2º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - CNPq
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<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO<br />
Delas e <strong>de</strong>les, daqueles e daquelas, contudo (não) somente eles e elas<br />
Pedro Henrique Couto Torres - CEAN – Centro Educacional Asa Norte – Brasília/DF<br />
Decifra-me ou te <strong>de</strong>voro, disse a esfinge. Devora-me e não me <strong>de</strong>cifra, digo eu. Não me<br />
aceitas porque me <strong>de</strong>senten<strong>de</strong>s.<br />
Eu <strong>de</strong>veria me ser, mas antes disso, sou tu, sou ele e sou nós. Antes <strong>de</strong> ser plena, sou<br />
pequena. Isso é ser? Não.<br />
Não há ninguém? Há, mas ninguém é. Minto, poucos são.<br />
Disseram-me que já fui <strong>de</strong>nsa, tensa e intensa. Ele é mais, e me <strong>de</strong>ixa menos, cada vez<br />
menor.<br />
Fui um dia, não sou mais, serei?<br />
Não me aceitas porque me <strong>de</strong>senten<strong>de</strong>s. Sem entendimento não há aceitação.<br />
Certas reflexões me atormentam. Mas não seria tudo um tormento? Na verda<strong>de</strong> são<br />
imposições, formas que limitam e <strong>de</strong>finem o que não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido. São preconceitos,<br />
mo<strong>de</strong>los sem vida. E essas imposições me ignoram, não por me <strong>de</strong>ixarem <strong>de</strong> lado, mas por me<br />
incluírem nisso. Eu não as ignoro, as vivencio.<br />
Eterno convívio sem compreensão. Monólogo entre dois: um que pelo ego oprime e outra<br />
que pela opressão se per<strong>de</strong>.<br />
Não existe perda por si só, os outros a fazem existir.<br />
E por ainda, aqui estou, estando e tendo. Estando nesse estado que me é e me faz do jeito<br />
que sou.<br />
Sou uma vírgula.<br />
Às vezes me tomo por <strong>de</strong>vaneios, o silêncio é o maior <strong>de</strong>les. Apesar <strong>de</strong> que o silêncio seja<br />
uma mera i<strong>de</strong>alização, as mudanças, estas sim, são o i<strong>de</strong>al, e eu sou a idéia, ou pelo menos a<br />
crio.<br />
Quem fala mais alto? Eles ou elas? É lamentável: eles falam e elas calam-se.<br />
Caladas, mas nunca em silêncio. Fomos um dia pequenas, encolhidas, mas crescemos,<br />
mudamos!<br />
Sou uma exclamação.<br />
Porque será que nem tudo é o que aparenta ser? São dúvidas cruéis. Mas não tão cruéis<br />
como a dor da indiferença, do <strong>de</strong>salento e do <strong>de</strong>srespeito. Isso é doído, me dói, <strong>de</strong>strói. Só eu<br />
sinto essa dor?<br />
Sou uma interrogação.<br />
Não me conformo com a diferença, é dor, é cruel, é ruim. Somos e pronto.<br />
Não. São assim, mas não <strong>de</strong>veriam ser. Fazem assim, mas não <strong>de</strong>veriam fazer. Pensam<br />
assim, mas não <strong>de</strong>veriam pensar <strong>de</strong> tal maneira. Não sei o que sou, ou pelo menos o que<br />
aparento ser. Contradigo-me, mas seria eu uma contradição? Não.<br />
Sou um ponto final.<br />
Mas nem todo final indica conclusão. Finalizam-se as coisas, mas nem todas elas têm um<br />
fim.<br />
A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é racional? Fico a meditar sobre isso, e não obtenho respostas. Lembrate<br />
que nem todos os questionamentos são imediatos e nem sempre as soluções possuem<br />
racionalida<strong>de</strong>.<br />
Abstraio-me <strong>de</strong>mais, mas a abstração nem sempre é uma boa forma <strong>de</strong> entendimento.<br />
Encarar-se-á as coisas por completo, como um todo, coisas totalmente inteiras e ao mesmo<br />
tempo vazias. Vazias <strong>de</strong> significado, vazias <strong>de</strong> sentimento, visto que sentimento é vital, e sem<br />
sentimento não se é humano, apesar <strong>de</strong> que nem tudo humano é bom.<br />
Um homem e uma mulher. Até quão são diferentes? Mutáveis, <strong>de</strong>sesperados, incrédulos e<br />
<strong>de</strong>sentendidos? Se são iguais, não sei. Nem sempre a igualda<strong>de</strong> vem ao caso, o importante é<br />
pra on<strong>de</strong> ela vai.<br />
Conflito <strong>de</strong>masiado problemático esse das diferenças, mas a meu ver o mais agravante<br />
é o dos gêneros, há o masculino e o feminino, simplicida<strong>de</strong> mentirosa, porém tortuosida<strong>de</strong><br />
absoluta. Admito, é ruim ser meta<strong>de</strong>. É um todo incompleto. Talvez o perdão seja um auxílio<br />
certo, mas a certeza <strong>de</strong> que haja cumplicida<strong>de</strong> e respeito é imprecisa.