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Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...

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150<br />

uma política de desígnio nacional e uma liderança de proximidade<br />

continuada e reconhecida. Espaços interiores definidos pelas suas<br />

múltiplas funcionalidades, dotados dos mais diversos suportes informativos,<br />

com espaços diferenciados <strong>para</strong> públicos com interesses diferentes, com<br />

acervos informativos e literários satisfatórios, local de encontro de<br />

manifestações literárias e culturais diversas e competências adaptadas<br />

aos serviços prestados, as bibliotecas públicas marcam a paisagem da<br />

leitura não obrigatória.<br />

Esta malha de edifícios acumula uma vantagem territorial e de eficácia<br />

com<strong>para</strong>tiva relativamente a outras realidades europeias: a sua cooperação<br />

muito estreita com as bibliotecas escolares. Se é certo que este relacionamento<br />

se destinou a colmatar a falta de formação em Ciências<br />

Documentais dos bibliotecários escolares, o facto é que isso estreitou e<br />

oleou as relações entre as bibliotecas públicas e a comunidade escolar e<br />

em muitos locais o trabalho em conjunto estendeu-se a outras áreas e criaram-se<br />

condições potenciais <strong>para</strong> qualificar o trabalho de parceria, na<br />

existência de um plano estratégico de promoção da leitura. Houve quem<br />

pensasse que esta mais-valia iria ser um dos eixos principais de uma futura<br />

política nacional de promoção da leitura. Infelizmente, penso que<br />

temos vindo a desperdiçar esse capital.<br />

Mas <strong>para</strong> a questão essencial que agora nos ocupa, importa sublinhar um<br />

factor da maior importância que reforça a centralidade potencial das<br />

bibliotecas públicas numa política de formação de novos públicos<br />

leitores. A biblioteca pública é a estrutura que reúne as melhores<br />

condições <strong>para</strong> desenvolver projectos de promoção da leitura junto das<br />

famílias, é a única que no limite pode ser a Casa da <strong>Leitura</strong> das famílias<br />

não leitoras. Numa dada fase do desenho do projecto fazia sentido <strong>para</strong> a<br />

coerência do mesmo, e tendo em conta as suas limitações, que a família<br />

enquanto mediadora de leitura fosse residente da Casa e integrasse os<br />

seus laboratórios, desenvolvendo aí práticas regulares e continuadas de<br />

leitura partilhada entre pais e filhos que pudessem ser divulgadas e o<br />

processo devidamente avaliado. Percorrido todo o território da leitura só<br />

encontrei nas bibliotecas públicas exemplos de projectos teoricamente<br />

sustentados, coerentemente desenvolvidos e suficientemente enraizados<br />

<strong>para</strong> decorrerem com regularidade e continuidade. E é por essa razão que<br />

são duas bibliotecas públicas, Odivelas e Beja, que integram a equipa da<br />

Casa da <strong>Leitura</strong>. A biblioteca pública é o lugar onde naturalmente<br />

acontece a leitura pela leitura e onde há condições potenciais não só <strong>para</strong><br />

que pais e filhos se encontrem, mas <strong>para</strong> que se desenvolvam projectos<br />

sustentados de leitura partilhada.<br />

Mas o contexto onde a Casa da <strong>Leitura</strong> se iria inserir, a envolvente territorial<br />

da promoção da leitura, era muito pouco homogéneo e o trabalho<br />

desenvolvido nestas duas bibliotecas estava longe de ser o espelho da rea-<br />

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lidade, uma prática corrente. Mas era o sintoma de que algo estava a<br />

mudar no terreno e que há mais mundo de aprendizagem <strong>para</strong> além da<br />

aprendizagem formal institucionalizada.<br />

Há dois exemplos que simbolizam e sintetizam a realidade próxima da<br />

promoção da leitura quando o projecto da Casa foi desenhado.<br />

A Comissão de Coordenação da Região Norte, numa iniciativa pioneira e<br />

única no país, abriu, no âmbito do anterior quadro comunitário de apoio,<br />

uma medida específica de apoio financeiro a projectos de promoção da<br />

leitura e solicitou a assessoria técnica do Instituto Português do Livro e<br />

das Bibliotecas. Uma percentagem significativa dos projectos realizados<br />

tinha muita animação e pouca leitura. Acabado o foguetório desmontou-<br />

-se a tenda e na terra não ficou uma única semente capaz de germinar. No<br />

entanto, alguns bibliotecários fizeram um percurso de aprendizagem e a<br />

noção de promoção da leitura e as competências exigidas <strong>para</strong> o desenvolvimento<br />

de um projecto foi fazendo aqui e ali o seu caminho. Em<br />

2005, cinco bibliotecas do Alto Minho elaboraram o projecto Dar Vida às<br />

Letras e solicitaram a assessoria científica de especialistas do Instituto de<br />

Estudos da Criança da Universidade do Minho. Este projecto viria a ganhar<br />

o prémio de Inovação em Promoção da <strong>Leitura</strong> da prestigiada<br />

International Reading Association.<br />

Em 2004, por iniciativa do IPLB, são desenvolvidos três projectos-piloto de<br />

promoção da leitura em parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares e<br />

envolvendo bibliotecas públicas e escolares e professores. Com uma<br />

metodologia e estratégia que se revelaram acertadas, uma formação<br />

integrada e à medida, com bibliografia e literatura seleccionada, com um<br />

acompanhamento regular e continuado da equipa que coordenou os<br />

projectos, mereceu destaque o projecto de Matosinhos que se constituiu<br />

como um projecto de boas práticas. Infelizmente, não houve disponibilidade<br />

financeira <strong>para</strong> replicar a experiência, fazer uma divulgação<br />

convenientemente e tentar provocar o chamado efeito dominó. A ideia de<br />

um Plano Nacional da <strong>Leitura</strong> já andava no ar e alguns acreditaram que<br />

se tal intenção se materializasse, essa experiência-piloto seria a referência<br />

de um dos seus eixos principais.<br />

Há duas conclusões que se podem retirar de imediato destas duas<br />

experiências, e tendo em conta o trabalho desenvolvido em Beja, Odivelas e<br />

noutras bibliotecas, que importa sublinhar: os bons resultados alcançados<br />

estão directamente relacionados com as competências dos mediadores e as<br />

competências acrescidas de investigadores e estudiosos; começa-se a formar<br />

uma massa crítica com alguma expressão capaz de desenvolver boas práticas<br />

de promoção da leitura, mas a maioria dos projectos não tem a mínima<br />

sustentabilidade teórica e assenta em práticas de resultados tendencialmente<br />

nulos no que respeita à criação de hábitos de leitura e ao<br />

desenvolvimento de novas competências leitoras do público infanto-juvenil.

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