<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO 7 Ainda mais quando se vê um menino querendo brincar <strong>de</strong> boneca, ou uma menina mexendo em um carrinho... É nesse momento que eles se tornam anormais. Taxados <strong>de</strong>sse modo, muitas vezes, pelo preconceito dos próprios pais. Uns se acostumam e voltam a brincar com brinquedos “condizentes ao seu sexo” e outros insistem, estando sujeitos a serem chamados <strong>de</strong> gays, lésbicas e afins. Ou “frutinha”, “sapatão”, como se dizia no primário. Realmente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo meninos e meninas sofrem a discriminação mesmo sem ter motivos. Porque tudo o que os outros querem é discriminar porque “é divertido”, e para isso chegam a criar motivos. Uns porque são gordinhos, outros porque estudam <strong>de</strong> mais, ou porque não seguem a moda... E a pequena diferença entre carrinho e boneca se transforma em um dilema gigantesco. Um dilema que faz os meninos chegarem tar<strong>de</strong> em casa, enquanto as meninas nem sequer saíram; um dilema que faz os meninos namorarem quem quiserem, enquanto as meninas não po<strong>de</strong>m nem pensar nisso; um dilema que faz os meninos mandarem, enquanto as meninas não po<strong>de</strong>m nem reclamar... E é esse mesmo dilema que faz competentes mulheres ganharem salários mais baixos do que os homens, pelo simples fato <strong>de</strong> pertencerem ao sexo feminino. Mas esse dilema tem dois lados, aquele que faz com que as mulheres passem horas no salão, enquanto que se o homem passa trinta minutos fazendo as unhas, ele já virou “fruta”; aquele que faz com que as mulheres passem dias fazendo compras, mas que se o homem fica uma hora no provador, todos <strong>de</strong>sconfiam. Esse dilema atinge a vida das pessoas diretamente, pois quando se é criança, tudo é manifestado livremente, mesmo que seja estranho aos olhos dos outros... Quando se é adolescente é fácil se camuflar em uma turma, ou chocar a todos com seu ponto <strong>de</strong> vista. Porém, quando se chega na fase adulta, tudo é diferente. Todos têm a “obrigação” <strong>de</strong> serem responsáveis, sérios e bem sucedidos; seja no trabalho, na família, ou em um happy hour daqueles... Assim, todas as frustrações e vonta<strong>de</strong>s da infância se transformam em um jogo <strong>de</strong> aparências. O carrinho é substituído pelo carro do ano, sim! Aquele completamente impecável... As bonecas são substituídas por uma coleção <strong>de</strong> roupas, sapatos, bolsas e a mo<strong>de</strong>lo em questão, não é a Barbie, mas sim a própria criança, que agora cresceu! Tudo isso para escon<strong>de</strong>r as vonta<strong>de</strong>s mais naturais e seguir aquele mo<strong>de</strong>lo, correspon<strong>de</strong>r aos padrões impostos pela socieda<strong>de</strong>... E ai daquele que não o seguir, ainda será taxado <strong>de</strong> estranho... E sendo taxado <strong>de</strong> estranho, começa a acreditar cada vez mais nisso... Começando um outro processo, o <strong>de</strong> se escon<strong>de</strong>r da socieda<strong>de</strong>. Mas como todo ser humano, busca entre seus percalços, uma vida natural, querendo relacionar-se... e na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, a Internet é uma gran<strong>de</strong> aliada. Muitas pessoas buscam esse relacionamento, “essa tal felicida<strong>de</strong>”, passando por sérios problemas, como o <strong>de</strong> mentir sobre sua aparência, sobre sua personalida<strong>de</strong> e, em sua gran<strong>de</strong> maioria, sobre sua condição financeira... Então, o que eles conseguem são admiradores para os personagens criados, e não para si mesmos. Continuando na mesma situação, o problema aumenta, pois toda essa criação po<strong>de</strong> gerar um conflito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, que encerra um limite entre o que a pessoa realmente é e o que ela gostaria <strong>de</strong> ser... Outros ainda, se frustram <strong>de</strong> tal modo, que não se permitem mais buscar esses recursos e se afundam cada vez mais, caindo em uma <strong>de</strong>pressão. Alguns passam a vida <strong>de</strong>primidos, outros têm a vida como um gráfico <strong>de</strong> altos e baixos... Pois tudo o que quer é ser igual, semelhante, verda<strong>de</strong>iramente incluso na socieda<strong>de</strong>... E a pessoa cresce daquele jeito: criança estranha, adolescente (porque adolescente sempre é estranho), adulto estranho... E aquilo fica registrado na mente... Da fase adulta, é chegada à velhice, muitos saudáveis e bem realizados; porém, muitos manifestando suas amarguras e <strong>de</strong>cepções contidas, em forma <strong>de</strong> doenças. E o carro do ano, muitas vezes não está presente, restando apenas o andador... As bonecas se tornam enfermeiras e os papéis são invertidos: agora quem recebe os cuidados são os idosos, verda<strong>de</strong>iras crianças em espírito.
8 <strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO Muitos até voltam à infância, fazendo o uso <strong>de</strong> fraldas, o que os <strong>de</strong>primem ainda mais, e para se distrair, alguns voltam a brincar <strong>de</strong> boneca e outros <strong>de</strong> carrinho. E, se eles trocarem os papéis, talvez, não o acharão estranho, mas com certeza, o taxarão <strong>de</strong> loucos... A realida<strong>de</strong> é que a socieda<strong>de</strong> é preconceituosa <strong>de</strong> todas as formas. E o principal motivo são as convenções. Dizer que o mundo está mudando e que as coisas estão mais mo<strong>de</strong>rnas é perda <strong>de</strong> tempo; porque um homem po<strong>de</strong> até usar uma camisa rosa e a mulher uma calça azul porque está na moda. Mas tenha a total certeza <strong>de</strong> que se eles tiverem um filho, se for menino usará azul e se for menina usará rosa. E por mais que a humanida<strong>de</strong> se mo<strong>de</strong>rnize, as diferenças entre carrinho e boneca sempre existirão.