podem participar neste espaço<br />

público da educação, sem tudo remeter <strong>para</strong> dentro da escola: centros de saúde, espaços culturais,<br />

igrejas, associações locais, centros sociais, museus, grupos desportivos, empresas, grupos artísticos,<br />

ocupação de tempos livres, centros de acolhimento e ajuda, associações de voluntariado social, etc.<br />

Referências bibliograficas<br />

Appadurai, A. (2006). «The Risks of Dialogue», in New Stakes for Intercultural Dialogue, Paris: UNESCO,<br />

pp. 33-37.<br />

Bachelard, G. (1934). Valeur Morale de la Culture Scientifique, Cracovie: Communication de Cracovie.<br />

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Kündig.<br />

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Ferrière, A. (1915). «Préface», in Une Ecole Nouvelle en Belgique, Neuchâtel: Delachaux & Niestlé, pp. 7-20.<br />

Ferrière, A. (1928). Transformemos a Escola, Paris: Livraria Francesa e Estrangeira Truchy-<strong>Ler</strong>oy.<br />

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d’Água.<br />

Godinho, V.M.G. (1984). «Prefácio», in Educação Cívica, Lisboa: Ministério da Educação, pp. 1-18.<br />

Habermas, J. (1989). The Structural Transformation of the Public Sphere, Cambridge: Polity.<br />

Labaree, D. (2000). «On the Nature of Teaching and Teacher Education – Difficult practices that look<br />

easy», in Journal of Teacher Education, vol. 51, n.º 3, pp. 228-233.<br />

Lessa, A. & Costa, A. (1945). Sua Majestade a Criança, Coimbra: Editorial Nobel.<br />

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Nóvoa, A. (2005). Evidentemente – Histórias da educação, Porto: Edições ASA.<br />

Nóvoa, A. (2009). Professores – Imagens do futuro presente, Lisboa: Educa.<br />

Paixão, P. (2000). Saudades de Nova Iorque, Lisboa: Livros Cotovia.<br />

Sérgio, A. (1984; 1915, 1.ª edição). Educação Cívica, Lisboa: Ministério da Educação.<br />

Vasconcelos, A.F. (1915). Une Ecole Nouvelle en Belgique. Neuchâtel: Delachaux & Niestlé.

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