Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...
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da leitura no Brasil. Espera-se, até lá, que os dados sejam melhores do que<br />
os atuais, dando ensejo a um novo ciclo de refletir, planejar, fazer,<br />
monitorar e avaliar.<br />
<strong>Ler</strong> <strong>para</strong> o outro é um ato de amor. Já ler <strong>para</strong> si próprio é, mais do que<br />
uma ação intuitiva que busca prazer, conhecimento e o desenvolvimento<br />
da própria inteligência, uma atitude de cidadania. Mesmo porque um<br />
livro, mais do que qualquer outro objeto que se conhece, vai muito além<br />
do seu significado primeiro, na medida em que contém muito mais do<br />
que meras folhas de papel coladas ou costuradas e sinais gráficos<br />
estampados. É justamente além do limite dessa simplória definição que<br />
se dá seu significado pleno e tem início a produção do valor simbólico e<br />
social da leitura.<br />
Mas, <strong>para</strong> isso, há muito a ser feito até que o Brasil venha a tornar-se, de<br />
fato, no futuro, um país de cidadãos leitores. Espera-se que disso saia algo<br />
capaz de gerar novas ações e diretrizes <strong>para</strong> aprimorar o que tem sido<br />
feito na área do livro e da leitura no Brasil.<br />
Pode parecer pouco, mas não é!<br />
A evolução que se deu na atual década – e isto pode ser confirmado pelo<br />
exame dos próprios indicadores de Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil, o mais<br />
abrangente estudo já realizado no País – se sustenta, em parte, em pelo<br />
menos dois grandes pilares. O primeiro deles reside no fato de que, no<br />
último século, do pioneiro Monteiro Lobato até aos dias atuais, uma legião<br />
de brasileiros anônimos e outros nem tanto arregaçou as mangas e se<br />
engajou como militante da causa da leitura. A segunda é que, em<br />
consequência da ampla mobilização nacional ocorrida em 2005, no Ano<br />
Ibero-americano da <strong>Leitura</strong>, que ficou conhecido como Vivaleitura, foi<br />
amplamente debatida e construída uma agenda de políticas públicas que,<br />
de certo modo, parece já estar surtindo algum efeito.<br />
O ponto de partida foi a Lei do Livro, de 2003. Em seguida, houve a<br />
desoneração fiscal do livro (o Brasil é um dos poucos países do mundo onde<br />
não é cobrado nenhum tipo de taxa sobre esse produto). Depois, programas<br />
governamentais <strong>para</strong> financiar a produção de livros e a criação de espaços<br />
institucionais de debate e concertação política, que é a Câmara Setorial do<br />
Livro. Ao mesmo tempo, teve início um programa <strong>para</strong> zerar o número de<br />
municípios sem biblioteca (eram 1.300 no início da década), que deve ser<br />
concluído em 2010. Também surgiu, em 2006, o primeiro Plano Nacional<br />
do Livro e <strong>Leitura</strong> da história, a cargo dos ministérios da Cultura e da<br />
Educação.<br />
É verdade que, no século passado, algumas medidas importantes haviam<br />
sido tomadas, como a criação do Instituto Nacional do Livro e da<br />
Secretaria Nacional do Livro e <strong>Leitura</strong>. Porém, mais tarde ambos foram<br />
desativados. Já a criação dos programas sociais do livro e, na seqüência,<br />
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, acabaria por<br />
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consagrar a conversão dessas ações em política de Estado, acima de<br />
governos e questões menores, e isso tem contribuído verdadeiramente<br />
<strong>para</strong> impulsionar a questão da leitura no País.<br />
Agora, entretanto, é preciso ir além e dar um novo salto. O primeiro passo<br />
deve ser a consolidação e o enraizamento dessas novas políticas públicas<br />
do livro e leitura nos estados e cidades, que devem passar a ter seus<br />
próprios planos estaduais e municipais do livro e leitura já a partir de<br />
2009. Isso deve representar um extraordinário avanço institucional.<br />
Outra tarefa importante se refere à criação de instrumentos de Estado<br />
capazes de financiar, gerir e articular essas políticas – que também<br />
devem passar a ser monitoradas, observadas e avaliadas de forma<br />
permanente.<br />
Como se esperava, portanto, o estudo passou a oferecer a munição<br />
necessária senão <strong>para</strong> compreender por inteiro o comportamento leitor<br />
da população brasileira, pelo menos <strong>para</strong> produzir inquietações novas. E<br />
talvez até jogar alguma luz nova sobre esforços que vêm sendo feitos até<br />
aqui por governos, empresas e sociedade.<br />
Uma coisa é certa: há muito ainda o que se fazer! E há lugar <strong>para</strong> mais<br />
gente nessa viagem. Que, diga-se de passagem, é uma adorável viagem...<br />
Tarefa <strong>para</strong> todos<br />
Já existe uma convicção formada entre os atores sociais que atuam na<br />
questão do livro e da leitura no Brasil que, <strong>para</strong> se chegar a uma situação<br />
minimamente razoável nesta área, não dá mais <strong>para</strong> esperar, candidamente,<br />
que algum ente – o Estado ou seja lá quem for – resolva de forma cabal<br />
todos os problemas existentes. Não, não será por aí – e todos estão, mais<br />
do que nunca, convencidos disso.<br />
Universidades, empresas da cadeia produtiva do livro, organizações<br />
não-governamentais e o próprio governo estão convencidos, no fundo, de que<br />
<strong>para</strong> se construir um país mais leitor, e de cidadãos leitores, o desafio<br />
maior, a partir de agora, é estabelecer, com clareza, as tarefas de cada<br />
uma das partes. Não só do Estado, que tem, evidentemente, grandes<br />
responsabilidades nessa história, mas também da iniciativa privada e da<br />
sociedade de forma geral.<br />
Não por outra razão tanto ações de abrangência nacional, ou quase<br />
nacional, como, em especial, aquelas em nível local estão se multiplicando<br />
por toda parte. No nível institucional, por exemplo, há inúmeros<br />
programas e projetos que são desenvolvidos por outros órgãos<br />
governamentais que não os ministérios da Educação e da Cultura, que são<br />
os responsáveis diretos pelas políticas públicas do livro e da leitura.<br />
O grande passo nesse sentido foi a mobilização extraordinária ocorrida<br />
em 2005 <strong>para</strong> celebrar o Ano Ibero-americano da <strong>Leitura</strong>, o Vivaleitura,<br />
quando foram registrados 100 mil ações, projetos ou programas em todo