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2º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - CNPq

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<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO 5<br />

Essas palavras soam como sentença para a perseguição e humilhação que as mulheres<br />

sofreram/sofrem através dos tempos. A narrativa hebraica do Gênesis reforça uma construção<br />

filosófica aristotélica, na qual a mulher não po<strong>de</strong>ria participar da vida pública por ser<br />

naturalmente “frágil” e afastada da razão.<br />

Esta narrativa mais tar<strong>de</strong>, através do cristianismo na Ida<strong>de</strong> Média e nas palavras <strong>de</strong><br />

Santo Tomás <strong>de</strong> Aquino, associa o pecado ao sexo, tornando o ato sexual como o transmissor<br />

do pecado e por conseqüência a mulher como culpada <strong>de</strong>ste. Submissa, sua existência foi<br />

reduzida à questão biológica <strong>de</strong> procriar. Muitas foram perseguidas e submetidas a cruéis<br />

torturas, simplesmente por contrariarem os mandos <strong>de</strong> uma instituição, a Igreja Católica, ou<br />

simplesmente por serem mulheres.<br />

Atualmente, muitas religiões continuam pregando, distorcendo e mal interpretando a<br />

bíblia, o que tem vitimado inúmeras mulheres. Também em religiões como o Islamismo, a<br />

interpretação <strong>de</strong> livros como o Alcorão tem levado as mulheres a tornarem-se vítimas inclusive<br />

<strong>de</strong> castigos como o uso da burca, a não participação da vida pública e, se forem acusadas <strong>de</strong><br />

adultério ou prostituição, po<strong>de</strong>rão ser apedrejadas até a morte.<br />

Tais situações levaram a <strong>de</strong>putada do partido liberal holandês a tornar-se uma obstinada<br />

pela luta contra o Islamismo. Ayaan Hirsi Ali é ex-islamita e sentiu na pele os horrores praticados<br />

contra as mulheres. Juntamente com o cineasta Theo Van Gogh, produziu o polêmico filme<br />

“submission”, no qual transmite em <strong>de</strong>z minutos chocantes cenas da realida<strong>de</strong> das mulheres<br />

islâmicas. Ao invés <strong>de</strong> reconhecimento, a <strong>de</strong>putada teve como “prêmio” o assassinato do seu<br />

companheiro Théo, por radicalistas islâmicos.<br />

Em outros países, a violência contra as mulheres não necessariamente passa pela religião.<br />

Na China, por exemplo, as mulheres são agredidas por seus companheiros publicamente, sem<br />

objeção judicial, além da rejeição das meninas por parte das famílias apoiadas por ações<br />

governamentais. Em outros países como Índia, por exemplo, milhares <strong>de</strong> mulheres sofrem<br />

com a clitoridoctomia, que consiste na <strong>de</strong>cepação do clitóris para satisfazer seus futuros<br />

companheiros, que ao rasgá-las para possuí-las sexualmente terão certeza <strong>de</strong> que suas<br />

companheiras guardaram-se para eles. Dor e sofrimento são os resultados. Na África, mulheres<br />

para respon<strong>de</strong>r a um padrão <strong>de</strong> beleza usam vários quilos <strong>de</strong> argolas a ponto <strong>de</strong> os ombros<br />

baixarem e elas terem seus pescoços alongados.<br />

Na socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal capitalista, a mulher é objeto <strong>de</strong> venda e <strong>de</strong> consumo. Nas<br />

propagandas são utilizadas para <strong>de</strong>spertar o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> consumo, através do apelo sexual.<br />

Expressões como “boa”, “gostosa” tomaram conta dos comerciais relegando a mulher<br />

enquanto objeto comestível. Produto a ser vendido, na mídia, o corpo padronizado como<br />

bonito é indispensável. Buscando respon<strong>de</strong>r a esses apelos, meninas e mulheres obcecadas<br />

pela “perfeição” física submetem-se a verda<strong>de</strong>iras torturas para respon<strong>de</strong>r aos padrões<br />

ditados. Dessa forma, as que não respon<strong>de</strong>m a esses padrões se acham inúteis, feias. Nessa<br />

ansieda<strong>de</strong> da busca pela perfeição física, a socieda<strong>de</strong> tornou-se um lugar <strong>de</strong> insatisfeitos, por<br />

que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é feita a partir <strong>de</strong> padrões estéticos, esquecendo os <strong>de</strong>mais. Reduzir a mulher<br />

a físico, é por outro lado incapacitá-la a atuar em outros segmentos, como a administração <strong>de</strong><br />

empresas, a vida pública, as <strong>de</strong>cisões da vida social.<br />

Como vimos acima, a violência contra a mulher é histórica e justificada seja através da<br />

filosofia, seja através das religiões. As mulheres apren<strong>de</strong>ram a apanhar e calar por que a lei<br />

era a da submissão. Para o “bem da família” suportavam a violência e todas as imposições.<br />

Os tempos mudaram e ela permanece como mancha vergonhosa em nossa socieda<strong>de</strong>. Embora<br />

existam meios <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar, normalmente os agressores saem ilesos, pois motivos não faltam<br />

para isso: medo, vergonha, coação. Recorrer à justiça ainda é o caminho. A impunida<strong>de</strong> não<br />

<strong>de</strong>ve ser o manto a velar a violência. No Brasil, há inúmeras tentativas e ações governamentais<br />

para acabar com essa mácula social. Além dos inúmeros abrigos para receber as mulheres<br />

violentadas, recentemente foi aprovada no Congresso Nacional a Lei Maria da Penha que<br />

con<strong>de</strong>na à prisão os acusados <strong>de</strong> violência contra a mulher. Até então os agressores eram<br />

<strong>de</strong>nunciados, julgados e normalmente submetidos a penas comunitárias, iam <strong>de</strong> ações<br />

comunitárias ao pagamento <strong>de</strong> sacolões, o que servia ainda <strong>de</strong> motivo <strong>de</strong> chacota contra as<br />

vítimas que se sentiam duplamente agredidas, pela ação sofrida e pela impunida<strong>de</strong>.

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