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Formar Leitores para Ler o Mundo - Leitura Gulbenkian - Fundação ...

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público essencial, mas que continua a receber do Estado um tratamento<br />

típico de questão secundária. Somente um em cada dez brasileiros<br />

frequenta com assiduidade esse equipamento que, <strong>para</strong>doxalmente, é o<br />

espaço cultural mais presente na vida das 5.560 cidades do país,<br />

conforme apurou outro estudo recente, do Instituto Brasileiro de<br />

Geografia e Estatísticas (IBGE), o órgão oficial de pesquisas do governo<br />

brasileiro. As bibliotecas vivem às mínguas e em situação precária e, não<br />

raro, são publicadas notícias nos jornais dando conta do fechamento de<br />

algumas delas.<br />

A pesquisa Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil criou quatro indicadores principais,<br />

que serão investigados a cada três anos <strong>para</strong> constituir uma série<br />

histórica. Eles mostram, em linhas gerais, o seguinte:<br />

❖ Existem 95 milhões de leitores em todo o país;<br />

❖ Os não-leitores somam 77 milhões de pessoas;<br />

❖ Há 36 milhões de consumidores de livros, que compram, em média, 5<br />

exemplares por ano. Considerando toda a população, o índice de livros<br />

adquiridos é baixo: só 1,2 livros por ano;<br />

❖ O índice nacional de leitura é de 4,7 livros lidos por habitante /ano.<br />

Quando com<strong>para</strong>do ao único índice anterior disponível (1,8 livro por<br />

habitante/ano, de 2000), logo se conclui que a leitura aumentou. Mas não<br />

se pode com<strong>para</strong>r as duas pesquisas, já que a metodologia de medição<br />

mudou: agora, por exemplo, são investigados todos os moradores acima<br />

de 5 anos, sejam alfabetizados ou não. No mesmo grupo estudado<br />

anteriormente (pessoas acima de 15 anos, com pelo menos três anos de<br />

escolaridade e que haviam lido pelo menos um livro nos três meses<br />

anteriores), o número dobrou de 1,8 <strong>para</strong> 3,6 livros per capita.<br />

Vale notar que entre 2000 e 2006 o Brasil ganhou um contingente de 5<br />

milhões de indivíduos com formação universitária, o que elevou o total<br />

de habitantes com esse grau de instrução <strong>para</strong> 15 milhões. No mesmo<br />

período, agregou outros 12 milhões de jovens com instrução média<br />

concluída. Ao mesmo tempo, outros 6 milhões estavam frequentando, em<br />

2006, algum curso de alfabetização de jovens e adultos. Como<br />

escolaridade e renda estão intimamente ligados ao gosto pela leitura e<br />

sua prática habitual, talvez isso ajude a explicar esse incremento, e justo<br />

em um momento em que a economia nacional se consolidou e milhões<br />

de brasileiros ascenderam à condição de classe média.<br />

Além disso, nesta década, os programas sociais do livro (que fazem do<br />

governo brasileiro um dos maiores compradores do mundo, com 150<br />

milhões de livros distribuídos gratuitamente todos os anos) incluíram em<br />

sua lista de beneficiados mais 9 milhões de jovens do Ensino Médio e os<br />

adultos que voltaram ou entraram tardiamente na escola.<br />

Mais do que o diagnóstico, importante por si só, Retratos da <strong>Leitura</strong> no Brasil<br />

tem procurado estimular o aprofundamento das investigações sobre<br />

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outros aspectos em torno da leitura no País – mais do ponto de vista<br />

qualitativo do que o levantamento quantitativo inicial, típico das<br />

pesquisas de opinião. Um de seus méritos tem sido, justamente, gerar<br />

debates e novas linhas de pesquisa. Desde sua publicação, em 2008, na<br />

forma de livro do mesmo nome (com os dados da pesquisa acrescidos de<br />

reflexões feitas por dez importantes especialistas no tema), essas<br />

pesquisas de uma hora <strong>para</strong> outra avançaram surpreendentemente nas<br />

universidades e nos centros de pesquisa.<br />

Ao mesmo tempo, autoridades do governo e gestores de políticas públicas<br />

e privadas passaram a incluir em seus discursos, avaliações, planejamentos<br />

e decisões de novos investimentos aos dados da pesquisa. O mesmo têm<br />

feito dirigentes da cadeia produtiva do livro e novos empresários que<br />

continuam a desembarcar no Brasil <strong>para</strong> investir no negócio do livro.<br />

Em um país que carece, cronicamente, de boas estatísticas e diagnósticos<br />

precisos nessa área, a pesquisa atende, de certa forma, tanto às demandas<br />

do governo e da iniciativa privada como aos reclamos dos meios de comunicação<br />

e da própria sociedade, sempre às voltas com as dificuldades <strong>para</strong><br />

tatear nesse pantanoso terreno do desconhecido.<br />

Afinal, cada vez mais dirigentes e formadores de opinião se parecem<br />

convencidos de que não se chegará a lugar algum sem uma compreensão<br />

mais clara do momento atual. E, principalmente, se, a partir dessas novas<br />

constatações, revelações e, principalmente, das inquietações que esse tipo<br />

de estudo costuma, em geral, suscitar, não se <strong>para</strong>r <strong>para</strong> refletir,<br />

reconhecer as deficiências, apontar caminhos e, por fim, estabelecer um<br />

grande pacto nacional em favor da leitura, com responsabilidades <strong>para</strong><br />

cada uma das partes: Estado (em âmbito nacional, estadual e municipal),<br />

setor privado e sociedade.<br />

Tem sido essa, sem dúvida, a principal contribuição de Retratos da <strong>Leitura</strong><br />

no Brasil, que o Instituto Pró-Livro – entidade mantida pelas principais<br />

entidades do livro no país, que coeditou a obra, em parceria com a<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – acabou por fazer chegar às<br />

mãos das autoridades do governo, secretários de Educação e Cultura dos<br />

Estados e prefeitos. E também aos atores sociais e militantes que formam<br />

o chamado Povo do Livro, como é conhecida a legião de editores, livreiros,<br />

escritores, trabalhadores do setor, professores, bibliotecários, pesquisadores,<br />

ONGs e interessados em geral no tema.<br />

Poucas semanas após a divulgação dos primeiros dados, outros pesquisadores<br />

independentes, universidades, centros de estudos e pesquisas e<br />

promotores de feiras de livros e festivais de literatura no País já estavam no<br />

campo <strong>para</strong> se debruçarem sobre as informações e repensarem suas próprias<br />

práticas atuais. Também um grande número de seminários, debates,<br />

conferências e teses acadêmicas têm acontecido desde então e espera-se que<br />

assim continue até 2011, quando, então, serão traçados os novos retratos

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