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Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...

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Tal facto resulta de dois factores. Por um lado, a formação académica dos<br />

nossos mediadores especializados não os capacita <strong>para</strong> a formação de<br />

novos públicos leitores, a dos bibliotecários públicos restringe-se, no<br />

essencial, às Ciências Documentais e às Tecnologias de Informação e<br />

Comunicação, os bibliotecários escolares não têm nenhuma formação<br />

específica e a formação inicial da maioria dos professores do ensino básico<br />

não os capacita <strong>para</strong> os novos desafios que se colocam à formação de<br />

leitores competentes: Inês Sim-Sim, uma das vozes mais autorizadas no<br />

âmbito da leitura, afirmou não há muito tempo que os nossos alunos<br />

mostram cada vez maiores dificuldades em aprender a ler e os nossos professores<br />

uma incapacidade crescente em ensinar a ler, realidade reflectida,<br />

aliás, nos resultados do PISA. Por outro lado, bibliotecários públicos,<br />

promotores da leitura, formadores, estudiosos, técnicos da Admistração<br />

Pública com funções na área da leitura, encetavam um caminho de formação<br />

informal, recorriam à vasta literatura existente em Espanha,<br />

seguiam com redobrada atenção o trabalho desenvolvido pela FGSR e outras<br />

instituições internacionais. Daqui resultava um universo de mediadores<br />

de competências muito díspares, com necessidades de informação<br />

muito diferenciadas, a que a Casa da <strong>Leitura</strong> tinha que dar resposta.<br />

Desde o início que idealizei uma Casa de arquitectura sóbria e marcada<br />

por grandes superfícies de linhas rectas e angulares, que proporcionassem<br />

uma leitura imediata, racional e sem ruído. A curva livre e sensual<br />

(…) que encontro nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida, como afirma<br />

Oscar Niemeyer, a curva que transporta a ideia de afectividade, essa<br />

escondida na zona íntima dos laboratórios onde pais e filhos partilham<br />

leituras. Como afirma Cristina Taquelim, contar estórias é como dar colo.<br />

Esta opção inseria a Casa da <strong>Leitura</strong> na tipologia arquitectónica dominante<br />

dos edifícios que marcavam o território da leitura pública, leia-se<br />

da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas.<br />

Mas estas grandes superfícies exteriores não eram paredes cegas, mas<br />

pelo contrário tinham múltiplas aberturas. O contexto onde a Casa se<br />

inseria, as características da envolvente leitora, exigia um edifício que<br />

permitisse níveis de leitura diferentes sobre o mesmo objecto. A solução<br />

encontrada foi dotar as aberturas que dão acesso às centralidades do<br />

espaço interior de se<strong>para</strong>dores que possibilitassem ao utilizador do<br />

edifício leituras de nível crescente de complexidade sobre o mesmo<br />

objecto de análise, criando através de um fio condutor um contínuo de<br />

evolução analítico. Esta característica arquitectónica permitiria o acesso<br />

à informação por parte de públicos-mediadores com diferentes competências.<br />

Ainda dentro deste contexto, uma última ideia orientou o desenho da<br />

Casa. A Casa da <strong>Leitura</strong> é uma arquitectura de funcionalidades,<br />

pragmática, pretende in-formar mas também alavancar as competências<br />

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potenciais dos seus visitantes. Contextualizada e comprometida com a<br />

envolvente, a sua eficácia depende da sua capacidade em contribuir <strong>para</strong><br />

a qualificação da paisagem leitora induzindo novas funcionalidades nas<br />

instituições com responsabilidades na leitura e novas competências no<br />

universo-mediador. Visto numa outra perspectiva, terá que ser um<br />

edifício com a capacidade <strong>para</strong> influenciar a emergência de uma nova<br />

centralidade: a promoção da leitura.<br />

A metodologia organizativa das várias camadas narrativas sobre o mesmo<br />

objecto é fundamental <strong>para</strong> que as funcionalidades da Casa se tornem<br />

instrumentos capazes de promover novas competências. A capacitação dos<br />

mediadores, nomeadamente num projecto transversal, é um processo que<br />

exige que os patamares de análise sejam de complexidade gradual e não<br />

estabeleçam entre eles rupturas na arquitectura conceptual. Para melhor<br />

explicitar esta ideia, e por analogia, usarei o conceito de Zona de<br />

Desenvolvimento Proximal (ZDP) de Vygotsky, aqui aplicado, não ao<br />

desenvolvimento cognitivo das crianças, mas ao desenvolvimento das<br />

competências dos mediadores de leitura. A ZDP seria neste contexto o<br />

espaço próximo que medeia entre as competências que o mediador possui<br />

e pode desenvolver por si próprio e aquelas que só pode adquirir através<br />

da mediação de um instrumento in-formativo. Ou dito de outro modo, a<br />

Casa da <strong>Leitura</strong> foi idealizada também como um auxiliar instrumental<br />

capaz de actualizar as competências potenciais dos seus visitantes,<br />

contribuir <strong>para</strong> que alcancem a etapa subsequente de desenvolvimento<br />

das suas competências mediadoras que dificilmente alcançariam por si<br />

próprios.<br />

Uma outra preocupação que esteve sempre presente durante a fase de<br />

projecto foi acautelar a questão ambiental, tendo sempre no horizonte a<br />

construção de um edifício inteligente que não contribuísse <strong>para</strong> a difusão<br />

e divulgação de produtos tóxicos. O peso económico do segmento da<br />

produção do livro infanto-juvenil na indústria do livro é significativo. O<br />

crescimento deste segmento do mercado e a sua lógica de funcionamento<br />

geram, simultaneamente, maior diversidade na oferta de produtos de<br />

qualidade e um aumento exponencial de produtos poluentes, dando<br />

origem ao aparecimento e rápido desenvolvimento de uma espécie de<br />

literatura de pacotilha servida por uma narrativa escrita que chega a ser<br />

ofensiva <strong>para</strong> a inteligência das nossas crianças e que maltrata a língua<br />

portuguesa e por uma narrativa imagética de uma pobreza confrangedora.<br />

Como importava incorporar na sua construção critérios de qualidade que<br />

impossibilitassem narrativas superficiais.<br />

Tomemos como exemplo o espaço da literatura, o denominado S.O.L. –<br />

Serviço de Orientação à <strong>Leitura</strong> –, <strong>para</strong> termos uma ideia mais clara do<br />

que esta linha transversal do desenho da Casa significa na economia da<br />

sua estruturação.

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