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Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...

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um opositor de todos os nacionalismos, defende a vantagem de os superar<br />

em benefício de um ideal de humanidade universal. Reivindicou o<br />

prazer como alternativa emancipadora frente a uma modernidade asfixiada<br />

pela razão. Veremos o que é que isso poderá querer dizer na sua<br />

intervenção…<br />

Eduardo Marçal Grilo não necessita de apresentações, está em casa. Ainda<br />

assim, refiro que é doutorado em engenharia mecânica pelo Instituto<br />

Superior Técnico, foi consultor do Banco Mundial na área da educação,<br />

presidente do Conselho Nacional de Educação e ministro da Educação<br />

entre 1995-1999. É administrador da <strong>Fundação</strong> <strong>Gulbenkian</strong>. Teve um<br />

papel muito importante no Programa das Bibliotecas Escolares, no apoio<br />

às bibliotecas, nos incentivos à leitura e à formação de responsáveis por<br />

bibliotecas. Relevo também <strong>para</strong> o seu empenho nos prémios de literatura<br />

com que a <strong>Fundação</strong> estimula a escrita. Sempre um estímulo à procura<br />

de mais livros, de mais leitura.<br />

José Barata-Moura, reitor da Universidade de Lisboa entre 1998 e 2006,<br />

professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa<br />

desde 1986, professor catedrático de filosofia e presidente do conselho<br />

directivo da Faculdade de Letras em 1981-1982, foi também político, deputado<br />

no Parlamento Europeu, tem inúmeras obras publicadas,<br />

nomeadamente, sobre filosofia, de Kant a Aristóteles, Platão, Marx. É<br />

também conhecido – essa foi a primeira marca que recebi dele – por aquilo<br />

que fez em relação às palavras dedicadas às crianças, seja na música,<br />

seja também na literatura infantil. Basta recordar O Coelho Barafunda e<br />

Capitão Tão Balão.<br />

JOSÉ BARATA-MOURA*<br />

189<br />

Nesta mesa e neste congresso, está em debate a leitura, mas será que é<br />

preciso debater a leitura? Há uns que dirão que não, o que é preciso é que<br />

as pessoas sejam instruídas, <strong>para</strong> depois serem capazes de folhear os jornais.<br />

Outros, mais activistas, vão dizer que não é preciso debater a leitura,<br />

o que é preciso é promovê-la e incentivá-la de uma forma bastante<br />

activista e pragmática. Quanto a esta pergunta gostaria de colocar um<br />

ponto e que é este: não apenas debater a leitura, mas debater também os<br />

conteúdos que são lidos. Por conseguinte, se calhar, esta pergunta é também<br />

mais complexa. Debater a leitura, debater os conteúdos e, provavelmente,<br />

descobrir que os próprios textos que são lidos representam, eles<br />

mesmos, o resultado dum debate. Um debate com o mundo, um debate<br />

com os outros, um debate de cada um com os seus mundos.<br />

A segunda questão. Nas nossas sociedades escolarizadas é pacífico o<br />

entendimento de que há que pre<strong>para</strong>r as novas gerações <strong>para</strong> a vida.<br />

Também não gosto nada da expressão de que a educação é pre<strong>para</strong>ção<br />

<strong>para</strong> a vida, como se a vida fosse uma coisa que viesse depois do processo<br />

educativo. Portanto, talvez, sugerir que, em vez de agarrarmos o<br />

problema por «pre<strong>para</strong>r <strong>para</strong> a leitura», eventualmente, poderia ser<br />

interessante reflectirmos sobre «educar com a leitura», isto é, qual o<br />

papel, o lugar e a dinâmica que pode ser desencadeada e tratada à volta<br />

dessa leitura.<br />

Uma terceira questão: parece haver consenso em torno de que a leitura<br />

serve <strong>para</strong> ler o mundo. Mas aqui talvez nós pudéssemos levantar uma<br />

tripla interrogação. A leitura serve <strong>para</strong> ler o mundo, mas então a ficção<br />

faz parte do mundo? É evidente que faz parte do mundo. Há leitura sem<br />

interpretação? Porque, se calhar não chega só o saber ler, mas é preciso<br />

cuidar também do sentido e é isso que tecnicamente pode vir através de<br />

vários procedimentos hermenêutico-interpretativos. E uma terceira<br />

sub-questão bastante incómoda <strong>para</strong> certas orelhas mais sensíveis às<br />

sonoridades estridentes. E ler basta? É evidente que, se calhar, não basta<br />

ler e, se calhar, não basta interpretar. Talvez seja preciso reunir isso num<br />

projecto prático de viver em que a transformação está presente.<br />

Uma quarta pergunta. A leitura é uma das nossas funções vitais que imediatamente<br />

aparenta desdobrar-se num tabuleiro teorético, de teoria, e<br />

uma pergunta poderia ser: mas fica a leitura enclausurada nos domínios<br />

da teoria?<br />

Porque pode obrigar-se a ler, pode ler-se por obrigação mas, se calhar, a<br />

grande batalha da leitura são o estímulo e a descoberta do gosto da<br />

*Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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