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2º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - CNPq

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<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO<br />

a mínima reflexão. Por exemplo: “Definição <strong>de</strong> casamento: um meio caríssimo <strong>de</strong> ter a roupa<br />

lavada <strong>de</strong> graça”, “Vote nas putas porque nos filhos não <strong>de</strong>u certo”, “As mulheres perdidas<br />

são as mais procuradas”, “O amor é livre, o sexo é pago”. Desta forma, também se manifesta<br />

a intenção comum <strong>de</strong> vulgarizar a mulher e o sexo, <strong>de</strong> aproximá-la a um animal insignificante.<br />

Cada vez mais, esse processo <strong>de</strong>srespeitoso se acentua nas artes, principalmente na música, em<br />

que ondas populares exaltam letras promiscuas e dúbias, nas quais a mulher é caracterizada<br />

como um ser fácil e lascivo, que po<strong>de</strong> ser usado e jogado fora. O insulto sexual constitui o modo<br />

mais eficiente <strong>de</strong> atingir a mulher. Palavras como puta e vadia são usadas com freqüência e<br />

têm simbologia ruim na socieda<strong>de</strong>, visto que a mulher <strong>de</strong>ve ser casta e ter um parceiro a quem<br />

<strong>de</strong>ve lealda<strong>de</strong> e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, entretanto se tentarmos atingir o homem com os masculinos <strong>de</strong>stas<br />

palavras, puto e vadio, não conseguiremos, pois a mesma socieda<strong>de</strong> as encara como bons<br />

adjetivos que são atribuídos a homens viris que têm muitas mulheres.<br />

Outro exemplo po<strong>de</strong> ser facilmente evi<strong>de</strong>nciado em campanhas publicitárias, principalmente<br />

nas quais o público alvo é o masculino, como <strong>de</strong> cervejas e relacionadas ao futebol. A imagem<br />

feminina é vendida como sexy e vulgar, estando sempre associada à seminu<strong>de</strong>z e ao prazer,<br />

exatamente como espera o consumidor. Dessa maneira, a partir da repetição feita pela mídia,<br />

linguagem, frases prontas e clichês, o que é artificial torna-se natural, inerente ao ser feminino.<br />

São atribuídas à mulher características que os homens imputam, afinal, ainda hoje, são eles<br />

que controlam o universo machista no qual estamos inseridos, sob a égi<strong>de</strong> do pseudodiscurso<br />

igualitário e <strong>de</strong>mocrático.<br />

Assim, fica evi<strong>de</strong>nte que quem <strong>de</strong>tém a palavra e o discurso tem o cetro do po<strong>de</strong>r. Os<br />

homens o tiveram por séculos, mas, paulatinamente, as mulheres conquistaram voz na socieda<strong>de</strong><br />

obrigando-os a fazer concessões e reconhecê-las como boas oradoras, discursadoras, escritoras,<br />

chefes e lí<strong>de</strong>res. Por exemplo, a Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras, uma instituição tradicionalmente<br />

masculina, após 80 anos <strong>de</strong> existência, em 977, aceitou como membro a escritora Rachel <strong>de</strong><br />

Queiroz, representando relevado avanço nas relações entre os gêneros no universo acadêmico.<br />

Como reflexo disto, nos anos <strong>de</strong> 996 e 997, a Aca<strong>de</strong>mia foi presidida por uma mulher:<br />

Nélida Piñon.<br />

Infelizmente, a maioria das mulheres é cativada pelo pensamento machista que a cerca.<br />

Des<strong>de</strong> o seu nascimento, é inserida numa estrutura familiar patriarcal, em que o pai ou o<br />

irmão domina as relações e, instintivamente, passa a transmitir esses valores. Freqüentemente<br />

escuta-se uma mãe dizer: “Quem tiver suas cabras que prenda, porque meu cabrito está solto”,<br />

referindo-se ao seu pequeno varão que terá total liberda<strong>de</strong> e será criado para o mundo, em<br />

<strong>de</strong>trimento da mocinha que <strong>de</strong>verá ser cativa, preservada e educada conforme a moral e os<br />

bons costumes.<br />

Comumente, a mulher brasileira <strong>de</strong>sconhece seu papel na socieda<strong>de</strong> e encaixa-se no<br />

estereótipo alienado em relação aos seus direitos e <strong>de</strong>starte torna-se vítima <strong>de</strong> sérias agressões,<br />

tanto psíquicas, que não são nem percebidas, quanto físicas, incluindo casos <strong>de</strong> assédio sexual,<br />

sedução, estupro e sexo forçado (<strong>de</strong>ntro do próprio casamento). Numa pesquisa realizada em<br />

00 pela Fundação Perseu Abramo, constatou-se que pelo menos um quinto das mulheres<br />

brasileiras já sofreu algum tipo <strong>de</strong> agressão e que mais da meta<strong>de</strong> não pe<strong>de</strong> ajuda e nem faz<br />

<strong>de</strong>núncias aos órgãos responsáveis pela punição <strong>de</strong>sses crimes. A mesma pesquisa registrou que<br />

os agressores estão intimamente ligados ao ambiente familiar da vítima: marido ou parceiro,<br />

ex-marido, ex-companheiro ou ex-namorado. Teoricamente, seria simples efetuar <strong>de</strong>núncias<br />

contra esses agressores, pois existem Organizações Não Governamentais que apóiam a mulher,<br />

Delegacias <strong>de</strong> Defesa da Mulher e uma legislação que a ampara em diversos aspectos, mas<br />

nem sempre as mulheres têm coragem <strong>de</strong> fazê-las, pois se sentem envergonhadas <strong>de</strong> admitir<br />

perante a socieda<strong>de</strong> machista que foram agredidas, amedrontadas <strong>de</strong> serem repreendidas pelo<br />

agressor e <strong>de</strong> relatar sua experiência aos policiais.<br />

Entretanto, não po<strong>de</strong>mos ser preconceituosos e encarar a mulher como um bicho encurralado<br />

e incapaz, agindo assim, nos encaixamos nos mol<strong>de</strong>s básicos da estrutura masculina <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

O engajamento social feminino e o conhecimento <strong>de</strong> causa vêm avultando-se, assim como a<br />

mudança <strong>de</strong> valores em relação ao casamento, divórcio, virginda<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pendência financeira,<br />

moral, violência e condições salariais e trabalhistas. Analogamente, vem crescendo a procura<br />

das mulheres por seus direitos, o que lhes proporciona maior confiança e estima, além <strong>de</strong>

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