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2º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - CNPq

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<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO<br />

mulheres, que gritaram o seu nome frente ao mundo, que inovaram, que revolucionaram.<br />

Portanto, carentes <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res feministas como andamos atualmente, carentes <strong>de</strong><br />

exemplos políticos honestos e valorosos, <strong>de</strong>vemos incorporar essas lí<strong>de</strong>res, suas idéias, suas<br />

motivações para, quem sabe, <strong>de</strong>ixarmos a nossa marca na História, o nosso nome, o nosso<br />

feito. E se isso não for possível, que busquemos apenas transmitir nossos i<strong>de</strong>ais, ou nosso<br />

sentimento <strong>de</strong> mudança, para que outros façam por nós o que não pu<strong>de</strong>mos fazer. E, se nem<br />

isso for possível, que eles passem essas idéias e i<strong>de</strong>ais a outros, que passem a outros, que<br />

passem a outros, que passem a outros, em um ciclo sem fim, até que todos sejamos conscientes<br />

do nosso po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformação, do nosso po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> nos tornarmos iguais, até que todos nos<br />

tornemos lí<strong>de</strong>res para nós mesmos.<br />

On<strong>de</strong> estão as mulheres negras na história e nos espaços <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r?<br />

Havine Prado Pinheiro - EEEFM Maria <strong>de</strong> Matos e Silva – RO<br />

Elas cruzaram o Atlântico em meio ao horror, foram escravas por mais <strong>de</strong> séculos e<br />

receberam, com a Lei Áurea, uma liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> papel e não a real.<br />

Apesar <strong>de</strong> tudo, as negras puseram tempero na alma do país, marcando fortemente a<br />

cultura, a música, a culinária, a língua, as refeições dos brasileiros. E também em nossa lavoura,<br />

em que ajudaram a introduzir plantas, como a mamona e o <strong>de</strong>ndê, ferramentas, como a enxada<br />

<strong>de</strong> ferro e o arado.<br />

Muitos dos seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes diretos vivem, como os primeiros escravos, até hoje ligados<br />

ao campo, em centenas <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s negras ainda pouco estudadas, embora gran<strong>de</strong> parte<br />

em extinção.<br />

A história <strong>de</strong> negra Fulô, um poema <strong>de</strong> Jorge Lima, RJ, é a mais “picante”. O poema começa<br />

anunciando a chegada <strong>de</strong> uma jovem bonita e negra. Provavelmente sua beleza, inteligência e<br />

simpatia a protegeram, tornando-a acompanhante <strong>de</strong> sua senhora e dona (Sinhá). Talvez mais<br />

tar<strong>de</strong>, grávida, ela se tornasse ama-<strong>de</strong>-leite como as outras escravas.<br />

O poema vai mais longe. Ele nos mostra aquela relação <strong>de</strong> amor e violência que começa<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa. Em primeiro lugar, o trabalho diário é humilhante (coçar, abanar, etc.) Depois a<br />

escrava é acusada <strong>de</strong> ladra (água-<strong>de</strong>-colônia era um bem muito valioso) e açoitada. Em meio à<br />

violência do açoite, ao vê-la nua, seu senhor não resiste e a possui, mesmo que ela não queira.<br />

No fim, novamente acusada <strong>de</strong> ladra, mas <strong>de</strong>ssa vez porque “roubou” o coração do senhor da<br />

sua “sinhá”!<br />

Desses tipos <strong>de</strong> relações nasceram os filhos bastardos e os mestiços; moleques que<br />

misturaram-se à família legítima do senhor dos escravos, revelando no cotidiano a beleza da<br />

mistura e a dureza da opressão. Dessas relações ambíguas – a forçada e a tolerada – entre<br />

homens brancos e mulheres negras é que a mestiçagem da socieda<strong>de</strong> brasileira ganhou nova<br />

força e se <strong>de</strong>senvolveu ainda mais.<br />

Aqui no Brasil, os africanos e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes reconstituíram suas vidas e inventaram<br />

novos sistemas <strong>de</strong> relações sociais e culturais. Algumas negras lutaram e ainda lutam para<br />

recuperar e preservar a suas origens e tradições africanas. Certamente somos capazes <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificar essas tradições africanas e afro-brasileiras presentes na comida, na dança, etc.<br />

Talvez o dado mais impressionante <strong>de</strong>ssa história seja o das misturas culturais e raciais<br />

aqui realizadas. As relações variadas da cultura negra com a branca (e em menor escala com os<br />

indígenas) <strong>de</strong>finiram o cotidiano, o modo <strong>de</strong> vida e a face <strong>de</strong> boa parte dos brasileiros.<br />

Em questão a abolição, “resumidamente”, ao serem libertados os escravos e principalmente<br />

as negras foram abandonados à própria sorte. Sua situação era extremamente difícil. Alguns<br />

continuaram trabalhando nas fazendas dos antigos senhores. Outros foram para as cida<strong>de</strong>s,<br />

on<strong>de</strong> passaram a executar as tarefas mais humil<strong>de</strong>s, aquelas que os brancos recusavam. Outros<br />

ainda, para terem o que comer, começaram a roubar e assaltar.<br />

Sem recursos, sem instrução, sem experiência profissional e vítimas da discriminação racial,<br />

os negros, as negras ocuparam sempre a posição mais baixa na socieda<strong>de</strong> brasileira, primeiro

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