2º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - CNPq
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<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO<br />
Parto humanizado no SUS: uma reflexão sobre direitos reprodutivos<br />
em Goiânia.<br />
Nara Moreira dos Santos 1<br />
Orientadora: Prof.a Dra. Joana A. Fernan<strong>de</strong>s 2<br />
INTRODUÇÃO<br />
Contextualização<br />
O parto humanizado é um movimento reflexivo que almeja reorganizar os procedimentos<br />
obstétricos <strong>de</strong> atendimento ao parto – motivado principalmente pelas altas taxas <strong>de</strong><br />
cesarianas e insatisfação das usuárias com o atendimento – objetivando um maior respeito às<br />
particularida<strong>de</strong>s da mulher.<br />
Esta proposta contou com o apoio do Ministério da Saú<strong>de</strong>, que recentemente implementou<br />
o Programa <strong>de</strong> Humanização na assistência ao pré-natal e nascimento, tendo como meta<br />
abranger as maternida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todo o Brasil. Suas principais diretrizes são: a) respeitar e promover<br />
os direitos humanos da mulher na gestação e no parto e, b) treinar e formar profissionais, com<br />
base em evidências científicas que norteiem as rotinas assistenciais, reorientando o uso das<br />
instalações físicas e recursos tecnológicos disponíveis.<br />
Este programa governamental procura abarcar várias <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong>, que<br />
englobam tanto usuários do sistema único <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (SUS) quanto estudiosos das áreas das<br />
ciências sociais e da saú<strong>de</strong>, que promoveram uma ampla discussão a respeito do mo<strong>de</strong>lo<br />
médico-hospitalar que se institucionalizou nas maternida<strong>de</strong>s do Brasil e do mundo todo, on<strong>de</strong><br />
a preocupação central é questionar em que medida tal mo<strong>de</strong>lo era apropriado para o parto,<br />
tendo em vista o fato do mesmo não se tratar <strong>de</strong> um processo doentio.<br />
Nas Ciências Sociais, o <strong>de</strong>bate se centralizou nas questões <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> direitos humanos<br />
às mulheres e controle institucional e social do corpo, promovidos especialmente pelos estudos<br />
sobre direitos reprodutivos e antropologia da saú<strong>de</strong>. A questão central é questionar o controle<br />
exercido sobre as mulheres e seus corpos nas maternida<strong>de</strong>s, dando visibilida<strong>de</strong> à violência<br />
física e psicológica sofridas em nome <strong>de</strong> um parto mais seguro.<br />
Quanto à área da saú<strong>de</strong>, foi focalizada a efetivida<strong>de</strong> empírica dos procedimentos realizados<br />
durante o parto, on<strong>de</strong> a preocupação central era com as questões sobre a prática médica e o<br />
papel que este profissional <strong>de</strong>ve ocupar no contexto do parto. Este <strong>de</strong>bate foi especialmente<br />
impulsionado pelos altos índices <strong>de</strong> parto cesários, além <strong>de</strong> complicações e mortalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> mulheres e crianças em <strong>de</strong>corrência dos procedimentos realizados. A partir disto, foram<br />
realizadas centenas <strong>de</strong> pesquisas por todo o mundo, que procuraram avaliar a eficácia das<br />
intervenções realizadas rotineiramente pelos obstetras durante o parto. O resultado <strong>de</strong> tais<br />
estudos culminou num documento – conhecido como recomendações da Organização Mundial<br />
da Saú<strong>de</strong> (OMS) – que classifica tais práticas em quatro categorias, divulgadas para todas as<br />
entida<strong>de</strong>s representativas <strong>de</strong> ginecologistas obstetras e enfermeiras obstetrizes por meio do<br />
Ministério da Saú<strong>de</strong>:<br />
A - condutas que são claramente úteis e que <strong>de</strong>veriam ser encorajadas.;<br />
B - condutas claramente prejudiciais ou ineficazes e que <strong>de</strong>veriam ser eliminadas;<br />
C - condutas sem evidência suficiente para apoiar uma recomendação e que <strong>de</strong>veriam ser<br />
usadas com precaução, enquanto pesquisas adicionais comprovem o assunto;<br />
D - condutas freqüentemente utilizadas <strong>de</strong> forma inapropriada.<br />
Fonte: Diniz, 00 .<br />
Estes estudos serviram <strong>de</strong> base para uma concepção <strong>de</strong> parto assistencialista, na qual a<br />
intervenção do médico só <strong>de</strong>ve ocorrer quando tiver eficácia empírica e científica comprovada,<br />
ou seja, quando trouxerem mais benefícios que a não-intervenção. Nesse novo cenário proposto,<br />
o médico passa a ser uma figura coadjuvante, sendo a mulher a responsável por fazer o parto<br />
Graduanda do curso <strong>de</strong> Ciências Sociais na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – moreirinha85@yahoo.com.br<br />
Professora Adjunta do Departamento <strong>de</strong> Ciências Sociais (UFG) – orientadora responsável pelo trabalho.