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Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...

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território nacional. Liderados pelo governo federal – o próprio presidente<br />

Luiz Inácio Lula da Silva lançou o programa – e com forte presença de<br />

organismos internacionais como a UNESCO e a Organização dos Estados<br />

Ibero-americanos, a iniciativa foi o pontapé inicial que daria origem,<br />

mais tarde, à criação do próprio Plano Nacional do Livro e <strong>Leitura</strong>.<br />

Uma das 800 ações que compõem o Plano é, por exemplo, o próprio<br />

Prêmio Vivaleitura, que desde 2006 já identificou e catalogou 10 mil<br />

ações e projetos pelo país afora. São iniciativas de escolas, bibliotecas,<br />

organizações não-governamentais, prefeituras e grupos de voluntários<br />

que, muitas vezes sem qualquer recurso ou apoio público, estão fazendo<br />

com que os livros cheguem às mãos dos leitores, aonde eles estiverem. E,<br />

principalmente, cuidam <strong>para</strong> fazer com que eles leiam esses livros.<br />

Essas ações podem ir de desde um modesto barco-biblioteca na região<br />

amazônica, na cidade turística de Florianópolis ou nas comunidades<br />

caiçaras no litoral brasileiro até uma borracharia onde, além de prestar<br />

serviços aos donos de automóveis, ônibus e caminhões, o dono do<br />

pequeno negócio também aproveita <strong>para</strong> oferecer livros <strong>para</strong> serem lidos<br />

enquanto os clientes aguardam pelo conserto dos pneus danificados ou<br />

mesmo <strong>para</strong> os moradores da vizinhança.<br />

Entre as iniciativas que se espalham pelo Brasil, e são dezenas de<br />

milhares delas, algumas chamam muito a atenção. Tanto pela obstinação<br />

de seus empreendedores, mas, sobretudo, por criatividade e inventividade.<br />

Elas estão localizadas tanto nas pequenas cidades do interior do Brasil<br />

como nas grandes capitais, como é o caso do Rio de Janeiro, onde, por<br />

exemplo, um pedreiro que se alfabetizou já adulto resolveu compartilhar<br />

com vizinhos e desconhecidos tudo o que aprendeu e cresceu na vida<br />

graças aos livros.<br />

Ou, ainda, o caso de um pequeno comerciante de carnes de Brasília que<br />

transformou seu açougue também em um local onde fornece,<br />

gratuitamente, bens culturais como shows de artistas populares e<br />

escritores e livros. Esse mesmo comerciante instalou estantes com 500<br />

livros nas dezenas de <strong>para</strong>das de ônibus da capital do Brasil e lá, sem que<br />

haja um único funcionário <strong>para</strong> atender, cada leitor pega o livro que<br />

quiser <strong>para</strong> ler e levar <strong>para</strong> casa. Devolve em qualquer lugar da cidade, e,<br />

como não há ninguém <strong>para</strong> controlar, só se quiser fazê-lo. Mesmo assim,<br />

os índices de devolução de livros nesses locais chegam a ser superiores ao<br />

da maioria das bibliotecas públicas.<br />

Exemplos de como pequenos grupos organizados ou mesmo pessoas que<br />

fazem isso individualmente, de forma voluntária, estão ajudando a<br />

mudar a questão da leitura no Brasil se espalham cada vez mais e podem<br />

ser vistos nos mais diferentes lugares. Só muito recentemente grandes<br />

empresas privadas, bancos e órgãos do governo central e nos estados<br />

passaram a desenvolver uma política de editais, que de alguns anos <strong>para</strong><br />

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cá passaram a distribuir pequenos recursos como forma de valorizar e<br />

mesmo apoiar essas ações. Mas eles já aconteciam, antes, de alguma<br />

forma. Na década atual, ganharam visibilidade, se fortaleceram e<br />

estimularam outras pessoas a fazerem o mesmo. Isso tem sido, de certa<br />

forma, contagiante.<br />

Foi o caso, por exemplo, de um pescador do Rio São Francisco, um rio que<br />

atravessa as regiões Sudeste e Nordeste do Brasil e é o mais importante do<br />

país depois do Rio Amazonas. Ele montou um clube de leitura que<br />

funciona nas manhãs de domingo em uma feira livre nas ruas da<br />

pequena cidade do interior de Minas Gerais, um dos estados mais<br />

populosos do país. Empresta livros gratuitamente, atrai leitores que<br />

andavam distantes dos livros e virou a grande atração do local.<br />

Outro projeto bastante interessante, vencedor de prêmios nacionais, é<br />

Jegue-Livro, que também virou sensação no interior do Maranhão, na<br />

região Nordeste, a menos desenvolvida do Brasil e onde os índices de<br />

leitura são os mais baixos. Esse animal, muito parecido com o burro, tem<br />

grande valor social e econômico nas cidades mais pobres e afetadas pela<br />

miséria e pela seca em alguns lugares do país. Os donos desses animais<br />

foram convencidos a emprestá-los duas vezes por mês e as escolas de<br />

pequenos vilarejos (que não têm bibliotecas, livrarias ou quiosques de<br />

jornais e revistas) colocam os livros dentro de uma cesta que é espalhada<br />

em locais estratégicos desses povoados. Com ajuda dos alunos, fazem,<br />

assim, e com toda essa simplicidade, com que os livros cheguem às mãos<br />

dos moradores, que, em geral, não têm acesso a esses e a nenhum outro<br />

bem cultural.<br />

O projeto, também conhecido como Biblio-Jegue, tem ajudado a<br />

prefeitura local a combater a evasão escolar, as taxas de repetência e<br />

mesmo o desempenho dos estudantes nas competições nacionais de<br />

rendimento escolar.<br />

Nessa mesma linha, projetos de iniciativa popular como a Expedição<br />

Vagalume, formada por um grupo de jovens que percorre comunidades<br />

ribeirinhas na região amazônica, têm produzido modificações<br />

substanciais na qualidade do ensino das escolas públicas dos estados da<br />

região Norte, onde os índices de leitura são os mais baixos do País, e na<br />

própria vida dessas comunidades. Essas ações são apoiadas por empresas<br />

privadas e quase nunca obtém verbas públicas. Só recentemente o<br />

Ministério da Cultura criou, no atual governo, concursos e editais <strong>para</strong><br />

apoiar com algum dinheiro essas iniciativas aparentemente isoladas, mas<br />

que, quando somadas, representam um esforço de alto impacto.<br />

Já no setor privado, marcas conhecidas como a Fiat e a Volkswagen<br />

também passaram a investir, nos últimos anos, em projetos <strong>para</strong> ajudar a<br />

formar agentes de leitura. Em menos de dez anos, cresceu de forma<br />

significativa o número de empresários dispostos a atrelar a imagem de

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