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2º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - CNPq

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<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO 5<br />

<strong>de</strong> produtos que propiciam a obtenção <strong>de</strong> mais tempo para si, sob o lema da simplificação da<br />

vida.<br />

A escassez <strong>de</strong> tempo, com relação às mulheres, também é abordada na literatura, indo<br />

ao encontro do que vem sendo veiculado na mídia. Observa-se, assim, que o “tempo” vem<br />

se tornando uma questão na atual socieda<strong>de</strong> urbana. A autora Rosiska Oliveira, por exemplo,<br />

trabalha com tal idéia ao dizer que o dia das mulheres não cabe <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um dia (Oliveira,<br />

00 ). A autora menciona haver, por parte <strong>de</strong> mulheres, reivindicações quanto a terem tempo<br />

para dar conta <strong>de</strong> papéis como profissional, mãe, esposa, dona <strong>de</strong> casa, filha, amiga, aluna,<br />

esportista entre outros. Rosiska aponta que o tempo, ou melhor, a falta <strong>de</strong>le, tornou-se uma<br />

aflição constante, principalmente para quem é mulher, exerce uma ativida<strong>de</strong> profissional e tem<br />

filhos.<br />

Na pesquisa realizada, pu<strong>de</strong> observar que os discursos das mulheres trabalhadoras <strong>de</strong><br />

enfermagem são elaborados no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a noção <strong>de</strong> que o tempo é um bem escasso<br />

em suas vidas. Esta idéia geralmente é empregada quando técnicas ou enfermeiras relatam a<br />

forma como organizam seu cotidiano e queixam-se <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> tempo para cuidar dos filhos,<br />

para realizar ativida<strong>de</strong>s voltadas para si e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer. Por diversas vezes pu<strong>de</strong> ouvir<br />

profissionais pesquisadas relatarem que se o dia tivesse mais <strong>de</strong> horas elas conseguiriam<br />

executar tudo o que pretendiam, já que, em sua opinião, as horas do dia não são suficientes<br />

para exercer todas as suas atribuições, seja ela como mãe, profissional, dona <strong>de</strong> casa, cristã,<br />

esposa, esportista, entre outras.<br />

Desta forma, as visões <strong>de</strong>ssas profissionais sobre o tempo são pautadas na condição <strong>de</strong><br />

serem mulheres. Observa-se que, freqüentemente, quando relatam seu cotidiano, empregam<br />

pronomes em primeira pessoa do plural ou palavras que nos remetem a uma certa noção<br />

<strong>de</strong> pertencimento a um grupo, conforme observado no relato da enfermeira abaixo, on<strong>de</strong> a<br />

expressão “a gente” tem o sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificá-la a um grupo, no caso o <strong>de</strong> mulheres que<br />

exercem ativida<strong>de</strong> profissional e também <strong>de</strong>sempenham ativida<strong>de</strong>s domésticas:<br />

“...O tempo todo a gente está trabalhando, quer seja em casa ou no trabalho. Não passa o<br />

dia inteiro dormindo ou vendo televisão. A qualquer hora você está trabalhando, a não ser na<br />

hora que você está na cama dormindo ou <strong>de</strong>scansando. Do resto, está trabalhando...” (Rose<br />

– enfermeira)<br />

Esta questão com freqüência apresentada pelas entrevistadas parece ser cara ao universo<br />

feminino que, como mostra a epígrafe <strong>de</strong> Rosiska Oliveira no início do artigo, é marcada por<br />

cuidados com os outros e não consigo mesma. Observa-se entre as mulheres uma espécie <strong>de</strong><br />

priorização do tempo que reflete valores sociais <strong>de</strong> nossa cultura, on<strong>de</strong> o papel relativo ao<br />

cuidado do lar assume <strong>de</strong>staque em seu funcionamento social.<br />

O fato é que a presença cada vez maior das mulheres no mercado <strong>de</strong> trabalho não diminuiu<br />

seus encargos domésticos. Como comenta Portela ( 00 ) em relação ao estudo <strong>de</strong> Doucet<br />

( 995), qualquer que seja a técnica utilizada para “mensurar” a participação das pessoas no<br />

trabalho doméstico (avaliação do uso do tempo, questionários sobre a distribuição das tarefas<br />

domésticas, entre outras), o trabalho realizado em casa ainda pertence essencialmente à mulher.<br />

[Portela ( 00 ) apud Doucet ( 995)]. 5 Esta combinação <strong>de</strong> “trabalhos”, <strong>de</strong>nominada dupla<br />

jornada (Kergoat, 989), é comum entre aquelas que vivem em família e trabalham fora.<br />

Mesmo submetidas a várias ativida<strong>de</strong>s e obrigações, as mulheres aqui estudadas vêem<br />

a realização dos afazeres domésticos como algo necessário e do qual não abrem mão. As<br />

entrevistadas parecem sinalizar que o tempo do trabalho profissional não inviabiliza o tempo do<br />

trabalho doméstico, embora se queixem <strong>de</strong> sobrecarga por estas múltiplas funções.<br />

Ao estudar trabalhadoras noturnas <strong>de</strong> uma fábrica, Cunha ( 997) afirmou que tais mulheres<br />

viviam uma condição em que o trabalho profissional e as atribuições da casa apresentavam uma<br />

relação <strong>de</strong> interconexão. Da mesma forma, as trabalhadoras <strong>de</strong> enfermagem avaliam o trabalho<br />

doméstico como cumulativo e não tendo hora pré-<strong>de</strong>terminada para seu início nem para o seu<br />

Tal fato está presente em nosso dia-a-dia seja através <strong>de</strong> anúncios em revistas, nos comerciais televisivos <strong>de</strong><br />

eletroeletrônicos (como: microondas, internet etc.)<br />

5 Portela, L.F, Rotenberg, L. & Waissmann, W. Health, sleep and lack of time: relations to domestic and paid work<br />

in nurses. In Rev <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, vol 9, n. 5, p. 80 -8, São Paulo, 005.

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