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2º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero - CNPq

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<strong>2º</strong> PRÊMIO CONSTRUINDO A IGUALDADE DE GÊNERO<br />

possível trilhar o mesmo terreno, as mesmas adversida<strong>de</strong>s e enfrentar as mesmas dificulda<strong>de</strong>s<br />

na busca do conhecimento. Não que nossos mestres façam isso <strong>de</strong> uma forma intencional, mas<br />

compreen<strong>de</strong>mos que eles queiram nos proteger, cuidar do sexo frágil, zelar por nossa doçura,<br />

ternura e meiguice, assim como sempre fora a orientação <strong>de</strong>sta socieda<strong>de</strong> extremamente<br />

machista. Tem que ser nos dado o direito <strong>de</strong> nos estressarmos, sairmos dos “trilhos”, nos<br />

<strong>de</strong>sequilibrarmos, errarmos, pois tudo isso é imprescindível para uma boa aprendizagem.<br />

O mesmo tratamento dispensado a nós na escola, por alguns na verda<strong>de</strong>, também recebemos<br />

em nossa casa, junto aos nossos pais, quando, por exemplo, nosso irmão é sempre encarregado<br />

das tarefas mais <strong>de</strong>safiadoras, como tomar conta do comércio, passar troco, realizar operações<br />

para compreen<strong>de</strong>r questões <strong>de</strong> custos e lucros, ajudar nosso pai quando do conserto da moto<br />

ou mesmo acompanhá-lo no fechamento <strong>de</strong> um negócio. Quanto a nós é reservada a tarefa<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, com bonecas e utensílios domésticos, as lições sobre a maternida<strong>de</strong>, como cuidar<br />

da casa e do marido, como ser recatada, apren<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo a sufocar paixões, <strong>de</strong>sejos e<br />

intenções. O menino, e aqui nos referimos a nossa realida<strong>de</strong>, é sempre ouvido primeiro e suas<br />

opiniões quase sempre consi<strong>de</strong>radas, enquanto que as meninas temem muito mais falar, refletir,<br />

em fim, errar, pois os castigos e as repreensões sempre foram uma constante. Veja o exemplo<br />

dos nossos presentes: bonecas, panelas, tachos e fogões e os meninos recebem carrinhos,<br />

armas, soldados e tanques <strong>de</strong> guerra, apren<strong>de</strong>ndo sobre a mecânica, física, estratégias <strong>de</strong><br />

guerra e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, <strong>de</strong>spertando o seu imaginário para os gran<strong>de</strong>s projetos <strong>de</strong> vida. Eles<br />

ganham bicicletas e nós perfumes e maquiagem, para ficarmos bonitas e cheirosas. Na igreja<br />

nos é ensinado que foi Eva que tentou Adão e assim foram expulsos do Paraíso, colocando<br />

na mulher todo o aspecto maléfico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o “início” da civilização, mostrando que <strong>de</strong>vemos<br />

sufocar esta “tentação/maldição” que sempre nos acompanhará. A mulher <strong>de</strong>ve falar menos,<br />

cobrir suas partes, ser submissa ao marido e estar atenta ao que a socieda<strong>de</strong> pensa a seu<br />

respeito, cuidar da casa e dos filhos, perpetuando uma situação <strong>de</strong> exclusão cultural do nosso<br />

gênero. Mas se antes acreditávamos plenamente nas versões fantasiosas da nossa igreja, hoje<br />

fazemos nossas próprias reflexões e estamos conscientes <strong>de</strong> que Deus nos fez igual, com<br />

as mesmas potencialida<strong>de</strong>s, pois assim consi<strong>de</strong>ro, porém o homem, temendo toda a força,<br />

<strong>de</strong>terminação e perspicácia da mulher, fez e faz o possível para sermos criadas, educadas e<br />

orientadas <strong>de</strong> formas diferentes.<br />

Mesmo conscientes do que somos e até on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos chegar, também ficamos intrigadas<br />

sobre o porquê dos indicadores <strong>de</strong> sistema da educação básica, tanto em nível nacional (SAEB)<br />

quanto estadual (SPAECE), apontarem os meninos com <strong>de</strong>sempenho melhor em matemática<br />

do que as meninas. Mas acreditamos que não precisamos ser nem profundos estudiosos, nem<br />

gran<strong>de</strong>s pesquisadores para compreen<strong>de</strong>rmos que tudo parte da questão econômica, ou seja,<br />

toda explicação está no nível sócio-econômico. E é claro que não temos como comprovar<br />

tudo o que dizemos, a não ser consi<strong>de</strong>rando nossa própria experiência <strong>de</strong> vida e também<br />

aceitando como verda<strong>de</strong>ira a pesquisa <strong>de</strong> Márcia Andra<strong>de</strong>, Creso Franco e João Pitombeira <strong>de</strong><br />

Carvalho, da PUC-RJ (Folha on-line <strong>de</strong> 5/09/ 006 – Último Reduto Masculino), que busca<br />

as razões que nos levam a ter uma das maiores diferenças do mundo em matemática, com<br />

relação ao <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> meninas e meninos: “A pesquisa comparou estudantes <strong>de</strong> mesmo<br />

nível socioeconômico e que estavam na mesma escola. Os dados mostraram que a distância<br />

entre eles e elas diminuiu, mas, ainda assim, meninos se saíam melhor. O segundo passo<br />

foi separar escolas que aten<strong>de</strong>m crianças <strong>de</strong> baixo po<strong>de</strong>r aquisitivo das que os alunos têm<br />

nível socioeconômico mais alto. A partir daí, constatou-se que, nas escolas on<strong>de</strong> estudam os<br />

mais pobres, a diferença persistia. No entanto, nas escolas para alunos <strong>de</strong> renda mais alta, a<br />

diferença se torna <strong>de</strong>sprezível, com meninos e meninas tendo quase o mesmo <strong>de</strong>sempenho.”<br />

Portanto, diante <strong>de</strong> todo o exposto, po<strong>de</strong>mos afirmar com total convicção que não precisamos<br />

ser peritos, estudiosos e filósofos para compreen<strong>de</strong>rmos uma situação por nós vivenciadas há<br />

tempos, pois enquanto as famílias <strong>de</strong> classe média incentivam e apóiam as meninas quanto<br />

aos seus <strong>de</strong>safios e projetos maiores <strong>de</strong> vida, garantindo os recursos materiais, pedagógicos<br />

e psicológicos para um bom <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas habilida<strong>de</strong>s, e aqui temos que incluir<br />

a disponibilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, dos brinquedos educativos, dos computadores, dos livros, das<br />

revistas e jornais e do próprio diferencial na mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes pais, que as ajudam no seu

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